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Doenças respiratórias, ar poluído e o coronavírus: combinação perigosa nas cidades mineradoras

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Poeira é uma companhia constante dos itabiranos - Foto: Arquivo DeFato

Matéria publicada na edição 70 do Jornal DeFato

As Doenças Respiratórias Crônicas (DRC) representam um dos maiores problemas de saúde mundial. Centenas de milhões de pessoas de todas as idades sofrem com alergias respiratórias, como rinite, sinusite, asma e bronquite. Mais de 500 milhões delas vivem em países em desenvolvimento. Em cidades mineradoras, como é o caso de Itabira, Barão de Cocais, Conceição do Mato Dentro, São Gonçalo do Rio Abaixo e outras na região, esse cenário pode ser ainda mais complexo, diante da poluição do ar provocada pela poeira originada na atividade.

As DRCs estão aumentando e afetam a qualidade de vida dos pacientes. De acordo com o estudo ISAAC (sigla de International Study of Asthma and Allergies in Childhood), realizado no Brasil, a prevalência média de sintomas relacionados à rinite alérgica é de 29,6% entre adolescentes e 25,7% entre escolares. Além disso, o país ocupa a 8ª posição mundial em prevalência de asma. No fim da última década, o país foi responsável por cerca de 273 mil internações e 2,5 mil óbitos causados pela doença, segundo o DataSus.

De acordo com a otorrinolaringologista Janaína Couto Vieira Lage, esta época do ano é considerada como crítica para pacientes com doenças respiratórias. Com o frio e a umidade, característicos do outono e do inverno, há maiores possibilidades para o surgimento de sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, catarro, chiado no peito e coriza. A situação piora em territórios com grande emissão de materiais particulados na atmosfera, como é o caso dos municípios mineradores. Não é raro ver nuvens de poeiras nessas cidades, por mais que as empresas adotem medidas mitigadoras.

Nuvem de poeira deixa a mina da Vale em Itabira – Foto: Arquivo DeFato

Combinação perigosa 

A médica Janaína Couto

Nos municípios onde existem grandes jazidas de minério de ferro, com  lavras mecanizadas a céu aberto, é volumosa a emissão de material particulado para a atmosfera através de escavação, explosão, movimentação de escavadeiras, tratores e caminhões, perdas nos transportes terrestre e ferroviário, fugas nas plantas de beneficiamento e pela ação dos ventos nos depósitos a céu aberto.

Com a chegada da pandemia do novo coronavírus, a preocupação aumenta entre as cidades onde há grande quantidade de pacientes com doenças respiratórias. Esses fazem parte do grupo de maior risco para complicações potencialmente fatais diante da contaminação por Covid-19 por já possuírem os pulmões e todo o sistema respiratório fragilizado.

Pesquisas sobre surtos anteriores sugerem que o ar poluído torna os vírus mais perigosos e faz com que eles se espalhem mais. Um estudo realizado com as vítimas do Sars-Cov-1, o coronavírus que causou um surto em 2003, revelou que os pacientes tinham duas vezes mais riscos de morrer em regiões onde os níveis de poluição do ar eram mais altos. Mesmo em regiões com poluição moderada, o risco ainda era 84% maior. Se existir uma dinâmica semelhante para a covid-19, isso poderá aumentar a pressão em UTIs de hospitais de cidades com o ar mais comprometido.

“É difícil dizer qual é a predileção do vírus, o risco de complicação é para aqueles que já possuem o pulmão fragilizado. Itabira tem uma prevalência maior de pessoas com doenças respiratórias, por exemplo, considerando as condições climáticas e as características mineradoras da cidade, segundo a minha experiência de atendimento e consultório”, disse a médica.

Segundo Janaína, o novo coronavírus tem alto índice de contágio e está sendo transmitido no mesmo período em que doenças respiratórias estão em alta. Por apresentar sintomas semelhantes, um dos maiores desafios diante da pandemia é o diagnóstico. “É um momento de dúvida. O critério de definição é: tem sintomas de resfriado, trata-se como caso suspeito de coronavírus”, esclarece a médica.

Recomendações 

A médica aponta algumas recomendações que devem ser tomadas pelos pacientes. Um dos principais cuidados é com a automedicação. Para Janaína, mesmo que o paciente tenha alguma medicação habitual, é necessário que ele consulte um médico, já que a automedicação pode expor o paciente de forma desnecessária.

A médica ainda explica que o uso de nebulizadores e umidificadores de ar, usualmente presentes no cotidiano dos pacientes com doenças respiratórias, podem continuar sendo usados. No entanto, a orientação é para que o uso seja individual. A higienização do aparelho deve ser feita com água e sabão ou álcool 70%.

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