Emaranhado de cobra-verde é encontrado no Rio Grande do Sul
O fenômeno registrado é chamado cientificamente de agregação reprodutiva
Em 2021, no município de Santo Antônio da Patrulha (RS), Telmo Santos encontrou e registrou, um emaranhado de cobra-verde penduradas sob os galhos de um pé de mexerica. Curioso para saber qual era aquele fenômeno postou em uma rede social. A repercussão foi tanta que a revista Herpetological Review, especializada em artigos e notas sobre o estudo de anfíbios e répteis, publicou uma nota para explicar o ocorrido.
O fenômeno
O fenômeno que é chamado cientificamente de ‘agregação reprodutiva’ se dá porque as fêmeas secretam hormônios sexuais e, esporadicamente vários machos são atraídos ao mesmo tempo por uma fêmea só para tentar copular. A bióloga especialista em répteis, Karina Banci explica:
“As fêmeas secretam pela pele hormônios sexuais chamados feromônios. Por meio do olfato, os machos são atraídos até a fêmea, conseguindo, inclusive, seguir as trilhas de feromônios que as fêmeas vão deixando por onde passam. Eventualmente muitos machos são atraídos ao mesmo tempo por uma fêmea só, o que faz com que eles se agreguem em volta dela, tentando copular”.
A bióloga afirma que apenas um ou poucos machos conseguem efetivamente copular. “Isto acontece porque, ao terminar a cópula, o macho secreta uma substância gelatinosa, chamada ‘plug copulatório’, que acaba bloqueando a cloaca da fêmea por algumas horas ou poucos dias, tempo suficiente para os outros machos dispersarem. Dessa forma, garantem a paternidade – ainda que paternidade múltipla seja bem comum em serpentes”.
Serpentes encontradas
As cobras-verde (Philodryas olfersii) foram as serpentes encontradas e registradas por Telmo. A espécie é muito vista na América do Sul. “Apesar de não ser considerada peçonhenta, é uma serpente de interesse médico, pois há relatos de acidentes ofídicos com a espécie de gravidade baixa a moderada”, explica Karina.
Contribuição
Telmo não sabia que sua curiosidade iria trazer tantos benefícios para a ciência. Foi através das fotos publicadas por ele que cientistas puderam esclarecer o fenômeno.
“Muitos dos registros de história natural de serpentes são feitos a partir de fotos ou vídeos gravados por cidadãos comuns. Infelizmente nem sempre essas pessoas têm interesse ou acesso a um cientista que possa informá-la e orientá-la corretamente. Contudo, quando isso acontece, eventos interessantes e fundamentais para o estudo da fauna são realizados, como neste caso”, afirma Karina.