Site icon DeFato Online

A bíblia e a depressão

depressão

Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, como bem nos informou meu colega colunista Arthur Kelles em seu brilhante texto.

Diante do proposto nessa campanha, sinto-me impelido a trazer uma contribuição acerca do tema, uma vez que qualquer pessoa que tenha pensamentos flutuantes de suicídio enfrenta fortes crises de depressão.

É difícil compreender que pessoas que durante toda a vida foram muito alegres, comunicativas, enfrentavam e venciam todos os obstáculos que lhes apareciam pelo caminho, de repente se veem mergulhadas num profundo e inexplicável estado de depressão. A vida perde o sentido, o gosto e a graça e o pior, às vezes, nem se sabe o verdadeiro motivo de sentir-se tão infeliz.

De súbito passa-se a sentir medo de tudo e de todos, uma angústia muito grande toma conta, um profundo aperto no peito, uma vontade constante de chorar, abandona-se as atividades que antes eram prazerosas e um desejo terrível de desistir da vida lhes assalta, a culpa rouba a paz… é mais ou menos assim que se sente uma pessoa ao cair em depressão.

As pesquisas demonstram que a depressão é um dos males psicológicos mais frequentes, mais falados e mais temidos, são inumeráveis as suas causas e nenhum ser humano está imune, independente de classe social ou religião. Alguns personagens bíblicos, inclusive, os quais temos na mais alta conta, como Moisés, Jeremias, Paulo e outros, experimentaram as profundezas da depressão.

Davi escreveu alguns dos seus salmos mais belos quando estava deprimido, desanimado da vida, “curtindo uma fossa”. Por tanto, negar a possibilidade de que uma pessoa que acredita em Deus entre em depressão, além de ser antibíblico, acrescenta à doença um forte senso de culpa, agravando o problema.

Elias, um dos personagens bíblicos de maior estatura espiritual enfrentou a depressão. Ele pensava conhecer plenamente os motivos do seu estado de profundo abatimento. Ele remoía tudo constantemente no seu íntimo. Sentia-se perseguido, ameaçado, sozinho e atribulado. Era um lutador, mas chegara a um ponto em que as forças se esvaíram e ele perdeu a vontade de lutar. Ao ser jurado de morte por Jezabel, a idólatra e cruel rainha israelita, Elias fugiu para salvar a vida. Mas, curiosamente, pretendia desistir dela. Deitado à sombra de um arbusto, ele pediu para si a morte (v.4).

Antes havia rejeitado a companhia do seu moço, o aprendiz de profeta que o acompanhava (v.3). É bastante comum o deprimido procurar a solidão, mesmo que esteja assim por sentir-se solitário! Também foi necessária a insistência de um anjo para fazê-lo comer (v.5-7). A perda de apetite faz parte do procedimento autodestrutivo do deprimido, embora saiba que isso dificultará ainda mais a sua recuperação. O anjo precisou insistir também para que Elias despertasse. Outro fator constantemente associado à depressão são os distúrbios do sono. Algumas pessoas o perdem, enquanto outras não conseguem parar de dormir. Em relação a alimentação o mesmo acontece, há quem não sente fome e há quem não consegue parar de comer.

Elias fugiu para não morrer e pediu a morte. Reclamava da solidão e preferia ficar sozinho. Achava-se fraco e não queria comer. A depressão é um quadro emocional marcado por sentimentos paradoxais, por atitudes aparentemente antagônicas que resistem a uma explicação racional, tornando frustrante a investigação de suas causas. Elias tinha motivos para estar deprimido. E tinha-os na ponta da língua: “Tenho sido muito zeloso na causa do Senhor, em paga sou perseguido e ameaçado, sinto-me sozinho e abandonado”, etc.

Se procurarmos justificativas para o nosso desânimo e tristeza, sempre as encontraremos, até de sobra. Somos muito bons nisso! Deus, porém, encara tais situações de forma diferente, ele as vê como oportunidades de crescimento, como chances de manifestar o Seu poder, de compartilhar conosco Suas vitórias. As tribulações não são necessariamente algo mau. Os grandes vultos da história da humanidade tiveram de enfrentar obstáculos enormes, e justamente por isso foram grandes.

