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As incríveis eleições de 1982 e a inusitada chegada de José Maurício Silva ao poder

José Maurício

Foto: Acervo/Prefeitura de Itabira

As eleições de 1982 foram ícone na história do Brasil. Depois de 18 anos, haveria uma escolha livre e direta para governadores. A insurreição civil/militar de 1964 usurpou esse direito do eleitorado.

Em Minas Gerais, o pleito apontaria o sucessor do “governador biônico” Francelino Pereira. Quatro candidatos disputaram o Palácio da Liberdade. Eliseu Resende  (PDS) e Tancredo Neves (PMDB) fariam um duelo de titãs. A professora Sandra Starling foi o nome do Partido dos Trabalhadores (PT). O PT – fundado em 1980 – fez o seu “avant- première” nas urnas. O PDT de Leonel Brizola entrou na corrida com Teotônio dos Santos.  

O processo eleitoral se desenvolveu de forma bastante intensa em Itabira. Foi uma das mais emocionantes campanhas de todos os tempos. Naquela época, um malabarismo típico de republiquetas de bananas permitiu a subdivisão das agremiações partidárias.   

Assim, o PDS tripartiu-se e entrou literalmente na “briga” com três postulantes à Prefeitura. PDS1: José de Grisolia, PDS2: o vereador José Vital da Silva e PDS3: Wilson Gontijo, um médico muito popular e bem conceituado. O PMDB virou dois: o PMDB1 teve como cabeça de chapa o ex-prefeito Virgílio José Gazire. O ex- vereador Pedro Drumond foi escolhido para o PMDB2. O Diretório Municipal do PT participou com muito entusiasmo da contenda. Os “companheiros” tentaram chegar ao poder com Vicente Romão, um trabalhador da então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).  

Um trio local também pleitearia uma vaga na Assembleia Legislativa. O ex-prefeito Jairo Magalhães Alves afastou-se da chefia do Executivo e entrou na luta pelo parlamento. O vice-prefeito Milton Dias dos Santos( popular Miltão) concluiu o mandato. O ex-presidente da Câmara José de Almeida Sana competiu pelo PDS e o médico José Afonso Assis Cabral foi o representante do PT.  

A designação do candidato a vice do PMDB1 só aconteceu depois de pequeno impasse. Motivo: Virgílio Gazire convivia com grave doença renal.  Imaginava-se que, caso se elegesse, ele se afastaria para tratamento de saúde em algum momento da gestão. O favorito para compor a chapa com Gazire era Joaquim Alvarenga, um renomado técnico da CVRD. O jovem advogado José Maurício Silva (com pouco mais de trinta anos) manobrou com eficiência e emplacou a vice.  

A corrida eleitoral foi tensa, dramática, nervosa e até certo ponto hilária. Os três “atores” do PDS quase saíram literalmente no tapa. Mas tudo acabou em paz. Resultado final: Virgílio conquistou a vitória nas urnas e Jairo Magalhães se elegeu deputado. Oito meses depois da posse, o prefeito eleito morreu.  

O surpreendente José Maurício Silva assumiu a Prefeitura. A sociedade Itabirana entrou em pane diante da nova situação. Afinal, Maurício Silva não tinha experiência política e pouco sabia de administração pública. Era neófito nos dois quesitos. Mas havia na praça um paliativo de nome Fábio Sampaio. Esse personagem era eminência parda do poder municipal, uma espécie de primeiro-ministro de Mato Dentro. Ele  mandava e desmandava na Prefeitura, desde a época de Jairo Magalhães. Foi mantido no cargo por Virgílio Gazire. 

Sampaio foi um excelente gestor. Conhecia muito bem os segredos do bom desempenho da máquina pública. Era muito hábil nas artimanhas da arte de fazer política. Enfim, esperava-se que esse “gerentão” colocasse a nova administração da cidade num caminho mais promissor. 

Mas o inusitado fez uma das grandes surpresas da história da terra de Drummond. A cena do próximo capítulo causou perplexidade e  preocupação. Com poucos dias de mandato, Zé Maurício tomou uma decisão pra lá de polêmica: botou Sampaio pra fora da Prefeitura. A demissão do “todo-poderoso” elevou a temperatura.

A fofoca tomou conta dos quatro cantos. O popular “Fabinho” redigiu uma curta e enigmática mensagem e se despediu da Prefeitura: “Na política, como diria Talleyrand, a traição é uma questão de tempo”, desabafou o quase premier. Fábio Sampaio jamais deixou muito claro sobre quem traiu quem, como e quando.

PS1: O governo José Maurício Silva teve uma duração de seis anos (1983 a 1988). Houve um acréscimo de mais dois anos no mandato original. A poucos meses das eleições para novos prefeitos e vereadores, a ditadura alterou as regras do jogo. O pleito foi cancelado devido a uma suposta ameaça de “perturbação da ordem pública”. Apesar das expectativas desfavoráveis, Zé Maurício fez muito bom governo. Confira algumas das suas realizações: implantou a Policlínica Municipal de Saúde, terminou as obras do Parque de Exposições Virgílio Gazire, fundou a Empresa de Desenvolvimento de Itabira (Itaurb) e construiu o atual prédio da Prefeitura. Na área da cultura, criou a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. Zé Maurício foi, também, um dos idealizadores da Associação de Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig).

PS2: Fábio Sampaio deixou a Prefeitura e assumiu a principal assessoria do deputado Jairo Magalhães. Ele permaneceu na Assembleia durante os dois mandatos do parlamentar. 

PS3: Para não deixar dúvidas: o ex-prefeito Jairo Magalhães Alves construiu o Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade – o prédio com teatro e biblioteca.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato

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