O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi denunciado à Me Too Brasil, organização que acolhe vítimas de violência sexual, por supostos episódios de assédio contra mulheres.
A organização confirmou à coluna de Guilherme Amado, do jornal Metrópoles, ter sido procurado por mulheres denunciando os abusos praticados por Almeida. A ministra Anielle Franco, da Desigualdade Social no Brasil, uma das supostas vítimas do assédio não quis comentar os relatos sobre os fatos.
A organização Me Too afirma que as mulheres que relataram as denúncias pediram anonimato, não podendo, portanto, fornecer seus nomes para não expô-las.
A coluna de Guilherme Amado apurou com 14 pessoas, entre ministros, assessores do governo e amigos de Anielle como ocorreram as constrangedoras situações, que vão desde toque nas pernas da ministra, beijos inapropriados ao cumprimentá-la, além de Almeida ter dito expressões chulas, com insinuações sexuais à sua colega de função. Os episódios teriam ocorrido no ano passado e é do conhecimento de vários membros do governo, inclusive ministros.
Veja a nota do Me Too:
“A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam atendimento psicológico e jurídico.
Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posição de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional para validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa.
Vítimas de violência sexual, especialmente quando os agressores são pessoas poderosas ou influentes, frequentemente enfrentam obstáculos para obter apoio e ter suas vozes ouvidas. Devido a isso, a Me Too Brasil desempenha um papel crucial ao oferecer suporte incondicional às vítimas, mesmo que isso envolva enfrentar grandes forças e influências associadas ao poder do acusado.
A denúncia é o primeiro passo para responsabilizar judicialmente um agressor, demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição social, econômica ou política. Denunciar um agressor em posição de poder ajuda a quebrar o ciclo de impunidade que muitas vezes os protege. A denúncia pública expõe comportamentos abusivos, que, por vezes, são acobertados por instituições ou redes de influência.
Além disso, a exposição de um suposto agressor poderoso pode encorajar outras vítimas a romperem o silêncio. Em muitos casos, o abuso não ocorre isoladamente, e a denúncia pode abrir caminho para que outras pessoas também busquem justiça”.
A coluna conversou, na quinta-feira (5), com ao menos quatro ministros do governo e auxiliares de Lula, que afirmaram ter conhecimento de relatos do comportamento inadequado do ministro Silvio Almeida contra Anielle, tendo o assunto chegado até a Controladoria-Geral da União (CGU), que é responsável por questões dessa natureza dentro do serviço público federal.
Por sua vez, o ministro Silvio Almeida chamou de mentirosas as denúncias contra ele e publicadas pela organização Me Too, prometendo acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR), a Controladoria-Geral da União e o Ministério da Justiça, de forma que apurem as “calúnias” contra sua pessoa.
Veja a nota do ministro Silvio Almeida:
“Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio as acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país.
Toda e qualquer denúncia deve ser investigada com todo o rigor da lei, mas para tanto é preciso que os fatos sejam expostos para serem apurados e processados. e não apenas baseados em mentiras, sem provas. Encaminharei ofícios para a Controladoria-Geral da União, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República (PGR) para que façam uma apuração cuidadosa do caso.
Sempre lutarei pella verdadeira emancipação da mulher, e vou continuar lutando pelo futuro delas. Falsos defensores do povo querem tirar aquele que o representa. Estão tentando apagar a minha história com o meu sacrifício”.
Conforme o colunista do Metrópoles, após a publicação da reportagem, o presidente Lula passou a noite conversando com ministros próximos para analisar o destino de Silvio Almeida. Entre os consultados por Lula estão o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; o advogado-geral da União, Jorge Messias e o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.
Padilha deve ser o porta-voz do governo sobre o escândalo.