Os números da economia divulgados nessa semana não deixam dúvidas: se olharmos da porteira para fora, comparado com outros países emergentes e desenvolvidos, o Brasil está melhor do que o resto do mundo, e, se olharmos da porteira para dentro, apesar da pandemia e da guerra, estamos saudáveis e fortes como nunca estivemos há anos.
O Fundo Monetário Internacional divulgou suas projeções de crescimento da economia global, das regiões e dos países. Tendo em vista a inflação que vem castigando o consumo das famílias e exigindo dos bancos centrais uma política mais austera na elevação dos juros, a economia real vem perdendo fôlego e a sombra da recessão começa a tomar contornos reais. A economia americana entrou tecnicamente em recessão com a divulgação prévia da retração de -0,9% no PIB do segundo trimestre. Na zona do euro, o PIB cresceu 0,7% no mesmo período, mas o PIB da maior economia da região, o alemão, ficou no zero a zero.
Na China, o governo já admitiu que não conseguirá cumprir a meta proposta de crescimento de 5,5% para 2022, e, que continuará adotando as medidas necessárias para conter o vírus da Covid-19. O setor imobiliário chinês atravessa a sua pior crise e pode desencadear uma crise de crédito. O pano de fundo desses desarranjos permanece sem data para acabar, a guerra entre Rússia x Ucrânia. Pelos últimos movimentos no front e pelas declarações russas parece que o objetivo pode ser o de anexar toda a Ucrânia, o que EUA e seus aliados da OTAN não devem permitir.
Diante desse cenário incerto e recessivo, exposto acima, o Brasil caminha na direção oposta, com perspectiva de maior crescimento e de menor inflação. O FMI, pelo segundo relatório consecutivo, revisou para cima as projeções de crescimento da economia brasileira, de 0,8% para 1,7%, em 2022. Se olharmos os números da arrecadação da Receita Federal, da geração de emprego formal, do CAGED, da PNAD contínua do IBGE, das contas públicas e das projeções de inflação e crescimento para o País conseguiremos fechar o nosso raciocínio.
Resumo da ópera: a boa gestão da política econômica em tempos de pandemia e guerra conseguiu promover uma recuperação forte e resiliente da economia brasileira porque protegeu a saúde, as pessoas mais vulneráveis, empresas e empregos. O gasto foi bem direcionado, os bancos públicos cumpriram seus papéis dando crédito a pequenas e médias empresas e fazendo com que os recursos chegassem na ponta necessitada.
A lei trabalhista reformada foi um pilar importante para o setor privado e a gestão das contas públicas conseguiu transformar um déficit de mais de R$700 bilhões de reais, ao final de 2020, em um superávit de mais de R$60 bilhões, ao final de 2021, dando credibilidade ao governo. Estamos colhendo o que foi plantado. O Banco Central independente continua fazendo o seu trabalho e a inflação brasileira deve fechar o ano em torno de 7%. O ciclo de altas da Selic pode ser encerrado na reunião de agosto, e, a taxa de juros deve terminar o ano em 13,75%.
A geração de empregos formais voltou a surpreender em junho com mais de 277 mil novas vagas no mês e um saldo de mais de 1,3 milhão no ano. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho) o saldo de postos formais de trabalho é recorde histórico com mais de 42 milhões de brasileiros trabalhando com carteira assinada. Os números do emprego calculados pelo IBGE reforçam os do Caged. Segundo o IBGE a taxa de desocupação de 9,3% é a menor desde junho de 2015. A população ocupada de 98,3 milhões de brasileiros é recorde histórico.
Na ponta da linha, a geração de empregos é o melhor e mais eficiente termômetro de uma economia e, ainda mais, quando ela acontece com as contas públicas em ordem e tendência de queda na inflação. O nome desse fenômeno, se mantido, é crescimento sustentável.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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