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Arthur Lira é a mais autêntica reencarnação do caricato “coroné” nordestino

PEC

Foto: Arquivo/Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Primeiro ato. No início desse mês, o governo de Alagoas preparou um grande evento para a entrega de casas populares de um conjunto habitacional, em Maceió. No palanque oficial estavam o presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente Fernando Collor e Arthur Lira, presidente da Câmara. E começa o falatório de sempre. O festival de bajulações.

De repente, o mestre de cerimônias anuncia o discurso de Benedito de Lira- popular Biu de Lira- prefeito de Barra de São Miguel, um pequeno município da Região Metropolitana da capital alagoana. Desponta no cenário um personagem exótico. Um idoso (80 anos) baixinho e bastante magricela. O homem serelepe trajava camisa branca e surrado paletó aparentemente cinza (ou ex- cinza). Para completar o figurino, um descorado (ou deslocado) boné branco enfeitava a miúda cabeça.

O “artista” entrou no palanque demonstrando que era o dono do pedaço. Ele era o cara.  Exalava arrogância. O apresentador tentou passar outro microfone para a escalafobética figura, mas foi repelido com certa brutalidade. O velhote era impulsivo. E o discurso parecia não ter fim.  Em certo momento, um gaiato se impacientou e gritou no meio do público: “chega, o senhor já falou demais.” O estranho orador olha furibundo na direção do atrevido e dispara aos berros: “você não me conhece? Você não conhece a história de Alagoas! Sai daqui! Vai embora, filho da puta”.

Um imenso constrangimento invadiu a paisagem.  Bolsonaro e Collor esboçaram um sorriso amarelo. O presidente da Câmara soltou sonora gargalhada. Biu de Lira mais parecia um personagem de Jorge Amado. Mas, quem é esse “distinto” chefe do executivo de uma “cidadezinha qualquer” do interior nordestino? É o pai de Arthur Lira, o senhor da República. E, como se nota: tal pai, tal filho.

Segundo ato. Arthur Lira é bolsonarista. Mas, de repente, pode virar lulista, cirista, tebetista e até janonista. O sujeito é uma “metamorfose ambulante” da política. Muda de lado sem nenhum acanhamento. Tudo depende das circunstâncias de alternância do poder. O dono do Centrão dança conforme a música do fisiologismo. Com ele não tem esse papo de ideologia. Esquerda ou direita é apenas mera fotografia na parede. Lira é simples arrivista. Está na área para defender os interesses de sua tropa (de choque).

O rei Arthur manobra escandalosamente os mecanismos institucionais da Câmara a bel prazer. Manda e desmanda naquela região de Brasília. Age como um ditador caricato de republiqueta de bananas. Muito naturalmente esbofeteia a Constituição e atropela o regimento interno da casa legislativa. Truculento, arrogante, tosco e virulento.

O presidente da Câmara é a mais genuína personificação dos velhos coronéis de engenhos do Nordeste brasileiro. No fundo, um ser que escapuliu das encantadoras páginas de José Lins do Rego. O parlamentar alagoano é um dos monstrengos que habita os engenhos de fogo morto. Esse é o autocrata Arthur, o mandarim maior do Brasil.

Jair Bolsonaro é muito dependente desse político arcaico. Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet e André Janones também não conseguiriam escapar do estapafúrdio ‘coroné’. O lema “lirense” é esse: “o Centrão acima de tudo. Deus acima de todos”.  E assim funciona o mais periférico bananal do planeta.

PS1: a constituição de Arthur Lira tem outro nome: “emendas de relator do orçamento”.

PS2: o prefeito Biu de Lira já foi vereador, deputado estadual, deputado federal e senador. Pasmem!!!

PS3: apenas dois presidentes tiveram a coragem e ousadia de peitar o Centrão: Fernando Collor e Dilma Rousseff. O resto da história todo o mundo sabe.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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