O Banco Central sob a presidência de Gabriel Galípolo avisou na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira (4), que deve descumprir a meta de inflação já na largada, agora sob o regime de “meta contínua”. Em outras palavras, isso quer dizer que a inflação anualizada vai ficar acima do teto de 4,5% por seis meses seguidos, de janeiro a junho, o que configuraria o descumprimento.
A partir deste ano, o descumprimento da meta deixa de ser medido pelo ano-calendário, ou seja, pelo resultado anual em dezembro, e passa a ser computado se ficar acima do intervalo de tolerância por seis meses.
Na reunião da semana passada, o Copom elevou a Selic em um ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Foi o quarto aumento consecutivo da taxa básica de juros, que marcava 10,5% em setembro do ano passado.
O Banco Central vê a economia sobreaquecida, com o mercado de trabalho mais forte (o desemprego está na mínima histórica), o que tende a pressionar a inflação de serviços. E há ainda um alerta sobre a indexação da economia interna, que terá o efeito de transformar, por exemplo, um choque temporário de preços dos alimentos em permanente.
É isso que o Banco Central quer dizer quando afirma que “esse aumento (dos alimentos) tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
Na ata, o Banco Central também reafirmou que vai subir a Selic em um ponto porcentual na reunião de março, mas não quis dar, assim como no comunicado divulgado logo depois do último encontro, outro “forward guidance” (indicação futura) para as próximas reuniões.
Haddad
Questionado sobre o teor da ata, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que, com a mudança para o regime de meta contínua, o Banco Central terá tempo para avaliar com mais racionalidade a duração do aperto na política monetária.
“Nós temos uma meta contínua agora. Isso faz com que o Banco Central possa apresentar um plano de trabalho consistente para trazer a inflação para a meta, com mais racionalidade do que acontecia antes da mudança. Penso que o Banco Central vai ter tempo de analisar o patamar de juros que vai manter, e por quanto tempo, para conseguir esse objetivo”. declarou.
A ata voltou a indicar que o Banco Central não vai deixar de cumprir o seu papel no combate à inflação. Mas ganha tempo para avaliar o cenário até maio, diante da volatilidade internacional que tem sido provocada principalmente pelas medidas protecionistas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
De todo modo, há o pedido, mais uma vez, para que as políticas monetária e fiscal sejam “harmoniosas”. Ou seja, para que o governo Lula, de fato, corte gastos. Caso contrário, ainda não há limite, pelas indicações do Banco Central, para o aumento dos juros no País.