No dia 8 de novembro, dois funcionários da Anglo American denunciaram à Polícia Militar (PM) um atingido da mineradora em Conceição do Mato Dentro sob a alegação de que ele teria prendido trabalhadores de uma terceirizada com o uso de uma arma de fogo. A denúncia não foi comprovada pela polícia, que prendeu os colaboradores da empresa contratada por fornecerem informações falsas. Os militares também prenderam a esposa do atingido por ela ter se mostrado incomodada diante da ação.
De acordo com o boletim de ocorrência (BO), dois militares reformados que trabalham para a Anglo American relataram que funcionários da empresa terceirizada H3M teriam sido presos e ameaçados de morte por um dos reassentados pela mineradora. No entanto, a polícia encontrou esses colaboradores “conversando tranquilamente entre si, tomando café de forma descontraída” na casa de um vizinho.
Os funcionários da H3M afirmaram à polícia que o atingido não portava arma de fogo na ocasião e, sim, um machado. Assim, esses colaboradores foram presos por terem comunicado à polícia um crime que não tinha sido verificado e liberados no mesmo dia, devendo comparecer a uma audiência futura.
Em uma nota divulgada no dia 13, o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) informou que o reassentado sequer estava em casa no momento da investigação. O Nacab ainda repudia a entrada da PM na propriedade da família sem autorização e o uso de força contra a esposa do investigado. “Alegando desacato à autoridade, os policiais a prenderam, com uso da força, e recolheram seu celular, por ela estar filmando a ação”, diz a nota.
Questionada pela polícia, a atingida afirmou que o motivo dos desentendimentos entre seu marido e a empresa Anglo American “é um desacordo relativo ao ingresso clandestino/sem autorização das empresas terceirizadas no terreno do casal com a finalidade de executar serviços diversos”, como registrado no BO.
O boletim de ocorrência relata que a autorização só foi obtida depois que policiais já estavam na casa dos atingidos.
O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) também se posicionou contra a ação. Em uma postagem no Instagram, o movimento considerou arbitrária a prisão da reassentada e mencionou uma contaminação pela atividade minerária no terreno da família:
Procurada pela reportagem da DeFato, a Anglo American enviou uma nota alegando que suas atividades foram suspensas no local:
No dia 8 de novembro, a Anglo American recebeu comunicado da empresa contratada para implantação da Estação de Tratamento de Água, na comunidade do Piraquara, de que profissionais em serviço de campo estavam recebendo ameaças. Por se tratar de questão de segurança pública e considerando o histórico de ameaças registradas anteriormente, a Polícia Militar foi acionada.
Para garantir a segurança de seus trabalhadores próprios, terceiros e comunidade local, as obras foram momentaneamente suspensas no território.
Cabe ressaltar que as obras estão sendo realizadas em prol da comunidade, que os moradores do Piraquara foram comunicados previamente e o acesso às áreas onde as atividades estão sendo realizadas foi devidamente autorizado pelos proprietários.