Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Antônio Pitangui de Salvo integra a quarta geração da sua família que se dedica ao trabalho no campo. Atualmente, é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) e vem atuando para fortalecer o agro mineiro e os produtores rurais.
Nesta entrevista, o presidente da FAEMG coloca a agropecuária como uma das alternativas para a diversificação econômica das cidades mineradoras, que, apesar de ligadas à extração de minérios, possuem extensão rural e capacidade logística para apostar no campo como um dos vetores de crescimento. Inclusive, traça um paralelo com o estado de São Paulo, que se industrializou a partir de recurso originários do agronegócio.
As cidades mineradoras vivem o desafio da diversificação econômica. Itabira, por exemplo, a chamada zona rural como maior parte do seu território. A agropecuária pode ser uma alternativa para a diversificação econômica?
Antônio de Salvo: A agropecuária em um lugar igual Itabira, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, pode ser um cinturão verde sensacional para hortifrúti, legumes e frutas. Também para pecuária intensiva de confinamento, assim como pequenos animais: cabrito, carneiro, leite de cabra. Tudo pode ser uma diversificação [econômica] fenomenal.
E tudo isso pode ser feita a 100 quilômetros de Belo Horizonte. Sabe o que temos a 100 quilômetros de São Paulo? Campinas. Itabira pode ser uma Campinas — pode ser uma megacidade.
Como esse desenvolvimento econômico pode acontecer a partir do campo, do agronegócio?
Antônio de Salvo: Sabe por que São Paulo é São Paulo e Piauí é Piauí? Quem escolheu São Paulo ser rico e o Piauí ser pobre? Qual é a diferença de São Paulo e Piauí? Vou explicar: São Paulo tem a terra roxa, estruturada. É a melhor terra do Brasil. Então a riqueza que saiu do solo migrou para a indústria. Ou seja, é dinheiro de café, de cana de açúcar que migrou do campo para a indústria e fez as megacidades de São Paulo.
É por isso que São Paulo ficou São Paulo e Piauí ficou Piauí. São Paulo tem terra boa. Então o que tem de industrialização de cidade por lá se deve ao dinheiro que saiu da terra rica de São Paulo.
Sabe por que o Triângulo Mineiro é mais rico que a Zona da Mata? Porque ele é plano e com solo bom. Então Uberlândia, Uberaba, Araguari, Araxá se desenvolvem. O Alto Paranaíba e o Triângulo crescem às custas de transferência de renda do campo para as cidades.
Então, uma cidade como Itabira, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, pode ter mineração? Show! Vai ficar aí por mais um tempo na sua vida? Vai. Mas talvez daqui a 300 anos ou menos acabe. Mas o agro não vai acabar. Então é uma opção total [para a diversificação econômica das cidades mineradoras.
De que forma a FAEMG pode ajudar nesse processo de fortalecer a agropecuária dentro das cidades mineradoras e de uma forma que ela se torne uma alternativa viável economicamente?
Antônio de Salvo: O sistema [FAEMG/SENAR] pode ajudar sim, com sindicatos rurais fortes, atuantes, que possam mostrar quais são os nichos de mercado de quem está a 100 quilômetros de distância do Grande Centro, que é a capital [Belo Horizonte]. Fora a Região Metropolitana, com Betim, Contagem…
É trabalhar as potencialidades, como as frutas e legumes. Legumes não dá para transportar? Dá. Recebemos muitos legumes de São Paulo. Então, estando a 100 quilômetros da capital, pode ser uma vantagem competitiva.
A infraestrutura também é importante dentro desse processo de fortalecimento e desenvolvimento do agro.
Antônio de Salvo: A infraestrutura é uma coisa importante, mas essa infraestrutura já vem com o minério. Vai ser mais um caminhão trazendo alguma coisa, ou dois, ou três, ou cem caminhões. O que a gente precisa é entender a potencialidade da região para o agro, porque você está perto de um grande centro, você tem um comércio aqui [Região Metropolitana], além do comércio local.
Um hectare de alho, de cenoura, de repolho, de couve flor, de banana dá dinheiro para sustentar uma família bem, isso dá R$ 20 mil, R$ 30 mil por mês. Mas tem que trabalhar! Tem que ter tecnologia, tem que ter conhecimento do que está fazendo, mas é uma opção pra esses minifúndios, para essas pequenas propriedades.
Quantos caminhões chegam com produtos de outros estados e que poderiam ser produzidos nos arredores de Belo Horizonte, a um raio de 120, 150 quilômetros? A maioria poderia ser produzida aqui.