Deus não se deixou levar pelas razões apresentadas por Elias. Percebeu suas contradições. O profeta estava sentindo pena de si mesmo, e o Senhor recusou-se a “passar a mão” sobre a cabeça dele. Nunca podemos contar com Deus para sustentar uma atitude de auto piedade. Diferente do que se imagina isso não é falta de amor ou atitude de quem não se importa, pelo contrário. Deus iniciou um diálogo restaurador com Elias: “O que fazes aqui?” (v.9,13) – Em outras palavras: “O que você está fazendo com a sua vida?” “Você acha correto a maneira como você está enfrentando as suas dificuldades?” Elias escolheu o caminho da fuga, da lamentação e da desistência, as vezes fazemos o mesmo.

Mas é preciso reconhecer que a causa está em nós mesmos, na nossa atitude para com as circunstâncias e não nelas. Quando fazemos isso começamos a mudar. E, via de regra, as circunstâncias também mudam. É por isso que, normalmente, Deus só opera nas circunstâncias depois que tivermos agido e reagido diante delas de forma positiva. Ele não quer privar-nos de uma oportunidade de crescimento.

O Senhor escutou as queixas do profeta e depois falou. Deus tinha uma palavra de cura para aquele coração deprimido. Se Elias escutasse, venceria aquela depressão. E Ele tem uma palavra de cura para o nosso coração também. Vejamos como Deus tratou a depressão de Elias: Em primeiro lugar, Deus providenciou satisfação física para Elias (v.5,6). Através do anjo, mandou-lhe alimento e bebida, bem como um sono restaurador. Em seguida, recomendou-lhe uma revigorante caminhada. O depressivo deve se alimentar bem, descansar o suficiente e dedicar-se aos exercícios conforme a receita de Deus.

Em segundo lugar, o Senhor providenciou para Elias satisfação ambiental (v.7,8). Tirou-o do deserto e levou-o a Horebe, o Monte Sinai, o Monte de Deus. Uma mudança de ambiente pode ser muito proveitosa para o deprimido. Imagine a paisagem que Elias podia contemplar daquele lugar incrível. Podemos modificar a nossa rotina, trabalhar um pouco menos, tirar férias regularmente ou passar os fins de semana com a família e bons amigos. Elias precisava de novos ares, precisava examinar a sua vida de um ponto de vista diferente.

Em terceiro lugar, o Senhor providenciou-lhe satisfação espiritual (v.11,12). O profeta precisava de uma nova visão de Deus; e essa lhe veio na caverna. Esquecera-se da força do caráter do Deus a quem servia. O vento, o terremoto e o fogo lembraram-lhe do poder divino; a voz mansa e suave fez com que se recordasse do Seu amor. Elias deixou aquele lugar com uma nova compreensão de Deus. É nos lugares e nas horas mais escuras que nossa comunhão com Deus nasce e se fortalece. Podemos sair da caverna da depressão com uma intimidade ainda maior com o Senhor.

Em quarto lugar, Deus providenciou-lhe satisfação ocupacional (v.15,17). Elias sentia-se cansado e fracassado. Queria férias definitivas, licença por tempo indeterminado, uma aposentadoria eterna. Queria a morte. Desistira de si mesmo. Mas Deus não desistiu dele. Em resposta às suas queixas, surpreendentemente, deu-lhe mais trabalho.

Sua missão seria ainda mais ampla e internacional. Ele iria ungir reis e profetas, influir na história do seu povo e no futuro de outras nações. Entraria numa nova fase em seu trabalho. Isso revela a confiança que Deus deposita em nós, mesmo quando nos encontramos frágeis e desanimados. Saber que Deus ainda conta conosco, nos faz ressignificar o momento que estamos vivendo e nos impulsiona a continuar.

Em último lugar, mas não menos importante, Deus providenciou-lhe satisfação emocional (v.16-18). Ele estava deprimido, sentia-se sozinho, buscava a solidão e a morte. O Senhor deu-lhe um povo – sete mil pra ser preciso, que não haviam dobrado seus joelhos a imagem de Baal – e um amigo – Eliseu, que se tornaria seu sucessor e companheiro inseparável.

Todos precisamos de um povo a quem pertencer e um amigo especial com quem contar, que possam atravessar ao nosso lado os vales da depressão até que possamos escalar, juntos, os picos da alegria.  Lembre-se, você não está sozinho! Falar é a melhor solução! Falar com Deus e ouvi-Lo é, sem dúvida, o melhor remédio. Que o Senhor te abençoe!

Vagner Miranda é pastor da Igreja Halleluyah em Itabira

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa necessariamente a opinião da DeFato.

Exit mobile version