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Comer em quarentena

Dentre as várias mudanças em nossas rotinas que o ano de 2020 trouxe, uma que merece ser discutida foi a relação com a comida. O ato de comer para o ser humano nunca se resumiu somente ao fato de nutrir-se, ele envolve também aspectos psicológicos, como cultivar laços sociais ao comer junto de pessoas queridas, cozinhar para amigos ou sair para comer aquele prato especial.

Além disso, o comer está relacionado às emoções: muitas pessoas quando estão ansiosas ou preocupadas tendem a comer muito, compulsivamente, ou a não comer nada. É o que chamamos de “comer sentimentos”. Pode ser que a pessoa coma muitos doces para “relaxar” ou fique tão ansiosa, tão estressada que não sinta fome e fique sem comer por um longo período.

E como isso ficou nesse ano com o distanciamento social? Tivemos que inventar novas relações com a comida e com nosso corpo. Agora temos que fazer todas ou a maior parte de nossas refeições em casa. Há todo um planejamento para comprar comida, higienizá-las e armazená-las. Cozinhar ou pedir por delivery algo diferente se tornou uma das opções de lazer mais comuns nos fins de semana.

Quem tende a lidar com suas emoções comendo também sentiu o impacto. Somado à dificuldade em realizar atividades físicas e com os diversos efeitos psicológicos que o isolamento traz, muitos têm notado alterações em seu corpo. Disfunções hormonais, problemas na pele, metabolismos alterados, ganho ou perda de peso, aumento ou diminuição de apetite… O corpo não funciona e não responde da mesma forma que antes.

Cozinhar mais em casa fez com que muitas pessoas desenvolvessem mais habilidades e descobrissem prazer em preparar sua comida. Novos hábitos surgiram, muitas pessoas têm experimentado outras práticas alimentares, como por exemplo adotar estilos de vida vegetarianos ou veganos, que podem trazer um maior bem-estar ao corpo. Com isso, passaram também a se preocupar com a qualidade dos alimentos que são consumidos, se são saudáveis, a quantidade de conservantes que eles contêm, etc. O desperdício diminuiu drasticamente. É uma oportunidade para que possamos aprender a viver com menos e repensar a relação que tínhamos anteriormente com a comida.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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