*De forma excepcional, o espaço da coluna foi cedido à jornalista Sara Zeferino, responsável pelo texto abaixo
Há uma semana Cuca era anunciado como o novo treinador do Corinthians. Desde então, boa parte da torcida se posicionou contra a chegada do técnico por conta da condenação por estupro, em 1987, quando era jogador do Grêmio e estava acompanhando o time na Suíça. De 1987 até aqui, muita coisa mudou, ainda bem. E esperava-se que o próprio Cuca também mudasse com o passar dos anos, mostrasse arrependimento, reconhecesse o crime que cometeu contra uma menina de 13 anos. Mas o Cuca nunca o fez e, muito pelo contrário, deixou o comando técnico do Corinthians nesta quarta-feira (26) alegando que foi “julgado pela internet”.
Na verdade, Cuca, o seu julgamento não foi feito nas redes sociais, foi na Justiça. O senhor foi condenado por violar o art. 181 (coerção) e o art.191 (fornicação com crianças) do Código Penal Suíço, conforme apurou e divulgou o portal Uol. O que se cobra, não só por parte da torcida corinthiana, mas daqueles apaixonadas pelo futebol e conscientes dos problemas da nossa sociedade, é que Alex Stival se mostrasse arrependido, admitisse o que fez; e que situações de violência no futebol não passem como se fossem “apenas um erro”.
A torcida corinthiana é a mesma que teve Sócrates lutando pela democracia brasileira durante a Ditadura Militar, a mesma que apoia o futebol feminino, multicampeão nos últimos anos e que leva os dizeres “Respeita as minas” para todo o canto do Brasil e do mundo, é o time do povo.
E a torcida do futebol deve ser a torcida consciente, que cobra, questiona, que não aceita que crimes como o de Cuca, Robinho, Bruno, Marcinho, entre outros, sejam normalizados nesse esporte e na sociedade. Que esses homens não sejam colocados como “vítimas do julgamento alheio” ou acolhidos e abraçados, como fez o time masculino do Corinthians nesta quarta-feira (26), ao correr para os braços de Cuca após a classificação do time paulista na Copa do Brasil. Mas que esses homens sejam cobrados, como foi pelo time feminino do Timão, pela torcida, pelos que entendem a luta. Por fim, parafraseando as jogadoras do Corinthians, “Respeita as Minas não é uma frase qualquer”.
Sara Zeferino é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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