Rebeca Andrade continua cravando seu nome entre as melhores ginastas da atualidade. A atleta do Flamengo fez história em Liverpool, na Inglaterra, na quinta-feira (3), tornando-se a primeira brasileira a conquistar o título mundial no individual geral. A consagração veio com apresentação perfeita no solo, ao som de baile de favela, e muitos aplausos até das rivais. Depois de liderar nos três primeiros aparelhos da final, ela fechou com estilo, somando 56,899 pontos, para superar a americana Shilese Jones, prata com 55,499, e a britânica Jessica Gadirova, bronze com 55,199.
Com a bandeira do Brasil, muita dança e saltos de felicidade, a ginasta de Guarulhos comemorou muito o inédito título. Antes mesmo da confirmação da medalha de ouro, ele já era aplaudida de pé pelos presentes após brilhar e ver Shilese Jones não se destacar na hora decisiva.
Única brasileira a ganhar duas medalhas em um Mundial, com ouro no salto e prata nas assimétricas em Kitakyushu, no Japão, ano passado, Rebeca Andrade chegou como grande favorita à decisão em Liverpool, após confirmar o primeiro lugar no classificatório. Queria subir no topo do pódio após ficar com a prata na Olimpíada de Tóquio no individual geral.
Com um salto cravado, perfeito, Rebeca Andrade iniciou a rotação da decisão com a melhor nota entre as 10 finalistas. Foi a única a superar os 15 mil pontos, com 15,166, 0,433 na frente da americana Jade Carey. Foi uma resposta após falhar na classificatória, ao ficar somente no 12º lugar, fora da final individual no aparelho.
A brasileira continuou dominando a decisão ao passar bem pelas assimétricas. A brasileira fechou a segunda rotação com 28,966, agora superando outra ginasta americana, Shilese Jones, com 28,599, na frente da compatriota Carey, com 27,899.
Mostrando bastante concentração, a brasileira também não decepcionou na trave, marcando 13,533 e indo para o solo – último aparelho – com vantagem, com 42,499 no total. Sua principal concorrente, Shilese Jones tinha de tirar uma diferença de 0,800 no giro final. O bronze, após três rotações, estava com a britânica Alice Kinsella, já com 1,600 ponto a menos que Rebeca.
Rebeca foi a última a ir para o solo, precisando de menos de 13 mil para ser a campeã. Com um espetáculo ao som de baile de favela, cravou todos os movimentos e fechou a apresentação com chave de ouro, somando mais 14,400 pontos e sobrando na primeira posição. Shilese fez 13,700 no solo, superada por Gadirova no aparelho, também com 14,400 que valeu o bronze.
Rebeca Andrade festeja ouro inédito: “Sonho é seguir fazendo história”
Rebeca Andrade nem bem recebeu a inédita medalha de ouro no individual geral para um brasileiro do Mundial de Liverpool, e já era parabenizada por todos. Enquanto tentava agradecer às tantas mensagens de parabéns no celular e os aplausos das arquibancadas, a atleta de Guarulhos falou da emoção de subir no topo do pódio na mais nobre prova da ginástica artística. “Muito orgulhosa”, como fez questão de frisar, revelou que os planos para o futuro são de “seguir fazendo história.”
Com enorme humildade e sem conseguir segurar a euforia, Rebeca Andrade falou ao SporTV sobre o que estava sentindo logo após ouvir o Hino Nacional e ser ovacionada em Liverpool, já com a medalha dourada no pescoço.
“Significa todo o meu trabalho, da equipe multidisciplinar, das equipes que treinam comigo, que dão apoio. Estou muito orgulhosa de mim e de todas que se apresentaram, sei que trabalham muito também”, afirmou, sorridente.
Diferentemente do que muitos pensam em disputas individuais, Rebeca garantiu que não fica pensando no que as concorrentes estão fazendo, tampouco torcendo contra. “É um orgulho enorme”, repetiu. “Eu trabalho com minha psicóloga (para ficar tranquila e concentrada), não gosto de pensar sobre o que as outras estão fazendo e sim no que eu tenho de fazer. Sei que não tenho de inventar nada novo, já treinei, procuro apenas respirar fundo e fazer”, afirmou.
Bem em todos os aparelhos na final, Rebeca não escondeu que ainda sofre com a trave. Mas se divertiu ao avaliar o desempenho desta quinta-feira. “Tive alguns ‘arranca rabos’ com ela, mas fui até o final. Trave é um teste de coração. Mas senti em mim que estava bem, vejo quando estou evoluindo”.
Futura psicóloga, Rebeca deu uma grande lição a quem sonha em se destacar no esporte. Faça seu trabalho bem-feito, sem precisar torcer pelo tropeço dos outros. “Não percebo as meninas abaladas Vejo-as fazendo, mas sigo muito concentrada nos meus pensamentos. Se elas se sentem abaladas, não devo ligar, preciso só pensar em fazer o meu melhor. Se ficamos pensando nos outros, não pensamos no nosso e isso pode atrapalhar”.
Fim de festa na favela
Rebeca Andrade vai iniciar em 2023 um novo ciclo na ginástica artística, e “Baile de Favela” não estará mais no repertório do solo. Ela dá adeus à música que a consagrou com ouro e muita satisfação.
“Serviu para mostrar do que sou capaz, estou orgulhosa por levar essa música ao mundo todo, e é muito difícil me despedir dela. Vou buscar uma série que represente o que essa representou”, revelou. “O público levanta. No Brasil, o povo entende a dificuldade dos atletas, da pessoa preta, e de alguma forma busca ajudar. Eu tive muita ajuda no início, os vizinhos emprestavam dinheiro, tinha de pegar condução… Isso representa a história da minha vida. Sei quem eu sou e sonho continuar fazendo história”.
Após o solo, a organização mostrou uma nota 12,901, que na verdade era o que Rebeca precisava pelo ouro. Por “não enxergar”, garante não ter se assustado. “Soltaram e logo tiraram e quando veio a minha nota todo mundo gritar. Se fosse, paciência, e tudo bem. Mas foi maior e fiquei muito feliz”, celebrou, antes de mandar uma mensagem de agradecimento ao País.
“Gostaria de mandar beijos a todos os fãs, aos torcedores, ao povo todo que estava torcendo. Quero agradecer minha família pelas orações, a Deus por poder estar aqui, por me permitir mesmo com as tantas lesões, levar alegria e orgulho ao Brasil. É isso, amo vocês”.