As incertezas diante de possíveis demissões de trabalhadores da Anglo American e a nova reforma trabalhista, sancionada pelo presidente Michel Temer (MDB) no ano passado, foram foco de um encontro de sindicatos na manhã dessa sexta-feira, 13 de abril, no Sindicato Metabase, em Itabira.
Durante as conversas, o presidente do Metabase, Paulo Soares de Souza, externou sua preocupação com possíveis demissões em massa na mineradora Anglo American, em Conceição do Mato Dentro. Segundo ele, a empresa pode dispensar 500 funcionários após os 30 dias de férias coletivas, devido às operações terem sido suspensas após novo vazamento no mineroduto, em Santo Antônio do Grama. Desses, 150 seriam itabiranos. O temor é grande, já que a companhia, com mais de 1,5 mil trabalhadores diretos, acumula prejuízo bilionário com a paralisação de suas atividades no Minas-Rio. A previsão é de que a interrupção dure por 90 dias.
Paulo Soares comentou que recebeu um documento da Anglo American para dar início às discussões sobre o futuro dos trabalhadores na próxima terça-feira, 17, justamente quando tem início as férias coletivas de 30 dias. O Metabase está desde o dia 10 deste mês fazendo panfletagens e assembleias em Conceição do Mato Dentro “para conscientizar os trabalhadores da atual situação e demonstrar o nosso apoio a eles”, segundo o presidente.
Paulo demonstrou preocupação com o cenário e pontuou que medidas drásticas serão tomadas para que trabalhadores não percam seus empregos. Ele não descartou, até mesmo, comparecer ao conselho da multinacional, em Londres, na Europa, ou à África do Sul, onde fica a sede. “Não queremos demissões de ninguém e faremos as ações políticas que forem necessárias, como ocupação. Podemos ir aos pregões da empresa em Londres ou na sede. Temos uma série de ações a serem feitas, tanto no Brasil quanto fora do Brasil, para garantir o emprego dos trabalhadores”, esbravejou.
O encontro em Itabira teve representantes de sindicalistas de unidades do Metabase em Belo Horizonte Mariana Brumadinho e Carajás (PA) e outros grupos, como o Sindimina (RJ), Ferroviários de Vitória (ES), Ferroviários do Maranhão (MA) e até do Sindicato dos Taxistas de Conceição do Mato Dentro. Paulo explicou que os grupos sindicais foram acionados em solidariedade para ajudar nas ações a serem tomadas “para segurar o emprego dos trabalhadores de Conceição”.
Medidas após férias
Em entrevista exclusiva a DeFato Online, no escritório da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, no início deste mês, o diretor de Assuntos Corporativos da empresa no Brasil, Ivan Simões, falou sobre essa questão da empregabilidade. Ele afirmou que as demissões não estão no planejamento da mineradora, pelo menos por enquanto, e que a Anglo “vai fazer todas as medidas que estejam ao alcance para minimizar esse impacto no emprego na região”.
O diretor afirmou que Anglo American negociará com sindicatos e o Ministério do Trabalho e Emprego as medidas a serem adotadas no retorno dos funcionários. De acordo com ele, a empresa poderá antecipar manutenções e inspeções que aconteceriam mais tarde, dar treinamentos e eventualmente aproveitar a mão de obra em outras unidades da companhia, como na extração de níquel em Goiás e na sede administrativa.
“Estamos agora analisando todas as alternativas que temos para minimizar ao máximo essa parada no emprego e na economia da região”, afirmou o diretor Ivan Simões.
Encontro em Itabira
Os representantes de cada localidade fizeram colocações sobre o cenário vivido pelos trabalhadores, a luta de cada sindicato em busca dos direitos dos funcionários, como o direito à Participação nos Lucros e Resultados (PRL), reembolsos universitários, cartão-supermercado e assistência médica. João Batista Cavaglieri, do SindFer (ES), resumiu: “Não é bondade das empresas não, é muita luta, é muita determinação e união”.
Em nome do Sindicato Metabase de Carajás (PA), o presidente Raimundo Nonato Alves Amorim “Macarrão”, ressaltou a importância do encontro, afirmando que neste momento “estão sendo destruídos os direitos do trabalhador brasileiro”. Para o sindicalista, é pertinente se discutir o novo rumo do setor.
Um dos pontos mais importantes das discussões desta sexta-feira, para ele, foi a questão da jornada de trabalho de 12 horas nas minas e a reforma da Previdência. “Não concordamos com essas reformas que vieram, onde se está impondo uma jornada de trabalho de 12 horas para o trabalhador dentro da mina. O trabalhador não vai suportar o que está sendo colocado para ele. Nós estamos aqui unidos, para defender o trabalhador onde se estiver arrancando minério, trabalhando”, finalizou.
Após as discussões, o grupo seguiu para conhecer as minas de Itabira.