Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos cofundadores do Talibã, e chefe político do grupo extremista, voltou ao Afeganistão após mais de dez anos de exílio. Nessa quarta-feira (18), ele fez sua primeira aparição pública. É a primeira vez que um líder talibã do alto escalão retorna publicamente ao país desde 2001, quando o grupo foi expulso do poder pelos EUA após o 11 de Setembro.
Baradar fazia parte da equipe que negociava em Doha, no Catar, um cessar-fogo com o antigo governo afegão. Ele desembarcou na terça-feira (17) em Kandahar, a segunda maior cidade do Afeganistão. Baradar havia sido preso em 2010, em Karachi, no sul do Paquistão, e libertado em 2018, a pedido do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para participar das negociações de paz em Doha.
O líder talibã se tornou o chefe do escritório diplomático do Talibã no Catar, que negociou e assinou o acordo de paz com os EUA em fevereiro de 2020 e tratava de um cessar-fogo com o governo afegão. O acordo previa a retirada total das tropas americanas do Afeganistão até abril deste ano.
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, manteve o acordo de Trump e adiou a saída para o fim deste mês. A maior parte das tropas deixou o país em julho, e o Talibã se aproveitou para avançar rapidamente pelo país, conquistando todas as províncias em menos de duas semanas.
O grupo extremista voltou ao poder no Afeganistão no domingo (15), após o presidente Ashraf Ghani fugir do país e o Talibã tomar a capital Cabul e o palácio presidencial.
Fim da guerra no Afeganistão
Os EUA decidiram sair do Afeganistão após quase 20 anos de ocupação. O país foi invadido por tropas americanas em 2001, em reação ao atentado do 11 de Setembro. O Talibã comandava o país desde 1996, adotando uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica (sharia) e impondo restrições sobretudo às mulheres, que eram impedidas de trabalhar e estudar.
As visões islâmicas ultraconservadoras incluíam apedrejamentos, amputações e execuções públicas e a proibição de músicas, filmes e até a televisão. O grupo extremista foi retirado do poder pelos EUA por esconder e financiar membros da Al-Qaeda, grupo terrorista comandado por Osama bin Laden e responsável pela queda das Torres Gêmeas.
Na época em que o Talibã foi tirado do poder, Baradar era o vice-ministro da Defesa do Afeganistão.