João Candido Portinari carrega em seu nome uma enorme responsabilidade que nunca deixou de assumir: preservar e exaltar a memória do seu pai, um dos maiores pintores brasileiros. E faz parte dessas memórias, também resguardadas por meio do Projeto Portinari, conduzido por ele, a grande amizade entre Candido Portinari e Carlos Drummond de Andrade. Nesta quarta-feira (1º), no primeiro dia de programação do III Flitabira, o premiado artista relembrou, com carinho, a relação entre as duas icônicas figuras.
Segundo João Candido, sua mãe costumava promover macarronadas que eram prestigiadas por nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Niemeyer e o próprio Drummond. E a inusitada experiência é um dos exemplos da ligação fraterna entre os artistas.
“A gente tem que retornar aos anos 40. Vou fazer 85 anos em janeiro, vivi como criança um pouquinho daquilo, mas a minha mãe fazia uma macarronada em casa que não tinha hora para começar e nem para terminar. Então chegava Jorge Amado, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Villa Lobos, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Murilo Mendes… e a gente poderia continuar citando todos esses nomes. E quando confrontamos isso com os dias de hoje, sentimos uma carência muito grande, porque eles viviam juntos, era algo permanente”, analisa.
Para o fundador do Projeto Portinari, esta é uma realidade que ficou no passado. Segundo ele, hoje a sociedade se divide como ilhas. Eles estavam sempre discutindo arte, literatura, política, poesia, Brasil, mundo… aquilo era o alimento deles, aquela convivência fraterna que perdemos. Acho que nos tornamos ilhas, não temos a oportunidade que eles tinham de estarem sempre juntos”, lamenta.
Ainda sobre Drummond e Portinari, João Candido cita um poema escrito pelo itabirano como uma simbólica demonstração de afeto pelo poeta, que morrera alguns dias antes.
“Foi uma amizade para a vida toda. Quando meu pai morreu, poucos dias depois Drummond fez um poema belíssimo que recorda toda a trajetória de Portinari, intitulado ‘A Mão’”.