Interesse de médicos pela pediatria cai 50% no Estado
A escassez de pediatras nos serviços público e particular de saúde, que leva pacientes a serem atendidos por clínicos gerais ou médicos de outras especialidades, é reflexo do desinteresse cada vez maior dos médicos recém-formados em escolher a tarefa de cuidar de crianças como missão de vida. Em Minas, a procura pelo título de pediatra […]
A escassez de pediatras nos serviços público e particular de saúde, que leva pacientes a serem atendidos por clínicos gerais ou médicos de outras especialidades, é reflexo do desinteresse cada vez maior dos médicos recém-formados em escolher a tarefa de cuidar de crianças como missão de vida. Em Minas, a procura pelo título de pediatra caiu 50,6% entre 2000 e 2011.
Apesar do leve aumento registrado entre 2010 e o ano passado, a rejeição à área preocupa autoridades de saúde e aponta para um futuro em que os especialistas em infância vão se tornar ainda mais raros.
Números divulgados ontem durante o congresso anual da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), em Belo Horizonte, mostram que, da mesma forma que em outros Estados, a assistência em Minas sofre as consequências de salários baixos e da desvalorização dos profissionais, na opinião do presidente da entidade, Paulo Poggiali.
"As falhas na gestão da saúde pública e da suplementar levam à defasagem na remuneração e às más condições de trabalho", explica. Na média nacional, o interesse pelo título de pediatra caiu 40,5% na primeira década do milênio. Por outro lado, o número de médicos de outras especialidades cresceu 11,75% nos últimos 15 anos.
Minas tem 2.500 pediatras titulados para atender uma média de 6,8 milhões de habitantes de até 19 anos – uma média de 2,72 pediatras a cada mil crianças e adolescentes. O índice é superior ao recomendável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de um profissional para cada mil jovens.
Para Poggiali, o problema mais grave é a distribuição injusta dos profissionais. A região metropolitana de Belo Horizonte concentra 50% dos pediatras do Estado. No interior, encontrar um profissional é ainda mais difícil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, 30% dos casos de rotina e 43% dos atendimentos emergenciais de crianças no país são feitos por médicos de outras especialidades. "O pediatra conhece melhor a saúde da criança. Para isso, ele estuda, no mínimo, oito anos", reforça o presidente da SMP.
Vocação
A dez meses de terminar a residência – período depois da graduação em que o médico aprende uma especialidade -, Júlia Damásio Coutinho, 28, guiou-se pela vocação quando escolheu a pediatria, após se formar pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Muitos recém-formados estão mais interessados em especialidades nas quais o vínculo com o paciente é menor, os atendimentos são breves e o retorno financeiro é imediato", afirma.
Risco
Erros. A rejeição à pediatria pode ser explicada também pelo alto risco de alguns procedimentos, o que aumenta a chance de erro médico, segundo o Conselho Regional de Medicina (CRM-MG).
QUEIXA
Categoria batalha por melhora na remuneração
Na rede pública, a remuneração inicial sonhada pelos pediatras é de R$ 9.000 para profissionais em início de carreira. "Mas o salário, na melhor das hipóteses, não passa de R$ 3.000", diz o secretário geral da Associação Mineira de Pediatria (AMP) e diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Fernando Luiz de Mendonça.
Um especialista, segundo ele, chega a atender até 60 pacientes em um plantão de 12 horas. Já no setor particular, cada consulta rende entre R$ 40 e R$ 60 – longe dos R$ 80 reivindicados pela categoria.
De acordo com o pesquisador Sábado Girardi, do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 17% dos postos de trabalho na pediatria estão vagos no Estado – na ginecologia, por exemplo, a taxa de vacância não passa de 7%. (JT)