Reportagem veiculada na edição 82 do Jornal DeFato Cidades Mineradoras
A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) causou impactos negativos em diversos setores econômicos no Brasil. A mineração, porém, não foi um deles. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), as mineradoras faturaram R$ 70 bilhões somente no primeiro trimestre de 2021 — um crescimento de 95% se comparado com o mesmo período em 2020, quando o faturamento ficou em R$ 36 bilhões.
O minério de ferro é responsável por 70% desse faturamento, o ouro por 11%, o cobre por 5% e a bauxita por 2%. Minas Gerais foi o segundo estado com maior participação no faturamento das empresas mineradoras, correspondendo a 40% do montante. Ficando atrás apenas do Pará, que responde por 44% do faturamento. Outros estados brasileiros, que contam com atuação de mineradoras, representam 16% do bolo.
Além disso, conforme estimativa do Ibram, a produção mineral deve crescer 15% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2020. Esse desempenho reflete diretamente na arrecadação de tributos. Somente nos três primeiros meses de 2021, o setor recolher R$ 24 bilhões em impostos — o dobro do ano passado, quando esse número ficou em R$ 12 bilhões.
Desse total de R$ 24 bilhões, a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), o chamado royalty da mineração, cresceu de R$ 1 bilhão para R$ 2 bilhões se comparados os primeiros trimestres de 2020 e 2021.
Com aumento de produção, Vale apoia iniciativas contra a Covid-19 em Itabira
Em seu relatório de produção do primeiro trimestre de 2021, a Vale apontou alta de 14,2% na produção do minério de ferro se comparado com o mesmo período do ano passado. Porém, se compararmos com o último quadrimestre de 2020, houve uma queda de 19,5% — o que pode mudar no decorrer deste ano.
O resultado, em parte, se deve ao fato de que a mineração é considerada serviço essencial, o que permite às empresas do setor seguir com as suas atividades mesmo durante a fase mais severa da Covid-19 em todo o país. Por outro lado, conforme destaca a Vale, a retomada da mina de Timbopeba e da usina de pelotização de Vargem Grande também estão entre os fatores que explicam o crescimento produtivo nos três primeiros meses de 2021.
Diante do quadro de crescimento, a empresa tem apoiado iniciativas de enfrentamento à Covid-19 em municípios que atua. Em Itabira, como suporte à Prefeitura, financiou a abertura de 20 leitos no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), uma das duas instituições hospitalares da cidade que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — um projeto que conta com a parceria da SanosMed, empresa especializada em gestão de saúde.
“Desde o início, temos apoiado a cidade no enfrentamento da pandemia. Estamos atentos às necessidades dos territórios onde atuamos, buscando desenvolver ações que melhorem a qualidade de vida das comunidades e promovam desenvolvimento, alinhadas ao propósito da Vale de novo pacto com a sociedade. Em nossas operações, mantemos a guarda alta”, afirma Daniel Daher, gerente executivo do Complexo Itabira.
A mineradora também doou dez cilindros de oxigênio ao HNSD, além de ter destinado, 0m 2020, 1,6 milhão de itens de EPIs para a instituição hospitalar — sendo 8.400 kits de testes rápidos para Covid-19, 238 mil máscaras cirúrgicas, 8 mil máscaras N95, 37.200 aventais, 200 óculos e 1,3 milhão de luvas descartáveis.
Paralisação da Vale em 2020 gera prejuízos para Itabira
Em maio de 2020, por determinação da Superintendência Regional do Trabalho, a Vale teve as suas atividades suspensas em Itabira devido ao alto número de casos positivos registrados entre os trabalhadores da empresa.
A iniciativa buscava resguardar a saúde dos funcionários do setor, além de conter a propagação do vírus. Por outro lado, causou prejuízos para a prefeitura na arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Segundo estimativa apresentada pela Prefeitura de Itabira em junho de 2020, as perdas com a paralisação da Vale chegaram a R$ 12 milhões.
Operações da Anglo ajudam a manter arrecadação de Conceição do Mato Dentro
O grupo de mineração Anglo American, que atua em Conceição do Mato Dentro, teve aumento de 3% da sua produção no primeiro trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período em 2020. Somente a exploração de minério de ferro subiu 1% no início deste ano.
O crescimento das operações, mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19, contribui para que Conceição do Mato Dentro mantenha a sua arrecadação e, com isso, possa desenvolver projetos visando o bem-estar da sua população.
“Diferentemente de muitos municípios mineiros, Conceição do Mato Dentro é uma das principais cidades mineradoras e continuamos com as arrecadações. É o que tem contribuído, nos permite continuar movimentando o município e garantindo assistência aos cidadãos, sobretudo, em saúde pública,” avalia Zé Fernando, prefeito de Conceição do Mato Dentro.
