Mais uma vez, emerge a esperança de bons tempos em Itabira. Há um grande burburinho na cidade. Os rumores “informam” que a Vale iniciará um novo projeto. Acredito que a boataria originou-se de certa proposta de descomissionamento de barragens. E essa situação provoca uma grande expectativa no imaginário de quem anseia por uma colocação no quadro de funcionários da mineradora.
Aqueles que esperam por uma oportunidade degustam o amargo sabor do descaso. E esse quadro não é de hoje. A multinacional brasileira trata o profissional itabirano com extremo desprezo. Qualquer novo investimento tecnológico sempre significou uma grande ilusão para o povo dessa terra. Afinal, a Vale normalmente preenche as vagas disponíveis com trabalhadores forasteiros. E essas pessoas não têm o menor compromisso com a terra de Drummond: ficam aqui por algum tempo, juntam um dinheirinho e depois vão embora.
Oportunidade como essa – de inéditos projetos em nossa cidade – é uma realidade cada vez mais distante. Mesmo porque, a direção da empresa já deixou claro que muito em breve não haverá mais extração de minério em nossas minas.
Não podemos impedir ninguém de disputar uma vaga de trabalho em nosso município. Todo cidadão brasileiro tem esse direito constitucional. Mas, levando-se em consideração o imenso desastre socioambiental que a mineradora está legando à nossa cidade, sugiro um termo de intenção pactuado entre Ela e os itabiranos.
É necessária a implementação de uma rede de ações para compensar esse quadro desolador. A Vale tem a obrigação moral de criar projetos e programas capazes de garantir o acesso dos itabiranos às suas oportunidades de trabalho. Essa regra já era pra ser uma realidade há muito tempo. Com ela (a possível regra), a mineradora teria a oportunidade de tentar demonstrar que a sua importância para Itabira não é só econômica, mas também social.
Os itabiranos querem uma oportunidade de trabalho. O povo daqui dispensa presentes de grego, “showzinhos” baratos e doações desnecessárias (ou esmolas de ocasião).
A mineradora investe cifras altíssimas na prospecção de novas jazidas, no aprimoramento de modernos equipamentos de extração e na otimização de seu sistema de beneficiamento e transporte. Garanto que nunca pensou em fazer um levantamento do número de pais de famílias e jovens iniciantes, que estão sem nenhuma oportunidade de trabalho. Isso a poucos metros de suas divisas. Triste, mas é a realidade!
Em tempos modernos, é muito fácil saber quem são, a quantidade e onde estão esses que esperam por um olhar da Vale.
Que tal a criação de um “Portal da Oportunidade”? Esse instrumento seria um canal direto de comunicação entre o trabalhador em busca de um espaço no mercado de trabalho e a própria mineradora.
Por meio desse portal, a Vale teria uma ótima possiblidade de assumir a sua responsabilidade. Ela mesma deveria programar essa missão, ao invés de terceirizar a proposta. Até mesmo para posteriormente não achar uma brecha para “jogar a culpa” em alguém não que fez direito. A mineradora é especialista em “pegar pra Cristo”.
Vale, não busque trabalhadores de fora! Há poucos metros dos seus muros, muitos procuram uma chance para trabalhar.
Advogado
Chefe de Gabinete do presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE)