Por meio de uma nota enviada à reportagem da DeFato, a Associação do Boa Esperança, em Itabira, rebateu as declarações feitas ontem (18) pela presidente do Saae, Karina Lobo. A líder da autarquia responsabilizou a população do bairro pelos problemas apresentados nas fossas sépticas instaladas na comunidade em 2022. No comunicado, a entidade, presidida pela empresária Jordana Dias, se disse “extremamente humilhada” pelo discurso de Karina Lobo, que você conferir clicando aqui.
O que diz o posicionamento
Em um dos trechos da nota, a associação classificou como “desumana e degradante” a condição dos moradores do Boa Esperança após os transtornos. Além disso, o manifesto afirma que o Saae não fez o planejamento correto de instalação das fossas, tampouco orientou a população sobre o uso correto dos equipamentos.
A associação ainda enfatiza que o bairro Boa Esperança sempre esteve à margem das políticas públicas, o que obrigou seus moradores a encontrarem as soluções possíveis para manterem as mínimas condições de vivência humana. Leia a nota completa logo abaixo.
“Nota de esclarecimento.
A Associação dos Amigos e Moradores do bairro Boa Esperança vem, por meio desta nota, esclarecer fatos apontados pela presidente do SAAE Karina Lobo, que durante reunião de comissões da Câmara Municipal de Vereadores de Itabira, realizada na tarde desta segunda feira 18/09/23, onde a presidenta, em entrevista ao Portal DeFato Online, afirma que os problemas enfrentados por alguns moradores do Boa Esperança após a instalação de biodigestores em suas casas teriam acontecido por culpa dos próprios moradores, que não construíram caixas de gordura ou que estão despejando produtos inadequados para o correto funcionamento dos biodigestores.
Os equipamentos apresentaram problemas crônicos como mau cheiro, transbordamento e retorno de dejetos para dentro das residências, pouco tempo após instalados, e a autarquia responsável e a empresa, mesmo cientes do problema há vários meses, não conseguiram resolver, tampouco esclareceram ou citaram a justifica levantada por ela das caixas de gordura.
A partir dos problemas, alguns moradores, não suportando tal condição desumana e degradante em ver dejetos humanos retornarem para dentro de suas casa, desativaram as fossas. E alguns moradores afirmam, ainda, que foram constrangidos durante a instalação das fossas, não sendo corretamente orientados, tampouco recebendo nenhum material orientativo.
Frisamos ainda que o SAAE não fez o devido trabalho de planejamento das instalações, de conscientização com os moradores, tampouco análise concreta da viabilidade técnica dos modelos instalados, uma vez que as casas já existem ha décadas, sendo em muitas casas impossível separar o esgotamento uma vez que as redes estão debaixo das mesmas. E frisamos ainda que o bairro cresceu à margem das políticas públicas e que conviveu por décadas sem nenhum planejamento governamental, tendo os moradores com seus esforços e fazendo o que seria possível com os recursos que possuíam mantendo as condições de vivência urbana.
Portanto, não há o que se falar em culpa das pessoas, uma vez que elas não foram corretamente orientadas. Tão pouco da possibilidade ou viabilidade de separação das águas dentro da residências, ou proposição de execução por parte do SAAE nas adequações necessárias. E ainda da falta de diálogo claro com a comunidade, que mesmo não tendo o esgoto coletado continua pagando altíssimas taxas de esgoto.
Por fim, nos sentimos extremamente humilhados com a fala de uma agente pública – que ocupa uma das mais relevantes pastas municipais e cuida da água do itabirano (e água é vida) -, que transferiu para os moradores a culpa da falta de planejamento e de resolução de problemas por parte do poder público”.
Entenda o caso
Há pouco menos de um mês, um episódio do quadro DeFato nos Bairros relatou a situação dos moradores do Boa Esperança. Em 2022, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) instalou na comunidade fossas sépticas. Porém, poucos dias depois os itens entupiram e começaram a transbordar pelos terrenos, gerando inúmeros transtornos. Desde então, o problema não foi resolvido.
Questionada pela reportagem da DeFato sobre a situação, durante prestação de contas feita na Câmara de Itabira nesta segunda-feira (18), Karina Lob responsabilizou os moradores pelas falhas. De acordo com ela, as fossas sépticas – cuja instalação contou com o auxílio da empresa Hydrotech Brasil e custou mais de R$ 1,4 milhão – utilizam o sistema biodigestor.
Diferente do emissário de esgoto, este sistema, diz Karina, faz o “processo de conversão do esgoto em uma água que seja adequada para retornar ao rio dentro daquelas próprias instalações, através de bactérias que vão consumir o esgoto que está ali”.
A presidente do Saae também detalhou que o serviço é feito em três etapas, sendo a última a instalação de uma caixa de gordura. E foi aí que os problemas começaram. Isso porque os moradores descartaram produtos de limpeza e outros impróprios a este tipo de fossa séptica, afirma Karina.