Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, o Brasil terá uma representante na final da ginástica rítmica. A atleta que obteve o feito é a curitibana Bárbara Domingos, que avançou nesta quinta-feira (8) à decisão do individual geral da modalidade, que conta com apresentações de fita, bola, arco e maças, na Olimpíada de Paris-2024. A disputa pela medalha está marcada para as 9h30 desta sexta-feira (9).
A atleta de 24 anos ficou entre as dez melhores do mundo em sua primeira Olimpíada, confirmando o crescimento que vem exibindo nos últimos anos. Bárbara começou a se destacar em nível internacional na temporada passada, um divisor de águas em sua carreira esportiva. Em apenas uma semana, em abril de 2023, ela entrou para a história na ginástica rítmica do País ao obter dois grandes resultados em competições na Europa, rompendo barreiras antes intransponíveis para outras atletas do País e até da América Latina.
Num intervalo de poucos dias, ela faturou a medalha de bronze na prova da fita na etapa de Sofia da Copa do Mundo, na Bulgária. Tornou-se, assim, a primeira atleta do Brasil e da América Latina a subir ao pódio numa competição deste nível. Somente a classificação para a final já era feito histórico nacional para a modalidade na disputa individual.
No final de semana seguinte, Bárbara foi ainda mais longe. Brilhou novamente na fita, desta vez no Grand Prix de Thiais, na França. E conquistou o ouro. Mais uma vez, acumulou resultados inéditos para a ginástica rítmica brasileira. Nenhuma outra atleta do País havia se destacado desta forma em competições deste peso. Antes, em 2021, já mostrava estar no caminho ao ficar em 17º no individual geral no Mundial, o melhor resultado de uma brasileira em um evento deste nível.
“Fiquei até um pouco sem entender o que estava acontecendo. Até achava que era possível alcançar estes resultados, mas não na primeira competição do ano, não agora. Talvez mais para a frente Por ser início de ciclo, pegando o ritmo de competição. Na Europa, as meninas começam a competir mais cedo. Todas já estavam competindo”, disse Bárbara em entrevista ao Estadão, em maio do ano passado.
Os meses seguintes foram de novos feitos. Ela faturou o bronze na fita e ficou em quinto lugar nas provas de arco e bola na etapa da Romênia da Copa do Mundo. Nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, Bárbara conquistou três medalhas de ouro: individual geral, bola e fita. No Mundial, disputado em Valência, na Espanha, ela terminou em 11º no individual geral. Na época, se tornou a primeira brasileira a disputar uma final de Mundial.
De quebra, veio a classificação olímpica. Ela chegou a se preparar para estrear em Jogos Olímpicos em Tóquio, em 2021, mas a pandemia acabou mudando o regulamento da classificação e ela acabou ficando fora da disputa.
Obstáculos superados
O maior obstáculo para Bárbara numa Olimpíada é a forma de disputa e classificação. Na ginástica rítmica, diferentemente da artística, não há provas por aparelhos em Jogos Olímpicos. A atletas disputam apenas no individual geral. Logo, precisam se destacar nos quatro “aparelhos”: fita, bola, arco e maças. A brasileira é destaque mundial na fita e já foi bem na bola. No entanto, era menos competitiva no arco e nas maças.
“É uma pena não ter prova isolada da fita. Quanto aos demais, é um pouco mais difícil. Cada aparelho tem sua peculiaridade, a sua dificuldade. O mais complicado de todos é a bola. Quase todas as atletas têm alguma dificuldade com ela. É meio perigoso Bateu, vai longe”, explicou a atleta ao Estadão, no ano passado.
O desafio, contudo, foi superado na capital francesa, onde ela mostrou alto desempenho até mesmo na bola, logo na primeira rotação.
Da ginástica artística para a rítmica
Bárbara iniciou sua trajetória esportiva na ginástica artística aos cinco anos. Mas logo mudou para a rítmica por seu perfil físico: ela é mais alta que a média (1,67m) e se considera menos forte fisicamente que as colegas da ginástica artística. “E também teve a música”, contou Bárbara, ao justificar a mudança de modalidade. “Eu era muito musical desde pequena. E isso acabou me chamando muito a minha atenção. Gosto das coreografias É um esporte que tem dança e música”.
Evoluindo a cada ano nos aparelhos, Bárbara enfrentou seu maior desafio em 2021, quando foi submetida a uma cirurgia no quadril direito. “Eu já tinha esta lesão há quatro anos. Me incomodava muito e consumia muito do meu tempo de treino. Fiquei seis meses afastada em 2022. Só voltei a competir no segundo semestre”.
Em sua rotina de treino, que atingem facilmente as oito horas diárias, ela intercala aulas na faculdade de Educação Física à distância. A atleta, contudo, avisa que o seu projeto de pós-carreira é o Direito, que até começou a estudar, mas trancou devido à rotina pesada de treinos.
Melhor momento da ginástica rítmica do Brasil
Os bons resultados individuais de Bárbara foram conquistados num contexto de maior desenvolvimento da modalidade no Brasil nos últimos anos. Hoje as atletas conseguem viver da ginástica por causa dos benefícios do Bolsa-Atleta, das diferentes esferas de governo e do apoio da Confederação Brasileira de Ginástica. É o caso de Bárbara e também de outras atletas que vêm se destacando nas disputas individuais da ginástica rítmica, como Maria Eduarda Alexandre e Bárbara Galvão.
No Mundial de 2022, disputado na Bulgária, o Brasil alcançou seu melhor resultado geral da história, com o quinto lugar. Deixou para trás rivais de tradição e até equipes medalhistas em Olimpíadas. Em 2023, foram dois resultados de relevância mundial Em março, na etapa de Atenas da Copa do Mundo, a seleção obteve o bronze na prova geral — foi a primeira medalha da história da modalidade nacional num evento deste nível.
Na sequência, a equipe formada por Giovanna Silva, Maria Eduarda Arakaki, Nicole Pircio, Sofia Madeira e Victória Borges faturou o ouro na prova de cinco arcos na Challenge Cup de Portimão, em Portugal. Um novo feito. Do quinteto, somente Giovanna não está em Paris. “Este é o melhor momento da história da ginástica rítmica do Brasil. Construímos isso”, disse Bárbara.