Se do ponto de vista institucional, o “novo Cruzeiro” ainda está aquém do que é propalado pela gestão Sérgio Santos Rodrigues, dentro de campo a transformação é visível. Por mais que as últimas atuações não tenham sido tão boas, desorganização é uma palavra que não se aplica à equipe de Enderson Moreira.
Há, claramente, um padrão de jogo, com movimentos bem feitos e jogadas construídas de maneira inteligente. Quanto à efetividade dentro de campo, isso depende de diversos fatores além do tático. Um deles é a qualidade dos atletas. Se em setores como o miolo de zaga e o meio campo a Raposa está razoavelmente bem servida, em outros a situação é diferente.
A lateral esquerda, por exemplo, talvez seja o maior calcanhar de aquiles do elenco. João Lucas, Giovanni e Patrick Brey já passaram pela função, mas nenhum deles esteve próximo de convencer. Matheus Pereira, fruto das categorias de base, é visto com muita expectativa por profissionais do clube e torcedores, mas ainda é novo (19 anos) e não se sabe como reagiria à titularidade em um momento tão delicado da quase centenária história cruzeirense.
Outro setor deficiente são as pontas, visto que o único jogador confiável para a função hoje é o ótimo Maurício. Stênio vem tentando quebrar um galho e não merece ser criticado, mas está queimando inúmeras etapas e corre o risco de ser queimado. Por isso as chegadas de Arthur Caike e Airton são importantes.
O primeiro, que joga, prioritariamente, pela esquerda, pode fazer Maurício voltar à posição em que se sente melhor, a ponta direita. O ex-jogador do Bahia também será uma arma a mais na bola parada, já que a cobrança de falta é uma das suas especialidades. Já o segundo, apesar de jovem (21 anos), tem mais rodagem em relação a seus potenciais concorrentes na posição e está mais pronto do que Stenio em todos os aspectos: físico, técnico e mental.
Por fim, Daniel Guedes chega para a lateral direita. que não vem dando dor de cabeça à Enderson Moreira, já que o paraguaio Raúl Cáceres tem sido bem consistente. Porém, além de preencher o vácuo da reserva do atual titular, Daniel, ex-jogador do Santos, também tem uma ótima bola parada.
Sem menosprezar a história gigantesca do clube, é necessário aos cruzeirenses que, antes de qualquer análise, a realidade atual seja encarada. Todos os jogadores citados acima não seriam titulares em equipes poderosas da Série A, mas possuem nível suficiente para conduzir o Cruzeiro à uma boa campanha na segunda divisão.
A organização e o padrão de jogo desembarcaram em Confins dentro das malas de Enderson Moreira, que sempre foi bom treinador, faltam agora peças que facilitem seu trabalho. Ou talvez não faltem mais…