Árvores que poderiam levar mais de oito anos para produzir suas primeiras flores e frutos estão iniciando este processo em menos de um ano. Esse é o resultado de uma técnica inédita e que está deixando cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV) animados. A técnica nomeada de “Resgate de DNA e indução de florescimento precoce em espécies florestais nativas”, que é uma parceria entre a faculdade e Vale, tem demostrado boa efetividade para a recuperação ambiental em Brumadinho, principalmente no bioma de Mata Atlântica, e pode ser aplicada em diversos biomas ao redor do planeta.
“Estamos muito animados com os resultados apresentados pela técnica. Em parceria com a Vale, resgatamos o DNA de espécies das florestas da região, como jacarandá caviúna, ipê amarelo, e jequitibá e replicamos as plantas para garantir que a constituição genética de cada uma não seja perdida. Ver as árvores produzindo flores e frutos em tão pouco tempo é gratificante, podemos deixar um legado importante para as próximas gerações”, destaca o professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV (DEF/UFV), Gleison dos Santos.
Ao todo foram recolhidos materiais genéticos de dez plantas, de cinco espécies diferentes, incluindo espécies ameaçadas de extinção e protegidas por lei. Nos próximos três anos, a ideia é chegar a 30 espécies e reintroduzir mais de 5 mil mudas nas áreas a serem recuperadas. O projeto conta ainda com a gestão da Sociedade de Investigações Florestais (SIF).
Em campo, os pesquisadores visitam as áreas afetadas e realizam o procedimento de resgate do DNA. O material genético é levado para Viçosa (MG) e mantido sob os mais exigentes padrões de segurança e saúde das plantas. O processo de replicação se inicia no campo, com a coleta de ramos das árvores-matriz. Já no laboratório, os ramos passam por um procedimento de enxertia para se tornarem capazes de reproduzir exatamente o material genético de outras plantas a partir de pequenas porções.
“A intenção não é apenas substituir as plantas que não existem mais em determinado local, mas também aquelas que tiveram danos depois da passagem de rejeito. A isso se soma o retorno da biodiversidade: pássaros, polinizadores e dispersão de sementes, um ciclo natural da floresta que ocorre de maneira antecipada com essa proposta de resgate”, ressalta o analista ambiental da Vale, Raul Firmino.
Além de resgatar o DNA de árvores em risco, a técnica induz o florescimento precoce de plantas jovens produzidas a partir de árvores resgatadas. Com essa inovação, mudas que poderiam levar mais de oito anos para florescer, iniciam este processo entre seis e doze meses após o resgate em campo, viabilizando a recuperação mais rápida da vegetação e contribuindo para o acelerar o processo de restauração dos ambientes impactados.
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Recuperação e avanços ambientais
Para a recuperação ambiental da área impactada pelo rompimento acontecer, o primeiro passo é a remoção dos rejeitos, atividade fundamental para apoiar as buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros. Somente após a liberação das áreas pelo CBMMG o trabalho é iniciado, já que a busca pelas pessoas desaparecidas é prioridade máxima desde o rompimento.
Até o momento, estão em processo de recuperação ambiental 50 hectares, incluindo parte da área diretamente impactada e áreas protegidas do entorno, com o plantio de aproximadamente 60 mil mudas de espécies nativas da região. Essa área equivale a 50 campos de futebol. Nesse processo de recuperação também está sendo feita a renaturalização de ambientes, incluindo a recuperação dos cursos d’água (ribeirão e córregos) e áreas úmidas afetadas.