Na madrugada desta quarta-feira (9), os jogadores da seleção brasileira utilizaram as redes sociais para divulgar um manifesto sobre a realização da Copa América no Brasil. No texto, os atletas se posicionaram contra a competição que começa no próximo domingo (13), em solo nacional, mas, apesar da insatisfação, confirmaram a participação no torneio. “Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à seleção brasileira”. A declaração em conjunto aconteceu após a vitória sobre o Paraguai, na noite de terça-feira (8), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.
No manifesto, os jogadores explicam que não houve tentativa ou sugestão de boicote à Copa América. Assim se limitaram a expor o desconforto com as mudanças de sede e dificuldades com a organização. “Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil. Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização”, dizem os jogadores.
“É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia, estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros”.
As informações sobre o descontentamento de integrantes da seleção brasileira surgiram logo após o anúncio de que o Brasil passaria a receber o evento, diante das negativas de Colômbia e Argentina, países que originalmente abrigariam a competição. A insatisfação de jogadores e comissão técnica veio ao encontro da repercussão negativa em sediar a Copa América no Brasil mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus com números que ultrapassam os 470 mil mortos.
Além da situação da pandemia, outro fator que abalou a relação da seleção com a direção da CBF foi a falta de aviso e consulta aos atletas sobre a vinda do torneio para o país. Jogadores ficaram decepcionados com a postura do presidente afastado Rogério Caboclo. O dirigente é acusado de assédio moral e sexual por uma funcionária da entidade. O afastamento será pelo prazo de 30 dias.
Antes do duelo com o Equador, na última sexta-feira (4), o técnico Tite já havia pedido que seus comandados se concentrassem na missão de levar o País a mais uma Copa do Mundo. Mas deixou clara a insatisfação de sua parte e também dos atletas. Após o jogo, o volante Casemiro não entrou em maiores detalhes e reforçou as informações anteriores repassadas pelo treinador.
Nesta quarta-feira, Tite fará uma nova convocação para definir os nomes que atuarão na competição sul-americana. A expectativa é que haja mudanças, uma vez que alguns atletas podem ser chamados para atuar pela seleção olímpica. O Brasil defende o ouro em Tóquio, e alguns jogadores já se mostraram interessados em participar novamente dos Jogos.
A Copa América tem início agendado para 13 de junho. Em Brasília, no estádio Mané Garrincha, às 18h, a seleção brasileira enfrenta a Venezuela, pelo Grupo B. No mesmo dia, às 21h, Colômbia e Equador duelarão na Arena Pantanal, em Cuiabá. Em 14 de junho, será a vez da Argentina começar sua jornada na competição, enfrentando o Chile, no Engenhão, às 18h. Mais tarde, às 21h, Paraguai e Bolívia jogam em Goiânia. A final do torneio está marcada para 10 de julho, no Maracanã.
Tite afirma que jamais pensou em deixar comando da seleção brasileira
Quatro dias após dar uma entrevista visivelmente incomodado, com voz baixa e com sentimento de despedida por causa do clima ruim em torno de seleção brasileira, Tite subiu o tom após a vitória diante do Paraguai e garantiu que jamais pensou em deixar o comando da equipe. No dia que prometia esclarecimentos, o treinador foi evasivo e falou pouco de futebol.
“Eu pensei no meu trabalho e nas exigências que eu teria a cada dia. Continuamos trabalhando e tenho de fazer um agradecimento especial, pois a minha energia ficou voltada para isso. Não sou hipócrita e não sou alienado. Eu sei que as coisas aconteceram. Mas sei também dar prioridade, que é cuidar do meu trabalho”, afirmou o técnico.
Cuidadoso com as colocações e sempre evitando polêmicas, Tite se esquivou o máximo possível ao falar sobre o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, com quem estaria em rota de colisão nos últimos dias e, deste maneira, correndo risco de deixar o comando da equipe nacional.
Questionado se sua decisão seria diferente “se” Caboclo ainda estivesse no comando, ele respondeu sem convicção, com ironia e demonstrando certo incômodo. “Se não tivesse parado de jogar com 27 anos, não seria técnico. Iria até uns 40. ‘Se, se’. Sobre ‘se’ não dá para responder”, desconversou.
Também se esquivou quando questionado sobre as polêmicas dos últimos dias. Nada de esclarecer o que pensa sobre a imposição ao grupo de disputar a Copa América e sobre uma possível pressão para sua demissão.
“Meu limite é o da serenidade e paz, de trabalho. De respeitar a todos com o mesmo cuidado com que Marquinhos foi feliz em dizer, de não colocar palavra na boca dos outros. A informação verdadeira é grande prevenção. Tem de saber da situação. Temos posições, mas a grandeza de buscar um momento particular de externar”, afirmou.
Sobre a vitória do Paraguai, disse apenas que veio num duelo com enorme grau de dificuldade e que foi facilitada pelo gol cedo. “O fato de sair na frente deu condições de administrarmos o jogo, não precisamos ir buscar o gol toda hora. A pressão foi para o lado do Paraguai”.
Juninho Pernambucano demonstra apoio a Tite e a elenco
Mantendo sintonia com seus subordinados na CBF, Juninho Pernambucano fez questão de exaltar o trabalho do treinador, principalmente nas últimas semanas, e defendeu o manifesto em que os atletas se dizem contra a realização da Copa América.
Chefe de Tite, Juninho fez a demonstração de apoio nos instantes finais da entrevista coletiva após a vitória sobre o Paraguai. Sentado ao lado do treinador, ele pediu a palavra e reforçou o sentimento de união do grupo.
“Estou aqui para reiterar o manifesto dos atletas. É um manifesto que nos representa. São jogadores, comissão e a delegação de todos os profissionais que trabalham com maior afinco para que a CBF possa dar as melhores condições de trabalho para todos vocês”, declarou o coordenador da seleção.
Demonstrando certo alívio, Juninho exaltou as duas vitórias conquistadas pela seleção nesta Data Fifa — contra Equador e Paraguai — em meio a uma série de polêmicas envolvendo a CBF.
“Tivemos semanas desgastantes. Quero parabenizar o Tite e a comissão. O trabalho não foi fácil, mas foi de excelência. Estamos felizes de conquistar, de fazer história, de participar, comandar um grupo de profissionais tão competentes. Dizer isso é importante. Até em nome da entidade, a satisfação em tê-los, a satisfação com o trabalho é grande”, comentou.
E reiterou que a prioridade da seleção é a Copa do Mundo, por meio da disputa das Eliminatórias, em detrimento da Copa América “O foco principal sempre foi a Copa do Mundo e as Eliminatórias já são Copa do Mundo.”
Com estas declarações, Juninho sustentou o discurso dos jogadores, insatisfeitos com a decisão da Conmebol e da CBF de realizar a Copa América no Brasil, após as desistências da Colômbia e da Argentina. Os dois países abandonaram o torneio por questões internas e também devido à pandemia.
Confira o manifesto dos jogadores brasileiros na íntegra
“Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor nossa opinião quanto a realização da Copa América.
Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas. Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil.
Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização.
É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política. Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia, estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros.
Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira”.