ArcelorMittal e o lucro da mineradora em Monlevade
Procurada pela DeFato, a Assessoria de Comunicação da ArcelorMittal deu um panorama sobre a produção de mineração da Mina do Andrade, localizada em Bela Vista de Minas.
“O volume de produção da Mina é de 1,5 milhão de toneladas/ano. Este projeto Itabirito foi inaugurado em 2020. Por meio da nova planta de beneficiamento, o minério produzido passa por um processo de enriquecimento do teor de ferro e garante o padrão necessário à produção de aço de alta qualidade. A empresa investiu R$ 133 milhões na ampliação, que vai proporcionar um aumento da vida útil de 40 para 56 anos, chegando até 2062”.
Atualmente, a Mina do Andrade conta com 368 empregados diretos e 128 indiretos.
“No ano passado, a empresa recolheu mais de R$ 1 milhão de impostos (ISS, ICMS E ITR), fez compras na ordem de R$ 46,9 milhões (muitas com fornecedores locais) e direcionou cerca de R$ 217 mil em projetos sociais. Em apoio ao combate à pandemia do coronavírus, a Mina do Andrade realizou ainda doações de material hospitalar à Prefeitura Municipal e o repasse de recursos às associações locais. Outros R$ 33 mil foram aplicados em programas de educação ambiental”, finaliza a nota.
O prefeito de João Monlevade, Dr. Laércio Ribeiro (PT), declarou a importância da empresa para a geração de empregos do município.
“A história da usina da ArcelorMittal se confunde com a da nossa cidade. João Monlevade surge com o desenvolvimento econômico gerado pela usina. Atualmente, a unidade continua tendo papel preponderante para economia do município pela quantidade de empregos gerados direta e indiretamente. A empresa veio em socorro do Hospital Margarida, em pelo menos duas ocasiões: uma no ano passado, com doações que permitiram a implantação do setor de Covid-19 no hospital, e este ano, possibilitou a ampliação do setor”, finaliza Laércio.
Novos projetos alavancam emprego em Barão de Cocais
Barão de Cocais vem conquistando licenciamentos ambientais decisivos para alavancar, ainda mais, a exploração do minério. São exemplos as autorizações para a Mina da Cava da Divisa, da mineradora Vale; para a expansão da Mina do Baú, da empresa MR Mineração; e para um empreendimento da GSM Mineração.
A exploração trafega em via oposta àquela em que tantos setores amargam as consequências trazidas pela pandemia. Movimentos sociais, inclusive, indicam que o setor é um motor de propagação da Covid-19 – entre expoentes da militância está o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).
A Vale conduz os principais investimentos da área em Barão de Cocais e cidades vizinhas. Aliás, centenas de trabalhadores voltaram a desembarcar na região: a mineradora informa que já empregou 3.250 profissionais em projetos que beneficiam o município, no âmbito econômico.
“Estão em fase de execução, no complexo Brucutu e Água Limpa, o projeto de implantação da barragem Torto e o programa de filtragem de rejeitos, que são importantes para a continuidade operacional da mina Brucutu. A construção da barragem, em etapa única, iniciou em 2019 e já foram criados mais de 750 postos de trabalho. Já as obras de filtragem foram iniciadas no ano passado e criados cerca de 2.500 vagas”, destaca a Vale.
Contracena
Do outro lado do progresso, Barão de Cocais vive à sombra das tragédias onde a lama da mineração arrastou quase 300 vidas, nas cidades mineiras de Mariana e Brumadinho. Em solo cocaiense está a barragem Sul Superior da Mina de Gongo Soco, com risco iminente de ruptura, e a barragem Norte Laranjeiras, com operações suspensas.
“Os preparativos para a descaracterização da barragem Sul Superior já foram iniciados e a contenção da estrutura está concluída. Essas duas ações representam mais segurança para as comunidades próximas e um importante passo para que as pessoas impactadas de Barão de Cocais retomem suas rotinas”, defende a empresa.
A Vale também comentou programas sociais para minimizar danos em Barão de Cocais. “Ao mesmo tempo, os empreendedores locais ganharam um programa específico para as características regionais de incentivo à economia e geração de renda, o Projeto Horizonte. As 163 famílias realocadas das zonas de autossalvamento das barragens Sul Superior e Norte Laranjeiras, estão em moradias escolhidas por elas próprias, com custeio de despesas fixas, cesta básica e gás feito pela Vale. Elas são assistidas pela equipe especializada em Relacionamento com a Comunidade e acompanhadas pelos profissionais do Programa Referência da Família, com cerca de 45 mil atendimentos psicossociais realizados. Paralelamente, o Plano de Compensação e Desenvolvimento segue avançando. O plano foi construído e é conduzido junto com as comunidades e o poder público, levando em conta as vocações do município para seu desenvolvimento”.
*Por Gustavo Linhares, Luciano Vidal e Wesley Rodrigues