Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação (Cemaden/MCTI), as fortes chuvas que ocorreram em cidades do Sul e Sudeste do País, assim como a seca histórica registrada no Amazonas no segundo semestre de 2023, foram causadas por forte instabilidade no clima e pode se estender até o próximo ano. O instituto prevê que os efeitos do El Niño se intensifiquem a partir de dezembro e se prolonguem até fevereiro de 2024.
O fenômeno se dá em função do aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico próximas à linha do Equador, que altera a circulação dos ventos e a formação das chuvas em diferentes regiões do planeta.
Entrevistada pelo Poder 360, Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental do Amazonas (Ipam), alerta que “o próximo ano deve apresentar desafios ainda maiores do que os atuais e vamos ter uma situação de calamidade pior do que a que estamos vivendo”.
Ane Alencar alega que vários fenômenos ocorram simultaneamente, a exemplo do El Niño e da AMO (Oscilação Multidecadal do Atlântico), que aquece as águas do oceano na região equatorial e é agravado pelo aumento das temperaturas devido o aquecimento global.
Em 2023, o fenômeno provocou desequilíbrios climáticos em todo o País, com a região Sul enfrentando ciclone extratropical, sob influência do El Niño, atingindo centenas de cidade e deixando cerca de 50 mortos. No norte, o Amazonas está passando pela pior seca em 43 anos. O Centro-Oeste e o Sudeste vivem sob temperaturas muito acima da média, atingindo os 50º, no Rio de Janeiro.
Alencar explica que os impactos do El Niño variam em cada região, mas a Amazônia causa maior preocupação: “vai ser um período chuvoso um pouco mais seco. A implicação disso é que, nesse período chuvoso, há uma recarga de água nos solos da Amazônia e dos rios que não vai ser completa. A gente já vem de uma estação seca muito severa que causou um estresse hídrico muito forte. A Amazônia não vai ser capaz de reduzir esse estresse a contento, o que vai levar a um período de seca muito maior”.
Para Alencar, conter o agravamento das condições climáticas e auxiliar a população mais afetada deve estar entre as prioridades do governo para o ano que vem. Como exemplo, ela cita ações planejadas e integradas do “quase proibir” o uso de fogo na época de seca, além de distribuir alimentos, assegurar o acesso e a distribuição de água potável para famílias impactadas e destinar recurso para as regiões em risco.
Os efeitos do El Niño esperados para as regiões do país são:
- Norte: secas moderadas a intensas;
- Nordeste: secas em diversas intensidades;
- Sudeste: aumento moderado das temperaturas médias, principalmente no inverno e no verão;
- Centro-Oeste: chuvas acima da média e temperaturas mais altas;
- Sul: chuvas acima do normal.