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Das torneiras saem mensagens de consciência, mas, água que é bom, nada

Comércio informal sofre impactos de crise do coronavírus - Foto: Divulgação

Nem em tempos de coronavírus deixamos o palanque das eleições de lado. É compreensível, claro, para muitos tudo é politica e nada mais justo que uma corrida maluca de quem tem a melhor solução para enfrentar a pandemia, afinal, as eleições estão aí.

Quem sobra é a população mais pobre, como sempre. Seguem sem saber muito bem que rumo a ser tomado. Se por um lado temos que pensar em nossa segurança e no coletivo, por outro, temos a ansiedade de ordem econômica, já que o desemprego estava/está batendo em nossa porta. O cofrinho que será quebrado não terá moedas suficientes para enfrentar uma quarentena. A nossa bússola segue desnorteada.

Dividimo-nos entre o pânico instaurado por medidas de segurança de isolamento social, que, no momento, é mesmo o certo a se fazer, visto que são agentes do campo da saúde, gabaritados, que chegaram a essa conclusão; e entre o medo de empresários que simplesmente querem mandar os seus “soldados” para uma guerra com o discurso patriótico exacerbado de que o covid-19 ficará para a história como uma “gripezinha”, que será até bom para o nosso sistema imunológico. Entretanto, admito, se for para escolher o pior grupo, seria quem usa de estatísticas, nessas horas, para desenhar suas afirmações cegas. Demonstrando uma tentativa de minimizar as dores da consciência perante a uma possível tragédia em seu círculo de empregados. Podemos carimbar com a sorte quem vai ou não sofrer as piores consequências? A América ainda sonha com histórias de guerra para contar, e, toda conflagração deixa pilha de corpos que são depois usados para entonar discursos, principalmente políticos.

No meio dessa desordem que tomou conta do nosso dia-a-dia em quem confiar nosso instinto de sobrevivência? Podemos escolher entre a razão, que é explicada por profissionais, para quem procura se informar a gravidade da situação que pode acontecer se não for respeitado o período de quarentena. Ou, no sentimento de temor, que é explicada por representantes econômicos, que se não arriscar a ser infectado poderá sofrer as consequências de ser mandado embora. É uma decisão injusta a ser tomada e, pasmem, não há alternativa errada, pelo menos não aqui, no Brasil, um país subdesenvolvido.

Lavar corretamente as mãos, espalhar álcool em gel, sentar e esperar o caos passar poderia ser uma medida simples para todos, porém, a poupança da maioria dos brasileiros não permite. Em lugares onde se falta água até para lavar as mãos o medo é pertinente. “Como farei para me sustentar neste período se a quarentena persistir?”. “Será que terei emprego?”. Logicamente o receio de se contaminar existe, contudo, ele se torna mero pitiatismo, ou seja, uma perturbação desproporcional, fora de eixo. Considerando que nem a sua realidade permite fazer o básico da higiene necessária. Abre-se a torneira e saem muitas mensagens de conscientização, mas, água que é bom, mesmo nada. Então, engole-se o medo e acorda mais um dia pedindo a Deus, proteção em sua jornada de trabalho que não pode parar.

Se você possui a alternativa financeira de ficar em casa, esse texto não é para você, porque foge da sua realidade de “vamos dar as mãos e tudo vai se resolver bem”. Não, não vai se resolver bem se o medo for disseminado. O amedrontamento é quase o sopro do lobo mau nas casas dos três porquinhos (economia) e deixo claro aqui, quando trato de economia, não é referente às escalas que envolvem ações de grandes empresas. Estou me referindo justamente do comércio local que gera empregos, ou da pessoa que tira o seu sustento em vendas habituais na praia, por exemplo. Este texto é para essas pessoas que precisam batalhar o seu ganha-pão, onde deixo minha compreensão das suas escolhas de continuar indo atrás do seu sustento. A coragem de sair de casa, mesmo com medidas proativas de nos manterem confinados, não é uma inclinação alienada, é uma questão de vida ou morte que chega a ser mais real do que o medo do coronavírus.

Ficar em casa não é um ato de amor ou empatia como os politicamente corretos querem chamar. É um dever cívico momentâneo. Apesar disso, reconheço a real angústia da maioria, as contas irão continuar chegando e a despensa vai diminuir. O luto real só vem quando presenciamos o sofrimento de perto, e, para a maioria das pessoas que tem que ainda estar saindo, essa dor é fruto do cotidiano.

A regra é clara, como diria o Arnaldo Cezar Coelho: mantenha-se em estado de alerta, evitem levar as mãos ao rosto, lave-as, várias vezes por dia. O álcool em gel ficou para os ambiciosos maníacos que não sabem gerenciar o seu consumo, faltando o entendimento da importância da prevenção de todos. Eles deveriam fazer terapia urgentemente, a noção de mundo apocalíptica é intrigante e merece análise. Tente também consumir neste período mais vitamina C para fortalecer o seu sistema imunológico. Parem de ficar o tempo todo procurando vestígios do covid-19, publicações de fonte duvidosas que nos abalam mais ainda e não ajudará em nada a nossa saúde mental.

Lembrem-se: nesse momento de muito barulho é normal o sentimento de dúvida sobre qual direção seguir. Deveríamos todos ter no mínimo o básico para resistirmos a período como este, já que não temos, não há escolha errada. Ir trabalhar ou não, acredito que foi uma decisão difícil e em prol da sobrevivência de quem lhe rodeia.

Pablo Frejat é psicanalista, consultor político e ensaísta. Autor de: Análise da saúde mental na estrutura do Estado no Sujeito. 

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