Uma visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aos arredores da barragem Sul Superior da Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (Região Central do Estado), e às margens do Rio São João, está programada para esta terça-feira (4), às 14h. O objetivo é apurar denúncias de violações de direitos humanos contra a comunidade local por parte da mineradora Vale, operadora da mina.
Em carta enviada à comissão no dia 30 de abril, a comunidade solicita a presença de parlamentares no município e relata o pavor gerado entre os moradores com os frequentes episódios de acionamento de sirenes que alertam sobre riscos de rompimento da barragem, como ocorreu nos dias 8 de fevereiro e 22 de março.
“Desde então, estamos convivendo com o medo constante, noites sem dormir, à espera de uma situação catastrófica”, afirmam na carta. “O pavor está instalado na cidade, pessoas estão entrando em surto, se automutilando, chorando o tempo todo”, acrescentam os moradores, denunciando ainda que, em razão do ocorrido, também “o comércio local sofre uma profunda queda em suas vendas”.
Segundo os moradores, ao serem obrigados a sair de suas residências, as casas tornam-se alvo de saques e roubos, como ocorreu entre os dias 25 e 26 de abril. “Uma notícia triste, pois os moradores não podem voltar para buscar suas coisas, mas são surpreendidos com a notícia de que perderam seus pertences para pessoas fora da lei”, lamentam.
Talude
A situação no município se agravou depois que a mineradora Vale informou, no dia 14 de maio, que um talude na cava da mina de Gongo Soco estava se soltando. O temor é que a estrutura provoque vibrações que causem o rompimento da barragem Sul Superior, que está localizada a 1 km da mina. O talude tem se deslocado cada dia mais. Na sexta-feira (31), cerca de 1% do paredão deslizou para dentro da cava da Mina de Gongo Soco, mas não afetou a barragem. A velocidade do deslocamento do talude já chegou a 42 cm/dia. A estrutura tem, ao todo, 10 milhões de metros cúbicos e peso de 20 milhões de toneladas.
A população – cerca de 500 pessoas – foi retirada da área de autossalvamento desde o dia 8 de fevereiro. A Vale tem executado obras emergenciais para conter o avanço da lama, no caso de rompimento. A mineradora também propõe a construção de um muro de contenção com 400 metros de comprimento, 35 metros de altura e dez metros de largura, mas essa proposta tem gerado polêmica na comunidade. Além da própria comissão da ALMG, a visita terá a presença de representantes da assessora jurídica da Procuradoria da República de Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, Raquel Portugal Nunes.