O 4º Flitabira – Festival Literário Internacional de Itabira – inaugura neste sábado (12) a exposição “Portinari para Crianças”, que traz 42 reproduções de obras do pintor Cândido Portinari. A mostra retrata crianças se divertindo e realizando atividades lúdicas com seus brinquedos, além de mostrarem as várias facetas que a infância pode ter, com suas questões sociais e culturais. A exposição será aberta no Dia das Crianças, 12 de outubro, às 18h, na Praça Dr. Acrísio Alvarenga, com entrada gratuita, e seguirá em cartaz até o dia 30 de novembro.
Ao todo, 42 totens com as representações dos trabalhos do artista compõem a exposição “Portinari para Crianças”. Os trabalhos selecionados trazem crianças se divertindo e realizando atividades lúdicas com seus brinquedos, porém também representa as várias facetas que a infância pode ter, representadas por obras que retratam questões sociais e culturais.
A curadoria da exposição é de João Cândido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari e Guilherme de Almeida, coordenador do Núcleo de Arte e Educação do Projeto Portinari.
A 4ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2024, de quarta-feira a domingo, na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro), com entrada gratuita. Com o tema “Literatura, Amor e Ancestralidade”, o 4º Flitabira tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com o apoio da Prefeitura de Itabira. Clique aqui e saiba mais sobre o festival.
Saiba mais sobre a exposição
Guilherme de Almeida afirma que “cada obra escolhida era como uma página do diário de Portinari, repleta de lembranças vívidas e cores que ressoam com a alma infantil. O desafio foi traduzir não apenas a técnica magistral, mas a essência pura da infância que Portinari tão habilmente capturava. Foi uma imersão no universo mágico e atemporal que ele pintou com tanto amor. Foi mais do que uma curadoria; foi um diálogo com a criança que existe em todos nós”, destaca.
Neste conjunto de obras, Candido Portinari também retrata a densidade psicológica das crianças, que não são apenas seres preocupados com brincadeiras, mas também observadores do mundo no qual estão inseridos. “Portinari tinha a capacidade única de capturar a essência pura e autêntica da experiência infantil. Cada pincelada parece contar uma história, transmitindo a inocência, a alegria e, muitas vezes, os desafios enfrentados pelas crianças. O olhar atento de Portinari conseguia transcender as telas, convidando-nos a mergulhar nas complexidades e pluralidade das infâncias. Suas obras não são apenas retratos, mas janelas para um mundo onde as crianças são protagonistas de suas próprias narrativas, refletindo a diversidade, a vivacidade e a crueldade a que muitas vezes os pequenos são submetidos nesse período tão precioso da vida”, completa Almeida.
A infância do pintor
João Candido Portinari, fundador e diretor-geral do Projeto Portinari, acrescenta que Portinari, já em seus últimos tempos de vida, escreveu seu diário “Retalhos de Minha Vida de Infância”, no qual é possível mergulhar no relato de uma infância pobre, em um humilde povoado com três ruas, perdido nos imensos cafezais do interior paulista. Pobre, mas feliz, com a companhia de muitos coleguinhas, muitas brincadeiras e confidências trocadas. O céu estrelado, os pastos, o córrego, os cavalos, o gado, os passarinhos, muita liberdade de ir e vir.
“A família, reunida depois do jantar, onde todos – desde o recém-nascido à bisavó — se reuniam em conversas intermináveis, muitas vezes em meio ao jogo do Bingo, com feijões marcando os cartões, comandado por D. Dominga, a grande matriarca que punha ordem naquela bagunça bendita. Uma infância que ele guardou em seu coração, e retratou – em sua alegria e também em sua dor –, até o seu último suspiro”, recorda. Em seu diário, o próprio pintor questiona e, em seguida, responde: “Por que pinto tanto menino e menina em gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos”.
Algumas de suas obras mais importantes, como “Os Retirantes”, pintada em 1936, “Menina Sentada”, de 1943, e “Meninos Brincando”, finalizada em 1955, integram a mostra. Há também pinturas de membros de sua família enquanto eram crianças, como é o caso das pinturas “Retrato de João Candido”, de 1939, que representa seu filho quando era um bebê, e “Denise com o gato”, de 1960, um retrato da única neta que Portinari conheceu.
“Portinari deixou um legado ético e humanista, que muito tem a dizer para um mundo hoje tão conflagrado pela violência, pela injustiça social, pelo desrespeito ao sagrado da vida. Em entrevista, ele declarou: ‘É preciso haver uma mudança. O Homem merece uma existência mais digna. Minha arma é a Pintura…’ Sua obra não nos traz apenas linhas, formas, volumes e cores. Ela é um grito por valores. Valores de não violência, de fraternidade, de justiça social, de respeito ao sagrado da vida”, explica João Candido Portinari.
O Projeto Portinari
Fundado em 1979 por João Candido Portinari, filho único do artista, o Projeto Portinari é voltado para a preservação da vida e obra do pintor. A instituição também visa a colocar a obra do artista a serviço da busca da identidade cultural brasileira e preservação da memória nacional. Além disso, pretende contribuir para uma ação sociocultural ampla, voltada para melhor compreensão do processo histórico-cultural brasileiro.
Nessa perspectiva, o Projeto conta com um levantamento de 5.300 pinturas, desenhos e gravuras atribuídos ao pintor, assim como de mais de 25 mil documentos sobre sua obra, sua vida e sua época; pesquisa da autenticidade das obras; processamento digital das imagens; organização do arquivo de correspondência e do acervo de fotografias históricas, filmes e recortes de mais de 10 mil periódicos, livros, monografias, textos e memorabilia; registro de mais de 70 depoimentos de artistas, intelectuais, políticos, amigos e parentes de Portinari, totalizando mais de 130 horas gravadas; publicação do Catálogo Raisonné “Candido Portinari – Obra Completa”, primeira publicação dessa natureza em toda a América Latina.