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Eleições 2022: tudo está no seu lugar!

Eleições

Foto: Ricardo Stucker/Instituto Lula e Isac Nóbrega/PR/Divulgação

A três meses da eleição para presidente da república, o processo eleitoral mais parece Minas Gerais: tudo está onde sempre esteve, conforme afiança uma prosa típica dos nativos dessa banda de Pindorama.

O atual cenário político guarda poucas semelhanças com a realidade de quatro anos atrás. Em 2020, a polarização ideológica (se é que isso existiu) se cristalizou ao longo da disputa eleitoral. A repulsa ao Partido dos Trabalhadores (PT) foi eficientemente capitalizada pelo ex-deputado Jair Bolsonaro – até então, um azarão dos corredores do baixo clero. Dois fatos imponderáveis facilitaram o triunfo do antigo capitão do Exército: o encarceramento do ex-presidente Lula da Silva e a facada desferida por Adélio Bispo – um sujeito pouco eclesiástico, mas muito psicopata. 

Então, a configuração da manjada luta da “encarnação” do bem (Bolsonaro e Cia) contra a representação do “mal” (Lula et caterva) foi se desenvolvendo durante a campanha. E, como na velha fábula, o “bem” derrotou o “mal”. Mas, atenção: o PT pariu e alimentou o mal. 

O mandato de Bolsonaro, porém, consolidou a polarização (agora, sim, nitidamente ideológica). E pouca coisa mudou nesse âmbito. Parte da ultrapassada elite tapuia – decepcionada com o petismo e desiludida com o bolsonarismo – se assanhou com a possiblidade de ascensão de um personagem da fictícia terceira via. Doce ilusão. Esse segmento empresarial – encavernado num labirinto da Avenida Brigadeiro Faria Lima – sempre imagina soluções rocambolescas para os eternos problemas nacionais. 

Mas, a tal terceira alternativa não passou de uma chuva de verão. Muitos raios e imensos vendavais antecederam uma leve garoa. A grande esperança de decolagem de um membro desse agrupamento foi a presença do “herói nacional” de araque: o ex-juiz Sergio Moro – um canastrão da Justiça, com carisma de marreco. 

E nada funcionou como desejado. Ciro Gomes empacou na casa dos 8%. João Doria é um fenômeno da antipatia: o ex-governador paulista teve um comportamento exemplar no combate à pandemia do novo Coronavírus, mas não conseguiu encantar o eleitorado. Esse fracasso deixa claro uma circunstância notável: “malas sem alças” nem sempre se dão bem na política. O ex-governador de São Paulo aprendeu essa dura lição do pragmático humor popular. 

Então, continua tudo como dantes no quartel de Abranches. A briga para a presidência da república ficará restrita a Bolsonaro e Lula. Os dois – segundo o último levantamento do instituto “Data Folha”- detêm 75% da preferência do eleitorado. Os 25% restantes estão diluídos entre os candidatos da fantasiosa terceira “qualquer coisa”, juntamente com indecisos, nulos e brancos. O panorama é de constante acirramento. 

Nesse cenário, os eleitores de Ciro Gomes terão um papel decisivo no desenlace do embate, principalmente num provável segundo turno. Digo segundo turno porque não há a mais remota possiblidade de desistência do pedetista, nesse momento. Os simpatizantes do ex-governador do Ceará conservam uma característica marcante: a maioria deles é nem-nem. Em outras palavras, nem gostam de Bolsonaro e nem apreciam Lula. Mas, na hora da onça beber água, esses nem-nem decidirão as eleições. É esperar e conferir.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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