“Minas Gerais está onde sempre esteve”. Esta foi a percepção metafórica de um ícone da literatura brasileira. Trata-se de exteriorização do fino talento de Otto Lara Resende. Mas, claro, o óbvio ultrapassa a superfície da lógica. Vai muito além. Minas Gerais se mantém eternamente no mesmo lugar. Os moradores do paraíso das alterosas (os tais mineiros) conservam enraizada tradição, desenvolveram “história épica” e compartilham cultura sedimentada. O dialeto destas bandas é um “trem” que encanta, UAI! Campos de Cataguá, além disso, desempenha fundamental papel no teatro socioeconômico nacional.
E como entra neste contexto a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig)? A estatal sustenta a mesma postura da terra dos inconfidentes. Posiciona-se teimosamente no “modo imutável”, com pleno negativismo. Permanece ineficiente, insuficiente, incompetente e deficiente. A instituição funciona como uma espécie de Lavoisier às avessas, pois nela nada se cria, nada se transforma. Continua “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Desta forma, destaca-se a “imexível” ruindade administrativa. A Cemig, portanto, é um monumento à inoperância.
A empresa passou por um “choque de indigestão” gerencial ao longo dos tempos. O suprassumo da mediocridade. E tomem apagões, quedas abruptas de energia e morosidade (ou desatino) no atendimento ao indefeso consumidor. A escassez de excelência é componente do DNA deste monstrengo paleolítico. A vida inteira foi assim. Um exemplo da histórica incapacidade. Nos anos 1990, o jornal “Hoje em Dia” divulgou relevante matéria. Um levantamento mostrou, na ocasião, que Itabira era a cidade com a maior incidência diária de quedas de energia elétrica, em Minas Gerais. Esse panorama não sofreu alteração. Afinal, a população itabirana ainda é vítima de súbitas interrupções no fornecimento de luz.
E o que fazer diante de tão caótica situação? Para começo de conversa, não sou adepto da “privataria”. Até mesmo por convicção filosófica. A origem do atoleiro da Cemig começa na persistente falta de investimentos na qualificação técnica dos colaboradores e melhoria na infraestrutura física. A coisa parou no tempo e espaço. Vários (des) governos de Minas deixaram a estatal às moscas. Alguns “dignatários” transformaram a Companhia em estratégico cabide de empregos. Esses senhores distribuíram cargos a granel para incompetentes apaniguados de ocasião.
E note-se. A desestatização não acaba com a anarquia institucional. Este modelo de negociata (privatização) não é a panaceia para a cura de todos os males da máquina pública. O pragmatismo deixa esse cenário muito evidente. Existem estatais extremamente eficientes. Aqui se fala da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou Petrobrás. Por outro lado, a iniciativa privada coleciona um rol de horrendas prestadoras de serviço à sociedade. As telefônicas ocupam a pole position neste quesito. A maioria dos bancos é sofrível. Esse segmento financeiro só pensa naquilo: o lucro fácil a qualquer custo. Uma calamidade. Os planos de saúde são potenciais sanguessugas.
Só para concluir esta lengalenga. Não tenho conhecimento mínimo de eletricidade, contudo, nem preciso ser um expert da área para constatar que a Cemig não cumpre com a sua mais elementar obrigação. E também é bom esclarecer para se evitar choques semânticos: a única proximidade de jornalista com eletricista é a rima. Enfim, eu sou apenas simples freguês da Central Energética de Minas Gerais, mas pago elevadíssimo preço por este “privilégio”.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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