Comunidades afetadas pelo rompimento da barragem em Mariana, ocorrido em 2015, expressaram preocupação com a qualidade da água fornecida pela Fundação Renova durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Representantes de municípios como Belo Oriente e Caratinga, localizados no Vale do Rio Doce, criticaram o ritmo lento das medidas de reparação, destacando problemas como a contaminação persistente do recurso hídrico.
Henrique Lacerda, coordenador do Programa Médio Rio Doce da Associação Estadual de Defesa Socioambiental (Aedas), entregou um relatório detalhando as condições precárias do abastecimento de água em áreas como Cachoeira Escura e Ilha do Areal do Rio Doce. Ele enfatizou que a negligência na reparação compromete não apenas a saúde física e mental dos moradores, mas também as atividades econômicas locais, incluindo a agricultura e pecuária.
Moradores afetados também testemunharam sobre os impactos contínuos da contaminação, como alergias e doenças, além de danos ambientais que afetam o cultivo de alimentos e o bem-estar cultural das comunidades, que tradicionalmente mantinham uma forte conexão com o Rio Doce. Meire Gomes, do movimento indígena Puri, destacou a importância de incluir os afetados nas decisões de reparação, criticando acordos que não consideram suas vozes.
A indígena Meire Gomes afirmou não aceitar acordos de repactuação que não levem em conta a participação de pessoas atingidas e propôs a obediência ao Plano Nacional dos Atingidos por Barragens. “Muitos, que tinham ligação forte com o rio, estão desistindo de si mesmos, com depressão, ansiedade”, lamentou.
O defensor público Bráulio Araújo da Defensoria Pública de Minas Gerais concordou com a insatisfação dos atingidos em relação ao processo de reparação, mencionando que o Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) entre a Renova e os governos federal e estaduais não resolveu satisfatoriamente as questões pendentes, especialmente relacionadas à água.
O TTAC inclui planos para construção de estações de tratamento de água e recuperação de áreas afetadas, porém, a execução dessas medidas tem sido controversa e desafiadora. A Defensoria propôs um monitoramento mais rigoroso da qualidade da água, com a participação das partes interessadas, incluindo os afetados, para garantir transparência e eficácia nas ações de reparação.
A audiência pública destacou a urgência de soluções concretas e imediatas para os problemas enfrentados pelas comunidades afetadas, reforçando a necessidade de que os responsáveis se comprometam efetivamente com a restauração socioambiental da região do Rio Doce.