Em 1964, dois gênios da cultura brasileira uniram suas forças e criaram, juntos, uma pérola da música nacional. Composta por Tom Jobim e letrada por Vinicius de Moraes, “Garota de Ipanema” se tornou um símbolo da bossa nova e catapultou a arte nacional a terras estrangeiras. 58 anos depois, a canção possui seu nome cravado na história e continua inspirando muita gente.
É o caso do rapper Lucas Taylor. O itabirano, hoje com 30 anos, lançou recentemente o single “Garota de Itapema”, no qual faz referência a um bairro de Guarujá, na baixada santista. A obra, com pouco mais de três minutos, foi composta e gravada pelo próprio cantor, que homenageou a ex-namorada e também artista Kelly Lobo, nascida no bairro de Itapema.
As imagens do clipe, gravadas em uma praia de Guarujá, fazem parte do acervo pessoal da dupla. Embora não estejam mais juntos, Lucas se comprometeu a levar a ideia adiante, contando com o apoio de Kelly.
“Nós somos grandes amigos. Ela, inclusive, é artista também, é escritora. A conheci nesse nicho da arte, e mesmo sem estarmos mais juntos, já era uma ideia que eu tinha muita vontade de gravar. Então, seria muito bacana essa junção na parte visual da música”, disse.
O início
A relação do rapper com a música começou muito cedo. Uma triste notícia no rádio sobre o trágico acidente aéreo que vitimou todos os membros do Mamonas Assassinas é citado por Lucas como a primeira lembrança relacionada ao tema, quando tinha cerca de seis anos. Porém, a descoberta do rap veio alguns anos depois, quando o contato com um CD impactou o emocional do itabirano.
“O namorado de uma tia levou uma caixa de CD’s que tinha o ‘Espaço do Rap’. Nele havia uma música chamada ‘Favela Sinistra’, que foi a primeira vez que eu falei ‘caramba, que loucura essa junção de rimas’. Foi quando eu comecei a analisar a letra e me puxar numa reflexão. Aquilo mexeu com meu emocional”, lembra.
A partir daí, outros artistas e estilos foram conhecidos e ajudaram a moldar sua obra, como Charlie Brown Jr. e Linkin Park. O resultado pode ser visto em “Garota de Itapema”, um reflexo de tudo que foi consumido e analisado pelo rapper ao longo dos anos.
“Eu diria que essa música é bastante orgânica, tem muita coisa misturada nela. São coisas que aprendi a ouvir durante os anos. Fiquei cerca de cinco anos sem gravar, estava com um certo bloqueio, e aí falei ‘quero concretizar isso’. E a música tem influência de tudo que tenho escutado desde nove anos atrás, bossa nova, rock and roll, jazz. Então diria que é uma música bem orgânica”, relata.
O trabalho com o rap
Se a descoberta do rap veio cedo, quando o namorado da sua tia o apresentou àquela coletânea, o desejo em trabalhar com a música surgiu aos 19 anos. Embora tenha predileção pelo estilo, imortalizado por nomes como Racionais MC’s, Sabotage e Emicida, Lucas não se constrange em incluir outras vertentes musicais no seu caldeirão artístico. A menção à bossa nova em seu novo lançamento, no entanto, não foi algo previamente planejado por ele.
“Quando eu fui fazer essa música, eu não pensei na ideia de misturar com outro estilo. Eu simplesmente fui sentindo ela, como se desenharia no decorrer da composição, tanto que a música não tinha essa referência. Decidi o nome da música depois de pronta e gravada. Não busquei rotular, deixei fluir e fui percebendo as referências.”
E se a composição foi uma alternativa para reviver algumas das melhores lembranças com a companheira de vida e de arte Kelly Lobo, Lucas Taylor espera que ela desperte sensações parecidas em quem ouvi-la.
“Só gostaria de falar que a música pra mim é uma válvula de escape. Eu gostaria que as pessoas relacionassem esta canção a bons momentos, assim como ela foi fruto de bons momentos que vivenciei. Meu desejo é esse, agregar positivamente a quem possa estar ouvindo”, finaliza.