Dívida de hospitais filantrópicos supera R$ 1 bi em Minas
Berçário vazio da Casa de Saúde e Maternidade São Sebastião, em Piranga: retrato do caos financeiro Saúde não tem preço, mas tem custo elevado. E isso Minas Gerais tem sentido na pele: os hospitais que deveriam dar resposta imediata às urgências estão tão doentes quanto os pacientes que os procuram. As santas casas e […]
Acumulando dívidas com fornecedores, médicos e bancos, muitos hospitais entram em coma. Responsáveis por mais de 60% do atendimento a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), essas entidades, muitas vezes referências em suas cidades, cobram ações e ajuda dos governos municipais, estadual e federal. Órgãos públicos se defendem questionando a má gestão das instituições e colocam em xeque a relação de médicos e unidades hospitalares. No meio do fogo cruzado, os pacientes têm o atendimento comprometido.
O balanço da Federassantas foi feito em 2005/2006, 2007/2008 – o de 2009 ainda está em andamento, mas, segundo a entidade, o valor pouco mudou desde o último. Desde 2005, a dívida tem girado em torno de R$ 1 bilhão. No primeiro levantamento, as entidades tinham um débito de R$ 1, 052 bilhão. No último estudo, chegou a R$ 1,109 milhão. “Fizemos com aqueles que nos mandaram os balanços, pois há instituição que nem sequer tem um levantamento do que deve. As que responderam são as principais do estado. Em Minas Gerais, são 360 hospitais filantrópicos e santas casas. O passivo pode ser maior”, comenta o presidente da Federassantas, Saulo Levindo Coelho.
De acordo com ele, a “crise é resultado da falta de vontade política dos gestores em ajudar . Por isso, lutamos pela regulamentação da Emenda 29, que obriga estados e municípios a aplicarem, respectivamente, 12% e 15% da arrecadação de impostos em ações e serviços de saúde ”. Na capital, a situação tem sido diferente. “A prefeitura tem ajudado muito, incentivando com recursos. O projeto de mil leitos do SUS na Santa Casa e os incentivos ao Hospital São Francisco, que chegou a fechar no ano passado, são exemplos”.
Pro-hosp
O caos é tão grande que, mesmo recebendo recursos do Pro-Hosp, programa estadual que repassa verba a hospitais sem fins lucrativos, as instituições passam dificuldades. Exemplo disso é o Hospital Siderúrgico, de Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce. Com uma dívida de R$ 12 milhões, o único na cidade a atender pelo SUS tem receita de R$ 400 mil e despesas de R$ 600 mil. “Tem dias que temos atendimento, outros não. Atendíamos cerca de 4 mil pacientes por mês, 60% do SUS. Há dois anos em crise, tivemos uma ajuda do estado, pelo Pro-Hosp, mas não adiantou”, lamenta Maricéia Morais Lage, gerente administrativa.
De acordo com o consultor da Secretaria de Estado de Saúde (SES), José Maria Borges, atualmente 127 hospitais credenciados no programa recebem recursos proporcionais às suas populações, que variam de R$ 2 a R$ 4 por habitante por ano. “Esses recursos tinham percentuais específicos para treinamento de pessoal em gerenciamento, melhorias de áreas físicas e equipamentos e custeio. Anualmente, cerca de R$ 130 milhões são alocados”, diz, afirmando que devido a problemas gerenciais com o gestor municipal, o hospital de Coronel Fabriciano, teve os recursos do Pro-Hosp interrompidos, mas garante que, em breve, a situação será normalizada.