A terça-feira (30) prometia muito trabalho na Câmara de Itabira. Logo no início da tarde foi confirmado que, além da reunião ordinária, também seria realizada uma sessão extraordinária — com objetivo de aprovar em definitivo o subsídio para o transporte público, com redução na tarifa de ônibus, e o patrocínio da Prefeitura Municipal para o Valério. Porém, um pronunciamento do vereador Sidney Marques Vitalino Guimarães “do Salão” (PTB) causou alvoroço na Casa. Ele denunciou uma possível interferência do Executivo nos trabalhos do Legislativo, questionou a postura do presidente Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB) na condução de alguns processos e renunciou ao seu cargo na mesa administrativa do parlamento local.
O posicionamento de Sidney do Salão foi motivado pela condução adotada por Weverton Vetão para aprovação do Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa), que autorizou o governo Marco Antônio Lage (PSB) a contratar um empréstimo de R$ 99 milhões junto a Caixa Econômica Federal (CEF).
Durante a votação, Sidney do Salão, que é presidente da Comissão de Finanças, Orçamentos e Tomada de Contas, pediu, tanto verbalmente quanto por meio de requerimento, prazo maior para analisar toda a documentação relacionada ao empréstimo — que voltava a plenário após dois meses engavetado e apresentava algumas mudanças em relação à proposta inicial, sobretudo na taxa de juros. Porém, Weverton Vetão negou intempestivamente todas as solicitações.
“Desde o projeto do Finisia, que [o processo] foi atropelado nesta Casa, e outros projetos que chegaram aqui, eu fiquei com um sentimento de muita revolta pelo jeito que as coisas foram conduzidas — pelos meus requerimentos e ofícios que não foram atendidos, bem dizer que nem foram discutidos. Então eu fiquei muito chateado por fazer parte da mesa e não ser ouvido”, declarou Sidney do Salão.
O petebista também ficou bastante incomodado com a manobra utilizada pela Prefeitura de Itabira para aprovar o pedido de financiamento. As primeiras tentativas de passar a proposta aconteceram em maio, porém, naquela ocasião, era necessária a concordância de dois terços dos vereadores — quantitativo que o Executivo não possuía. Entretanto, o governo Marco Antônio Lage acionou a Justiça para alterar o quórum de votação para maioria simples, permitindo que o empréstimo fosse, enfim, confirmado no Legislativo.
“Essa interferência do Executivo com o Legislativo tem prejudicado muito e trazido uma revolta muito grande. Não é o que vim apresentar aqui [na Câmara] e eu não compactuo com isso”, disparou Sidney do Salão.
Apesar de ter anunciado a sua renúncia ao cargo de 2º secretário da mesa administrativa da Câmara de Itabira, o petebista ainda pode voltar atrás na sua decisão. “Eu conversei com o presidente [Weverton Vetão] e ele me pediu uma semana para a gente sentar e conversar para chegar a um consenso do que vai ser melhor para esta Casa, pois já está finalizando o mandato também”, relatou Sidney do Salão, que promete confirmar ou não o seu posicionamento na próxima reunião ordinária, programada para acontecer na terça-feira, 6 de setembro.
Outro lado
Em entrevista ao portal DeFato, o presidente da Câmara Municipal de Itabira, Weverton Vetão, tratou a decisão de Sidney do Salão como divergências políticas e afirmou acreditar que é possível buscar um entendimento para que o colega desista de renunciar ao cargo.
“O Sidney pediu um prazo de uma semana para rever a decisão dele. Nós temos divergências políticas, principalmente de posicionamento, o Sidney defende uma bandeira e eu outra. Eu acho que naquela condução do Finisa, e ele deixou bem claro, ficou um pouco do nosso relacionamento desgastado, mas nada que eleve a esse nível. Eu entendo e compreendo muito a decisão do Sidney e tenho certeza que ele vai rever o posicionamento dele e que vamos continuar com o belíssimo trabalho que estamos fazendo há um ano e meio, pois essa mesa conseguiu elevar os trabalhos legislativos”, avaliou Weverton Vetão.
Em relação às supostas interferências do governo Marco Antônio Lage na Câmara de Itabira, Weverton Vetão negou qualquer movimento nesse sentido. “Não existe. Eu já estive do lado de lá [oposição] e sei me colocar desse outro lado também. A gente sabe dos meus posicionamentos, mas, desde o início, eu sempre mantive uma seriedade muito grande. Não tem sido colocado projetos a toque de caixa, pelo contrário, o pessoal até fala ‘vocês da situação estão demorando a fazer os movimentos’. Nós temos que respeitar tudo isso”, declarou.
Procurada pelo porta DeFato, a assessoria de comunicação do Executivo Municipal afirmou que “em respeito à independência entre os poderes, a Prefeitura reafirma o respeito ao Legislativo e não comenta questões internas da Câmara ou posicionamento individual dos parlamentares”.
Posicionamento oficial
Assim que terminou a sessão extraordinária, a assessoria de comunicação da Câmara de Itabira emitiu uma nota oficial sobre o pronunciamento do vereador Sidney do Salão. Confira na íntegra:
O vereador Sidney Marques Vitalino Guimarães “do Salão” (PTB) solicitou na tarde desta terça-feira (30) a sua saída da mesa diretora da Câmara Municipal de Itabira eleita para o biênio 2021-2022. A decisão do petebista, que ocupa a função de 2° secretário do Legislativo itabirano na 37ª Legislatura (2021 – 2024), pegou a todos de surpresa.
A decisão foi oficializada por meio do requerimento nº 81/2022, apresentado pelo vereador enquanto fazia uso da tribuna. Em sua justificativa, Sidney do Salão afirma que nas últimas semanas teve requerimentos e indicações negados a serem atendidas por parte do presidente da Casa, vereador Weverton Leandro dos Santos Andrade “Vetão” (PSB). Sidney do Salão alega ainda interferências do Executivo nos trabalhos do Legislativo.
No entanto, cabe esclarecer que as decisões tomadas pelo presidente são sustentadas pelo Regimento Interno do Legislativo itabirano. Em conversas, Weverton Vetão e Sidney do Salão entraram em um acordo para que o mesmo repense sua decisão até a próxima reunião ordinária, a ser realizada na terça-feira, 6 de setembro.
Nova composição
Caso Sidney do Salão mantenha a renuncia, haverá duas alternativas para preencher a vaga de 2º secretário na mesa administrativa do Legislativo. O vereador mais antigo na Casa pode assumir o cargo ou, então, realizar uma eleição direta entre os parlamentares. “Como já passou de 270 dias da [posse da] mesa [administrativa], caberá ao mais velho ou fazer uma eleição direta entre a gente [vereadores]. Mas eu acredito que o Sidney vai se acalmar e as coisas vão seguir”, explicou Weverton Vetão.
Além de Sidney do Salão, como 2º secretário, e Weverton Vetão, como presidente, também compõem a mesa administrativa da Câmara os vereadores Rosilene Félix Guimarães (MDB), como vice-presidente, e Reinaldo Soares de Lacerda (PSDB), como 1º secretário.