Cristo é a nossa paz; do que era divido Ele fez uma unidade
“Num mundo tão quebrado como o nosso, só nos resta crer num Deus ferido”
Esse é o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica desse ano de 2021. Alguém pode até achar estranho estar falando sobre assunto ainda. Mas, a Campanha da fraternidade é para nos iluminar e nos ajudar concretamente a vivência do evangelho de Cristo durante todo o ano.
Vejamos o tema é inspirado na Carta de São Paulo aos Efésios. Paulo escreve para corrigir uma mentalidade vigente em sua época que era elitista e exclusivista, mostrando que Cristo veio para todos, e por todos derramou seu sangue na cruz. Ele veio para que todos, sem exceção tenham vida plena e salvação. Em Cristo não há mais distinção entre judeu ou pagão, escravo ou livre, homem ou mulher, todos são um só em Cristo Jesus (Gl 3.28).
O que me chama atenção é essa universalidade da salvação de Cristo. Sua misericórdia é derramada sobre todos, do alto da cruz, onde Ele manifesta o seu poder. “Quando eu for levantado da terra atrairei todos para mim”. João 12,32.
A salvação de Cristo engloba o ser humano todo, corpo e alma. A vida em abundância, a vida plena é o sonho de Jesus para todos os seres humanos. No deserto, quando o povo murmurava contra Deus “porque nos fizestes sair do Egito? para que morramos neste deserto, onde não há nem pão e nem água? Quando o povo percebeu que caso continuassem nessa murmuração, todos pereceriam, então pediram a Moisés que intercedesse por eles.
A solução divina para a ocasião, foi a seguinte : “Disse o Senhor a Moisés: faze uma serpente abrasadora , põe – na sobre uma haste, , aquele que for mordido, mas olhar para ela ficará com vida (Números 21,7-8). No novo testamento é Cristo que é erguido, e do aparente fracasso nos vem a salvação. “ A estética da cruz provoca uma decisão radical que põe nosso corpo a serviço do próximo”. Segundo Ademir Guedes Azevedo “a falta de sentido que enfrentamos na sociedade atual tem várias causas, e a dor que mais gera danos é a aquela do vazio existencial”.
Do que era divido Cristo fez uma unidade. O projeto da modernidade nos preparou ou nos incentivou para sermos super homens, divididos na competitividade e nos esquecemos que somos frágeis e vulneráveis. O teólogo Azevedo ainda nos diz que: “o galho das nossas antigas seguranças que nos davam a impressão de sermos deuses, começou a estalar quando fomos mergulhados nessa pandemia global, pois, esquecemos do nosso transcendente e da nossa espiritualidade”.
Na cruz vemos dor e solidão, mas por outro lado um homem que confia. O projeto moderno de vida vê o homem a partir do que ele tem e pode conquistar. Mas na cruz o homem não tem nada, deve aprender a ressignificar – se a partir de sua impotência. Não é assim que nos sentimos atualmente? Divididos, impotentes, sem rumo, até mesmo sem esperança?
Sentir se crucificado por uma pandemia não significa que estamos derrotados meus irmãos, mas se trata de uma oportunidade para olharmos o que restou depois de sermos privados do aparato de coisas e situações que o mundo moderno inventou, e aquilo que resta é o nosso próprio “eu”.
A paz oferecida como fruto da ressurreição é algo impactante. Dom Pedro Casaldaliga dizia “a paz de Cristo, não é uma paz dos cemitérios”. É uma paz muito perigosa porque é dada por um homem ferido, ou seja por alguém que sujou com os dramas da vida humana”
E por fim, o téologo tcheco Tomás Halik diz que: “num mundo tão quebrado como o nosso , só resta nos crer num Deus ferido”.
Na cruz está um Deus que aceita renunciar suas categorias de poder para envolver-se com a história humana.
Deus os abençoe, os proteja e conforte os corações enlutados.
Padre Anderson Ferreira Teixeira é colunista da DeFato Online.
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