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Abaixo a derrota no futebol brasileiro!

derrota

“Acabou a paz”. Quantas vezes temos lido essa frase antiga, já batida, do futebol brasileiro nas últimas semanas? Tal frase é o diagnóstico mais preciso para saber se um time está ou não em má fase. Ela costuma aparecer em variados locais, mas costuma se sentir mais à vontade, principalmente, nos muros dos centros de treinamento do país.

Embora a ameaça pareça clara e deva ser repudiada, seria mais “compreensível” vê-la sendo feita em momentos de crises gravíssimas em algum clube do futebol tupiniquim. Como é o caso do Cruzeiro, que, aliás, tem até experimentado momentos um pouco mais tranquilos recentemente.

Mas a paz tem acabado em todos os cantos do país de maneira frenética. E talvez exista um motivo que ajude a explicar este fenômeno: os torcedores estão descobrindo que seus times também perdem jogos.

Flamenguistas, palmeirenses, santistas e outras legiões de fãs que tem se habituado a ver seus times de coração disputando nas cabeças, parecem não se conformar com tal ideia, que nada mais é que o beabá do futebol. Se alguém ganha, outro perde. Ou ambos empatam.

Óbvio que não desejo impor nada a ninguém. Qualquer torcedor tem o direito de esbravejar quando seu time vai mal. Mas soa exagerado transformar em uma catástrofe eventuais derrotas do Flamengo bicampeão brasileiro. Ou os tropeços do Palmeiras, que levou o Campeonato Paulista, a Copa do Brasil e a Libertadores na temporada que há pouco terminou. O Santos, vice-campeão da Libertadores em 2020 e iniciando um projeto promissor, também não me parece um ambiente tão propício a tamanha cobrança.

O nível de exigência e insanidade é tão grande que quando ocorre um triunfo categórico de algum desses times, ele é pouco saboreado. Na última quarta-feira (21), por exemplo, o Flamengo venceu o Vélez Sarsfield, um dos times mais fortes do futebol argentino no momento, na sua estreia na Libertadores e a impressão é de que foi uma vitória qualquer. Não foi! Vencer fora de casa na Libertadores já é algo desafiador, independente do adversário.E se tratando de uma camisa tão importante do futebol sulamericano, os três pontos devem ser ainda mais celebrados.

E o que falar do Palmeiras? Desde o fim do ano passado sem tempo para descansar, treinar ou realizar qualquer outra ação que não seja correr atrás de uma bola durante 90 minutos, com direito a viagens, concentrações e outras adversidades. Mas o que importa? Para nós, a obrigação da equipe de Abel Ferreira é jogar todas as partidas em alto nível. Basta a mínima oscilação para questionarmos um dos trabalhos mais vitoriosos da última temporada.

O pior é quando a cobrança cruel e desmedida parte da imprensa. Miguel Angel Ramirez, que mal chegou ao Internacional, já é capaz de ouvir Renata Fan dizendo que, caso o Colorado não vença na segunda rodada da Libertadores, “o bicho vai pegar”. Isso tudo porque o Inter, em começo de um novo projeto e jogando na altitude de La Paz, foi derrotado no meio de semana. Em alguns momentos, os torcedores, movidos pela paixão, parecem mais racionais do que alguns jornalistas.

Soma-se a todos esses absurdos o fato de estarmos vivendo um momento totalmente atípico por conta da pandemia, que afeta o preparo e o calendário de clubes de todos os cantos do planeta, o que temos é esta insanidade esportiva cotidiana.

Diante disso, não restam dúvidas sobre como resolver este dilema. Precisamos abolir a derrota do futebol, limitando o fracasso de um time a, no máximo, um empate. Quanto aos títulos, que sejam flexíveis o suficiente para serem divididos entre oito, nove equipes. Assim ninguém reclama, que tal?

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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