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A polarização política é prenúncio de formação de nuvens negras e pesadas na linha do horizonte

Eleições

Foto: Ricardo Stucker/Instituto Lula e Isac Nóbrega/PR/Divulgação

A fictícia terceira via foi para o vinagre definitivamente. Não há a mais remota possibilidade dos atores desse espetáculo sinistro apresentarem uma   performance mais eficiente. Estão todos no rumo do atoleiro. Os números das pesquisas são implacáveis com esses aventureiros do sistema. Ciro Gomes encalacrou-se nos 7%. A nau de João Dória naufragou clamorosamente em meio às contradições tucanas. A senadora (ou sonhadora) Simone Tebet mergulhou em abissais 2%. E ninguém consegue retirá-la desse precipício eleitoral.

Enquanto isso, os protagonistas Jair Bolsonaro e Lula da Silva acumulam 73% da preferência do eleitorado. Há poucas discrepâncias entre os índices dos diversos levantamentos divulgados até agora. O cenário atual projeta o mesmo quadro de há quatro anos: uma acirrada disputa ideológica entre direita e esquerda. Bolsonarismo contra lulopetismo. A realidade aponta para um panorama típico de Cruzeiro x Atlético, Fla x Flu ou Corinthians x Palmeiras. São clássicos tradicionais do futebol, apenas isso.

Uma reflexão de Arrigo Sacchi, ex-treinador da seleção italiana, coloca o esporte bretão em sua real dimensão na sociedade planetária: “o futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes”. A política, porém, é mais complexa. E, nessa seara, a divergência e o antagonismo são inevitáveis. Esses dois axiomas são pressupostos básicos da democracia. Mas os duelos retóricos não podem ultrapassar os tênues limites da civilidade. A polarização está posta. De um lado, ensandecidos bolsonaristas. Na outra ponta, empedernidos petistas. As duas facções estão com sangue nos olhos. É desanimador. Ou melhor, desesperador.

Durante o processo eleitoral, a temperatura tende a subir acentuadamente. Uma escalada da violência está no radar. As mesas de botecos e congêneres são amostras grátis do que vem por aí. Os bate-bocas, nessa altura do certame, causam espasmos. O nível já se encontra na estatura de uma sarjeta, no mínimo. É um ladrão pra lá. Um miliciano pra cá. O cardápio principal serve rachadinhas e mensalões. Essa toada não é discussão de ideias, somente simples degeneração moral e ética.

Mas – nessa conversa tola – onde se escondeu a lógica do pensamento político? Os problemas reais da nação não encontram espaço nessa pauta beligerante.  O quadro, porém, é propício para o brasileiro exteriorizar a sua real faceta. Dois notáveis sociólogos estudaram profundamente o perfil dos moradores desse pais tropical- abençoado por deus ou amaldiçoado pelo outro. Sérgio Buarque de Holanda vê um “homem cordial” na origem do desenvolvimento humano dos habitantes dessa Terra de Santa Cruz. Esse evolucionismo é fruto do patriarcado rural colonial, que produziu um sujeito paradoxalmente afável, hospitaleiro, mas, às vezes, impulsivo e violento.

Em sua obra-prima “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre se inebriou com uma utópica convivência harmônica entre as três raças formadoras do povo daqui: índios, negros e europeus. O escritor pernambucano foi, acima de tudo, um sonhador deslumbrado. Afinal, o racismo estrutural sempre foi uma nódoa marcante no âmago da sociedade tupiniquim. O brasileiro, em média, não é tão afável, cordial ou hospitaleiro. As aparências preliminares ludibriam radicalmente.

Na verdade, os nativos dessa região do planeta são racistas, homofóbicos, misóginos, fofoqueiros, mentirosos, dissimulados, oportunistas, arrivista, mas, principalmente, violentos. Muito violentos. Esse último item ilustra muito bem o cotidiano das grandes cidades do Brasil. Esses infames adjetivos definem a “brasilidade” em sua essência.

Dito isso, é fácil perceber que um indigesto tempero está em fermentação no caldeirão do processo eleitoral desse ano. A mistura de “brasilidade” com polarização ideológica poderá ter consequências trágicas. Nuvens negras e carregadas estão em formação na linha do horizonte.  Salve-se quem puder. É o Brasil.

PS: Anote esse nome: Elizabeth Bagley- a nova embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. Essa senhora poderá ser peça chave num complexo tabuleiro. Aguarde.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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