A trajetória do ser humano inicia antes do seu nascimento, pois na fase em que se planeja ter um filho, o casal já costuma fazer planos para o futuro da criança. E, nos meses de gestação, é comum perceber a ansiedade e expectativa dos pais sobre como será a vida dali pra frente, mesmo que o caminho seja outro no decorrer do tempo.
No nascimento do bebê, mesmo com toda a sensação de liberdade, a dependência em relação aos pais é nítida: a criança precisa de ajuda para se alimentar, trocar as fraldas e se locomover. Mas, durante a infância, já é possível identificar preferências, aptidões e sinais de independência.
Algo semelhante ocorre na carreira profissional. As pessoas geralmente começam a se preparar ainda na adolescência. E, nessa fase da vida, iniciam-se as reflexões sobre as profissões mais atraentes, mesmo com as crescentes dificuldades para a inserção no mercado de trabalho. Esse é o principal dilema de muitos aspirantes ao primeiro emprego.
“Pronto. Estou contratado, e agora?” Esse questionamento é uma inquietação para trabalhadores principiantes, já com cargos no mercado de trabalho. E os motivos para essa apreensão são claros: dependência e insegurança.
Por um lado, pode-se dizer que o funcionário é totalmente dependente da empresa, no início da sua carreira. Esse cenário tem uma explicação prática: ele ainda não adquiriu bagagem suficiente para se aventurar em outros rumos. O momento da aprendizagem exige muita dedicação.
Por outro lado, persiste a dúvida a respeito da escolha da profissão e a solidez do segmento empresarial, onde esse jovem se acha inserido. E, neste contexto, esses recém-formados engrossam as estatísticas da rotatividade, logo nesse primeiro contato com o primeiro emprego. Essa mudança repentina pode provocar uma sensação de insegurança.
Há, também, situações em que o novato decide seguir a direção que a gerência da instituição lhe reserva. Neste caso, trata-se do modelo de carreira tradicional, que se tornou popular a partir da década de 1950, quando os operários da indústria se projetavam em busca de segurança financeira, benefícios trabalhistas e até a aposentadoria. Naquela época, o sucesso estava relacionado à ascensão dentro da hierarquia da organização.
Então, é possível afirmar: o padrão tradicional relaciona-se a emprego, desenvolvimento e estabilidade, dentro das grandes corporações. Os modelos da atualidade, porém, estão mais associados à autogestão, pois permitem que o especialista seja responsável pelo seu desenvolvimento.
Assim acontece no modelo sem fronteiras. Neste formato de encarreiramento, as pessoas planejam o futuro a partir das próprias necessidades. Então, assumem os riscos, são mais aptas às mudanças e não se recuam diante da imposição de estruturação da própria carreira.
Nesta circunstância, as configurações modernas pressupõem que o progresso profissional pode ser construído, desconstruído e reconstruído, a partir da motivação, satisfação e comprometimento.
Mas é preciso lembrar o seguinte: os mais recentes modelos de carreira foram construídos em meio à escassez de empregos estáveis, bem remunerados e realidade financeira das organizações, além do declínio da ética, valores do trabalho, com intensa crise nos sistemas educacionais e encurtamento do horizonte profissional. Estas são algumas razões pelas quais as pessoas se redirecionam para o empreendedorismo.
Mesmo assim, diante do contexto econômico atual, o mercado de trabalho realça a necessidade de se repensar as oportunidades oferecidas e expectativas da força de trabalho.
E, para isso, é necessário observar se o plano de carreira da mão-de-obra disponível está sob os cuidados das grandes organizações, ou se o cenário atual sinaliza para a escalada de novos empreendedores, nos diversos segmentos de negócio.
Mas ainda não é possível saber se a transição de carreira (ou mudança de direção), no contexto de reestruturação do mercado de trabalho, representa ansiedade ou amadurecimento dos profissionais. Fato é que os sinais de independência podem significar também a necessidade de ajuda para troca das fraldas para quem já passou da adolescência.
Então, enquanto isso, dance conforme a música “Todos os Caminhos”, do cantor Lenine, pois “a vida passa e não há tempo para desperdiçar”.
Thiago Jacques é professor universitário na Funcesi, mestre em Administração, especialista em Gestão Empresarial e especializando em Marketing Digital
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