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Ameaçado pela Vale, atual padrão de qualidade do ar em Itabira evita internações e mortes por doenças respiratórias

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Foto: Jackson Faustino/DeFato

Na reunião ordinária da Câmara desta terça-feira (24), a professora e coordenadora do projeto ItabirAR, Ana Carolina Freitas, apresentou dados importantes sobre a qualidade ruim do ar em Itabira. A docente da Unifei detalhou pesquisas feitas em 2016 e 2019 sobre os impactos da poluição atmosférica à saúde do itabirano e à economia do município.

Segundo Ana Carolina, atividades como queimadas, poluição veicular, queima de combustíveis fósseis e, claro, a mineração, geram os chamados “materiais particulados”, ou partículas. Elas possuem de 2,5 a 10 micrômetros, e quanto menor o seu tamanho, maior o risco oferecido à nossa saúde. Uma preocupação da professora e outros agentes envolvidos no tema é que os materiais particulados de Itabira se diferenciam pela sua composição.

Além do ferro, principal componente do resíduo, eles possuem materiais como titânio, cromo, vanádio e chumbo. Trata-se de uma concentração mais forte do que as partículas de capitais como São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Curitiba.

A professora Ana Carolina Vasques Freitas. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Impacto à saúde

Ana Carolina freitas também compartilhou resultados de pesquisas sobre o efeito da poluição atmosférica na saúde dos itabiranos, realizadas em 2019. Segundo o levantamento, caso o município adotasse o parâmetro intermediário 2 – algo que só aconteceria em agosto de 2022 -, Itabira possuiria 11 internações a menos por doenças respiratórias. Caso fosse seguido o padrão máximo orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda mais rígido, o número aumentaria para 41.

Impacto parecido aconteceria em relação às doenças cardiovasculares, com oito internações do tipo sendo evitadas em 2019. Por outro lado, se fosse seguido o padrão máximo exigido pela OMS, seriam 28 internações a menos. Da mesma forma, também seriam evitadas 48 das chamdas “mortes prematuras”.

Impacto financeiro

Do ponto de vista econômico, analisando apenas as mortes prematuras, Itabira economizaria até R$ 122 milhões, cerca de 64% do orçamento da Secretaria Municipal de Saúde. Em relação às internações, haveria uma economia na casa dos R$ 126 mil. Todos esses dados serviram como base para que Itabira avançasse ao padrão intermediário 2 em agosto do ano passado. E é justamente este nível de parâmetro que a Vale deseja flexibilizar, como você poder conferir aqui.

Realidade triste e poluída

Outro levantamento feito por Ana Carolina Freitas e outros pesquisadores apontam que 73,5% dos itabiranos consideram a qualidade do ar onde moram péssima ou ruim. A pesquisa também aponta que, embora 90% dos entrevistados não fumem, 75,5% deles possuem problemas crônicos de saúde. Além disso, diz a pesquisa, 96% percebem a presença frequente de poeira em suas residências.

Desejo distante?

Por fim, a pesquisadora citou o exemplo positivo da cidade canadense de Sudbury, onde a Vale também realiza atividades. Há 40 anos, por meio de um pacto envolvendo vários atores diferentes, a empresa mineradora investiu 1 bilhão de dólares em um projeto de melhoria do ar. Hoje, Sudbury segue os níveis exigidos pela OMS.

“É possível compatibilizar desenvolvimento econômico com qualidade de vida para as pessoas. A geração de empregos e renda é muito importante, nós precisamos, mas não adianta geração de empregos e renda sem qualidade de vida. Como isso aconteceu em Sudbury, há 40 anos? Todos os atores se envolveram. Se envolveram os governos, as empresas, a comunidade, as universidades apoiaram em um imenso programa de restauração ambiental, onde foram plantadas mais de 12 milhões de árvores”, ressaltou a professora da Unifei.

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