Técnica apurada, determinação e amor à natureza. Esses são os principais combustíveis dos brigadistas florestais que atuam dia e noite para proteger as áreas do fogo que ameaça a vida. O trabalho, no entanto, não é simples. Solos irregulares, visibilidade reduzida provocada pela fumaça e ar praticamente irrespirável são alguns dos obstáculos que os combatentes precisam encarar para extinguir as chamas.
O desafio fica maior entre os meses de julho a outubro, período considerado crítico para incêndios, quando a umidade do ar fica em níveis críticos, abaixo de 60%. A situação é causada pela escassez de chuvas, que deixa a vegetação seca e colabora para um incêndio florestal, muitas vezes causado pela ação humana.
Neste mês de agosto, Minas Gerais está vivendo os efeitos de estiagem e onda de calor que assola diversos estados brasileiros. Na última semana, com mais de 90 dias consecutivos sem chuvas significativas, houve registros de queimadas e incêndios no Parque Nacional da Serra do Cipó, e em unidades de conservação estaduais, como o Parque do Itacolomi, em Ouro Preto, região Central, e na Serra da Moeda, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Queima de lixo próxima às áreas protegidas, além de guimbas acesas de cigarro e até mesmo ação proposital são alguns dos exemplos de como grandes incêndios podem ser provocados, colocando em risco uma vasta biodiversidade.
Protagonistas
Profissionais e brigadistas entram em cena pela proteção à biodiversidade que sofre com os incêndios. André Portugal é gerente do Parque Estadual Serra Verde, na Região Norte de Belo Horizonte. Ao lado de brigadistas voluntários, ele já participou de diversos combates a incêndios na área da UC. Ele já presenciou a fuga de vários animais das chamas, como aranhas e formigas. Mas o caso do qual ele nunca se esquecerá é de um camaleão sedento por água.
“Ele estava muito parado, quieto e foi apenas a gente gotejar água na boca dele que, de imediato, agradeceu”, recordou o gerente.
Brigadista voluntária desde 2016, Érica Alves de Castro já atuou em diversos combates ao lado de André e se lembrou de um caso semelhante de animais em fuga. Na ocasião, Érica encontrou um preá ferido pelo fogo.
“Estávamos descendo a Trilha da Comunidade e nos deparamos com vários animais em fuga. Nisso, tinha um preá queimado, com as duas patinhas de trás feridas. Tentamos resgatar, mas não conseguimos. Ele se assustou com o fogo e fugiu”, disse.
Família
Érica é madrasta de Pedro Castro, que ainda tem o pai e os irmãos como brigadistas voluntários. Todos são vizinhos do Parque Estadual Serra Verde. A forte ligação com a unidade de conservação uniu a família em prol de um objetivo: proteger a área de preservação ambiental.
“É algo que une a nossa família. Posso ter discutido por besteira com um dos meus irmãos, mas, se ocorre um incêndio, sou eu dando a vida por eles e eles dando a vida por mim”, destacou Pedro.
Combatente desde 2018, o brigadista lamenta que a ação humana seja responsável pela maioria dos incêndios florestais. “As pessoas não pensam que ali naquela vegetação há vidas e o quão elas são importantes para o nosso cotidiano”.
Mistura de sentimentos
O sentimento de tristeza relatado por Pedro é compartilhado por Tadeu Heleno. O brigadista atua no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na RMBH, desde 2017. Apesar da indignação ao saber que as chances do incêndio a ser combatido ter sido provocado pela ação humana serem grandes, Tadeu afirma que mantém o foco no trabalho para debelar o fogo e voltar em segurança para casa.
“A gente vai com intuito de resolver o problema, mas vamos indignados, pois sabemos que tem que ter fim. Mas buscamos debelar o incêndio e voltar em segurança, pois sabemos que na casa de cada combatente há familiares esperando o retorno”, explicou.
Agente de parque e coordenador de Combate a Incêndios Florestais no Rola-Moça, Edson Flores enfatiza que o principal objetivo da equipe é debelar o incêndio no mesmo dia. Caso as chamas permaneçam por mais de 24 horas na vegetação, o sentimento muda.
“A frustração fica por conta dos incêndios que se prolongam. A gente nem dorme à noite pelo sentimento de dever não cumprido”.
Em um dos incêndios que atingiu o parque, Edson e sua equipe se depararam com um filhote de veado que havia sido abandonado pela mãe, que fugiu do fogo. O pequeno animal ficou com as patas feridas e foi encaminhado posteriormente ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetras) de Belo Horizonte.
Edson reforça, ainda, que um incêndio não compromete apenas a fauna e a flora de um determinado espaço, mas pode prejudicar também o abastecimento de água de uma região. No caso do Rola-Moça, o parque abriga seis mananciais que abastecem 40% da RMBH. Com as chamas, o ambiente fica seco e dificulta o fluxo das águas.
Prevenção
Em Minas, a Força-Tarefa Previncêndio realiza o trabalho de prevenção e combate. É do conjunto que saem as estratégias e planejamentos para enfrentamento aos incêndios florestais em unidades de conservação durante o período crítico de estiagem.
A estratégia para redução do número de queimadas no período crítico começa ainda no primeiro semestre, com a realização de aceiros, faixas com ou sem vegetação que são feitas para que as chamas sejam impedidas de passar de um ponto a outro de uma determinada área.
Há, ainda, o Manejo Integrado do Fogo, por meio das queimas prescritas, que são incêndios de baixa intensidade em área previamente avaliada e onde a fauna e a flora estão adaptadas a esse fogo.
“A gente sempre trabalha visando a redução, até conseguirmos a extinção. Não é simplesmente apagar o fogo. Muitas das vezes estamos protegendo áreas especiais para a conservação”, detalha o gerente de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do IEF, Rodrigo Belo.
“Além disso, há os funcionários dos parques, que são os grandes combatentes, pessoas que possuem experiência na área”, pontua Rodrigo Belo.
*Com Agência Minas