Os sete pecados capitais do poupador brasileiro
Segundo pesquisa do Banco Mundial, apenas 11% dos brasileiros poupam para a velhice; país é o 101º entre 150 pesquisados sobre hábito de poupar
Segundo diz a tradição da Igreja Católica, o conceito de “pecados capitais” surgiu no quarto século, ensinado pelo monge grego Evrágio, que defendia que havia um conjunto de erros que alimentavam todos os outros erros humanos. E acabou sendo assimilado pela cultura popular para se referir a atitudes viciadas que “condenam” as pessoas. Não seria exagero dizer que o brasileiro também é refém de alguns “pecados capitais” que o impedem de ter uma relação racional e próspera com o dinheiro.
Segundo pesquisa do Banco Mundial publicada em julho de 2018, apenas 11% poupam para a velhice. Somos o 101º país entre 150 pesquisados a respeito do hábito de poupar. Como prova de que o nível de renda não é justificativa para nossos “pecados”, nesse mesmo ranking países mais pobres do que o Brasil aparecem na frente – como o Mali, a Bolívia e as Filipinas.
Especialista em finanças, Cláudio Ferro explica que, historicamente, o brasileiro aprendeu que é mais vantajoso “livrar-se” do dinheiro do que poupar. “Saímos de uma época de inflação forte, nos anos 1990, em que o dinheiro tinha pouca representatividade na mão das pessoas”, diz o executivo. “Entramos nos anos 2000 com a melhoria de nossa economia, as pessoas foram incentivadas a adquirir bens e consumir. Hoje, temos uma dúvida bastante grande sobre o que pode acontecer com a Previdência e novamente o brasileiro se depara com sua falta de cultura de poupar.”
Com décadas de experiência em instituições financeiras e no relacionamento com o cliente, Ferro elencou os sete “pecados capitais” cometidos historicamente pelos poupadores brasileiros. Confira se você se reconhece na lista abaixo e arrependa-se enquanto é tempo:
Pecado 1: Investir só depois de pagar as contas
Talvez o erro mais clássico, o brasileiro começa o mês decidido a economizar parte de seu salário, mas desiste depois de notar que, com tantas contas e compromissos, não sobrou dinheiro para poupar. A solução é encarar a poupança como mais uma das contas fixas do orçamento doméstico, entre escola, condomínio e telefone, e investir religiosamente o valor definido antes de iniciar o pagamento das contas.
Pecado 2: Acomodar-se com a “segurança” da Poupança
No Brasil, desde o Século 19, a Caderneta de Poupança foi oferecida ao público como “uma maneira de mudar de vida”. De fato, em tempos de hiperinflação, era uma das poucas formas do trabalhador comum proteger seu dinheiro da desvalorização diária. Hoje, entretanto, há opções de investimento com a mesma segurança do Fundo Garantidor de Créditos e com rentabilidade muito melhores. Há opções de investimentos em renda fixa, por exemplo, com a mesma liquidez diária e com taxa pré-definida da Poupança, mas com rentabilidade melhor.
Pecado 3: Consumir sem planejamento
A receita básica de qualquer orçamento, gastar menos do que ganha, torna-se muito mais difícil para quem não sabe exatamente quanto ganha de salário líquido nem o quanto gasta entre contas fixas mensais, tributos anuais e reservas para emergência. Uma tabela do Excel, um programa específico ou os bons e velhos cadernos e caneta podem ajudar a perceber onde é possível cortar e como distribuir melhor as entradas para que os objetivos a curto, médio e longo prazos sejam atingidos.
Pecado 4: Achar que um salário maior é a solução
Pode parecer incrível, mas quem trabalha com orientação financeira de famílias está repleto de exemplos de pessoas afogadas em dívidas mesmo com salários de cinco dígitos, bem como a trabalhadores com salários muito menores e com as contas em dia. Seja seu salário de R$ 3.000 ou R$ 30.000, vale a mesma regra: gastar menos do que ganha. E isso só se faz com planejamento, atenção aos gastos traiçoeiros (como lazer, restaurantes e táxis) e controle rigoroso com dívidas, financiamentos e uso do cartão de crédito.
Pecado 5: Colocar “todos os ovos em um único cesto”
Todo investimento tem vantagens e desvantagens. Por isso, os especialistas são unânimes em recomendar a diversificação de investimentos. Evidentemente, os investimentos mais conservadores (como os de renda fixa) são mais recomendados para quem tem pouco a arriscar. Mas mesmo grandes investidores têm seus portos seguros: o ex-candidato à presidência, João Amoedo, declarou em 2018 que mais da metade de seu patrimônio (51,2%) está investido em renda fixa; 28,3% em participação em empresas e apenas 13% em renda variável. Um bom exemplo para o investidor comum.
Pecado 6: Sacar antecipadamente investimentos de longo prazo
Um detalhe comum de ser esquecido na hora de investir é o horizonte de aplicação do dinheiro – em outras palavras, o tempo pelo qual você pode deixar a quantia rendendo, sem mexer nela. Ao colocar seus “ovos” em cestas diferentes, o poupador pode escolher investimentos com liquidez diferentes. Investimentos de alta liquidez são aqueles que permitem o saque ou a venda a qualquer momento – esses funcionam bem como reservas de emergência. Outros, de baixa liquidez, podem oferecer rentabilidade melhor. O “pecado”, neste caso é o investidor sacar o investimento antes do prazo acordado, pagando multa e literalmente perdendo dinheiro. Isso requer planejamento a curto, médio e longo prazo.
Pecado 7: Não se informar nem buscar conhecimento a respeito do mercado
Por último, há o pecado que se relaciona com todos os seis anteriores: a desinformação. O universo financeiro é dinâmico e suscetível à movimentação política e macroeconômica. Mesmo os investimentos prefixados, de forma indireta, são influenciados por essas variações. Quem não conhece o básico sobre economia e não fica de olho nas principais novidades do mercado corre o risco de ser levado pela conversa do gerente do banco, pagando taxas desnecessárias, comprando produtos que não precisa e colocando o dinheiro em investimentos inadequados.