Iniciamos um Novo Ano e ele vem repleto de desafios a serem superados e são muitas as situações que angustiam o ser humano: guerras, assassinatos, assédio moral e sexual, defesa do aborto, devastação ambiental, feminicídio, bullying, intolerância religiosa, tráfico de drogas e de pessoas, migração, refugiados, apologias ao armamentismo, situações análogas à escravidão, discurso de ódio, intolerância, corrupção, fome, sem dizer outras situações.
E fica a pergunta: Como construir o DIÁLOGO como caminho para a construção do bem comum?
Ano Novo é tempo de anunciarmos e vivermos o Evangelho da paz, daquela paz que o Senhor Jesus nos oferece e que não é a mesma que o mundo nos dá (cf. João 14, 27). A nossa fé nos recorda que somos todos irmãos e irmãs, possuidores da mesma dignidade, o que nos dá uma igualdade fundamental, uma vez que “dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos nós temos a mesma natureza e a mesma origem. Reunidos por Cristo, todos temos a mesma vocação e o mesmo destino” (Gaudium et Spes, 29).
Infelizmente o pecado nos separa do projeto de Deus e faz-nos enxergar as diferenças, as divergências e oposições não como riquezas, oportunidades ou mesmo obstáculos a serem superados, mas como características dos inimigos a serem abatidos. É preciso que fique muito claro que a subjetividade é um valor, as diferenças não são um problema e a solução não é a homogeneidade de pensamentos.
Hoje, nossa sociedade está dividida. Poderíamos ser apenas diferentes, mas nos dividimos, erguemos muros de separação entre nós, e, muitas vezes, erigimos o diferente como inimigo, para justificar sua eliminação.
Recordo o Papa Francisco que na Evangelli Gaudium , que alertava o mundo sobre o que deu o nome de “globalização da indiferença”, lembrando que as dores de tantos seres humanos já não despertavam preocupação, porque não eram nem mesmo percebidas.
Vivemos neste Novo Ano um tempo em que a diferença passou a ser vista como inimizades e, mais grave ainda, como ameaça. O adversário virou inimigo o que tem trazido uma proposta de afastamento, combate, destruição e morte. O diferente é colocado de lado, e a tendência é de eliminar, ou destruir de alguma forma, tudo aquilo que for diferente.
Acredito que você como eu queríamos viver um Novo Ano de Paz e Harmonia, mas com o eclodir dos conflitos nestes primeiros dias, estamos vendo que alguns governantes estão querendo poder e para isso queremos promover a violência e a guerra como forma de autoafirmação e dominação.
A Igreja Católica nos faz o convite, para que neste ano, possamos transformar a divisão em fraternidade, e substituir a indiferença e o ódio por amizade social. E o Papa Francisco assim afirma: AMIZADE SOCIAL É: “Amor que ultrapassa as barreiras da geográfica e do espaço, comunicar com a vida o amor de Deus, recusando impor doutrinas por meio de uma guerra dialética, é viver livre de todos os desejos de domínio sobre os outros, é amor que se estende para além fronteiras, para todos os seres vivos, é amor que rompe as cadeias que nos isolam, separam, lançando pontes, é a nossa Vocação para formar uma comunidade feita de irmãos, que se acolhem mutuamente e cuidem uns dos outros, é o amor presente nas relações sociais”.
Que, de fato, este Ano Novo possa ser Novo, mesmo aos inúmeros desafios do mundo a serem superados, e que, iluminados pelos Menino Deus, possamos ser construtores da Paz!
Padre Hideraldo Verissimo Vieira é pároco na Paróquia São João Batista – João XXIII, em Itabira, e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com especialização em Ensino Religioso pela PUC Minas.
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