O Senado elegeu neste sábado (1) Davi Alcolumbre (União-AP) presidente da Casa pelos próximos dois anos. Com os 41 votos necessários para sua eleição, o parlamentar do Amapá volta ao cargo que ocupou entre 2019 e 2021. A apuração dos votos continua. Alcolumbre sucede a Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem é padrinho político.
Favorito durante todo o processo, o senador do União Brasil derrotou Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos Pontes (PL-SP). Marcos do Val (Podemos-ES) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) também registraram suas candidaturas, mas retiraram seus nomes da disputa durante o discurso em plenário.
Prévias da votação
No discurso que precedeu a votação, Alcolumbre citou a “controvérsia envolvendo as emendas parlamentares” como um desafio a ser enfrentado pelo Congresso. Ele, contudo, mandou um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF) dizendo que as prerrogativas do Legislativo devem ser respeitadas.
Ele também reiterou, enfim, um “compromisso inafastável” com a democracia e disse que é preciso “resistir aos atalhos populistas”, evitar “os rótulos de discursos fáceis” e as “distorções de debates nas redes sociais” feitas por meio de “simplificações mal intencionadas”.
Influência de Alcolumbre
Embora distante da presidência nos últimos quatro anos, Alcolumbre manteve sua influência na Casa com o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e aglutinou apoio desde o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, para sua candidatura.
Apoio das bancadas do governo e oposição
Ao todo, MDB, PSD, PL, União Brasil, PT, PP, PDT, PSB e Republicanos, quase todas as legendas com representação na Casa, apoiaram a eleição de Alcolumbre.
Essa ampla frente formada terá como principal resultado o retorno do PL a cargos de destaque na Casa Alta do Congresso e a redistribuição das principais comissões. O partido de Jair Bolsonaro deve conseguir a primeira vice-presidência, posto estratégico que esteve sob poder do MDB ao longo dos quatro anos de mandato de Rodrigo Pacheco. Eduardo Gomes (PL-TO) deve ser o escolhido.
O PT, por sua vez, deve ficar com a segunda vice, cargo menos importante que a primeira secretaria que o partido tem até o momento. O ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE) é o escolhido dos petistas para a vaga.
Próximas etapas da eleição para o Senado
A próxima etapa da eleição é a votação para os outros cargos da Mesa Diretora. O acordo é para que a distribuição fique assim:
- Primeira Secretaria: Daniella Ribeiro (PSD-PB);
Segunda Secretaria: Confúcio Moura (MDB-RO);
Terceira Secretaria: Chico Rodrigues (PSB-RR);
Quarta Secretaria: Laércio Oliveira (PP-SE).
O cenário de vitória de Alcolumbre retomou uma tradição de eleições tranquilas, com uma ampla margem a favor do vencedor. Em 2023, quando Rodrigo Pacheco foi reeleito, o placar foi de 49 votos a 32 a favor do senador mineiro contra Rogério Marinho (PL-RN). Quando foi eleito pela primeira vez, em 2019, Alcolumbre venceu por 42 votos a 13. Em 2015, Renan Calheiros (PMDB) derrotou Luiz Henrique (PMDB) por 49 votos a 31, e em 2009, José Sarney (PMDB) venceu Tião Viana (PT) por 49 votos a 32.
O próprio Sarney protagonizou uma das vitórias mais amplas – 70 votos a 8 contra Randolfe Rodrigues, então integrante do PSOL. Renan também teve uma goleada na sua conta: venceu por 72 votos a quatro em 2005 – mas naquele ano, ele foi candidato único, com apenas quatro votos contrários.
Trânsito com a esquerda e com a direita
Alcolumbre tem bom trânsito com a direita e com a esquerda e, nos últimos anos, durante a gestão de Pacheco, seu aliado, na presidência do Senado, foi responsável por boa parte das negociações envolvendo emendas parlamentares e cargos.
São atribuídas a ele, por exemplo, indicações nos ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva das Comunicações, com Juscelino Filho, e da Integração Nacional, com Waldez Góes.
Breve biografia
Senador de segundo mandato, ele venceu essa eleição pela primeira vez em 2014. Alcolumbre, de 47 anos, está na política em cargos públicos desde 2001, quando tomou posse como vereador de Macapá. À época, tinha 23 anos e fazia parte do PDT. Em 2002, venceu a eleição para deputado federal pelo mesmo partido. Trocou de sigla em 2006, quando migrou para o PFL, que mudou de nome para DEM em 2007 e depois se fundiu com o PSL para formar o União Brasil, legenda à qual está filiado até hoje.
O senador amapaense é muito cordial com seus pares. Nos últimos anos, portanto, conquistou o espaço de protagonista nas negociações da Casa Alta do Congresso com quem quer que esteja no Palácio do Planalto. No governo de Jair Bolsonaro, estabeleceu uma aproximação da Casa com o então presidente.
Desde que deixou a presidência do Senado, em 2021, o senador amapaense manteve-se em uma posição de destaque na Casa. Foi presidente de um dos mais importantes colegiados, a Comissão de Constituição e Justiça por quatro anos. Esta foi uma forma de Alcolumbre cumprir o que ele chamou, em conversas com amigos, de um “ciclo”.
Como mostrou a Coluna do Estadão, parlamentares petistas tem definido o novo presidente do senado como o “novo Lira”, em referência à difícil e volátil relação que o deputado Arthur Lira (PP-AL), na presidência Câmara, teve nos últimos dois anos com o governo.