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Entenda como “invasão” do aço chinês afeta a indústria brasileira

aço

O alto-forno 2 da Usiminas, em Ipatinga. Empresa é uma das afetadas pelo cenário. Foto: Elvira Nascimento/Usiminas

Na última quarta-feira (24), sob os olhares do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), a Usiminas reiniciou as atividades do alto-forno 3, seu mais moderno equipamento. A reforma do espaço custou quase R$ 3 bilhões à empresa e promete aumentar, significativamente, o seu potencial de produção.

Porém, o momento que deveria ser apenas de alegria, também teve tons de preocupação. Nomes importantes da Usiminas, como o CEO Marcelo Chara, discursaram sobre a atual crise vivida pelo setor siderúrgico do Brasil, causada pela forte importação do aço chinês.

Vivendo um momento de desaceleração econômica há alguns anos, a China decidiu subsidiar as produtoras de aço locais (vitais para sua economia trilionária), que passaram a exportar o produto por preços muito baixos. O Brasil, por exemplo, se posiciona atualmente como o sétimo principal destino das exportações chinesas.

Executivos brasileiros classificam a prática como “predatória” e citam uma “concorrência desleal” do país asiático, que abriga seis das dez maiores produtoras de aço do planeta.

“Não vamos criar postos de trabalho e digo mais: estou preocupado com a possibilidade de que possamos perder outros postos de trabalho. Com essa concorrência você não consegue”, chegou a afirmar Marcelo Chara, na última quarta-feira.

Empresas como Usiminas, Aperam e Gerdau exigem do governo ações que combatam a invasão do aço chinês. E para entender esse impasse, conversamos com o especialista em contabilidade e ex-secretário da Fazenda em Itabira, Marcos Alvarenga. Ele também alerta sobre a necessidade de intervenção do Executivo Federal no cenário, que pode se tornar “perverso”, diz.

“A atividade brasileira é muito concentrada nos produtos básicos, e um deles é o aço. E à medida que esse aço chega aqui no mercado brasileiro inferior ao custo de produção, não há sustentabilidade para as usinas brasileiras. Então esse é um alerta que tem sido dado por várias empresas. Se não houver uma interferência do governo no controle desses preços dos produtos que estão chegando ao Brasil, isso vai afetar de forma significativa, até comprometendo a continuidade dessas atividades. Mas acredito que o governo federal vai agir nesse sentido, para não deixar matar mais uma indústria brasileira. O efeito disso é muito perverso”, detalha.

“Há muita concorrência, muita gritaria externa, principalmente na área do agro. Você vê a França barrando esse acordo da União Europeia com o Mercosul, dizendo que as condições brasileiras de fornecimento do agronegócio são muito mais favoráveis, o Brasil tem muito mais poder neste sentido. E aqui é o contrário. O Brasil é uma potência no agro, mas nas usinas do aço a China tem um poder muito grande. Então se o país não protege, realmente a indústria acaba”.

O ex-secretário da Fazenda, Marcos Alvarenga. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Aumento do imposto

Uma das demandas exigidas pelo setor brasileiro é o aumento da alíquota de importação no país, hoje em 9,6%. Em nações como Estados Unidos e México, os percentuais chegam a 25%. Segundo Marcos Alvarenga, a medida daria sustentação à indústria nacional.

“Um mecanismo do governo certamente será esse, taxar os produtos que estão chegando ao Brasil com preço inferior ao custo de produção. Se a indústria nacional está investindo, melhorando sua condição de produção e reduzindo seu custo, mas não consegue chegar ao custo subsidiado, é necessário taxar para equilibrar esses preços, dando sustentação à indústria nacional”, completa.

E às usinas? O que cabe fazer? Para o ex-secretário da Fazenda, o investimento da Usiminas em seu alto-forno 3 é um exemplo. Porém, ele volta a enfatizar a necessidade da intervenção estatal.

“A gente tem visto, por exemplo, o caso recente da Usiminas. O que fizeram lá foi um investimento muito alto na atualização das tecnologias dos alto-fornos, visando a redução de custos da produção e também a redução dos efeitos ambientais dessa indústria. São ações pontuais, mas não dá para concorrer com o poderio da China. Precisa do governo federal para controlar a entrada desses produtos no mercado brasileiro, elas (empresas) vão ficar limitadas a essas ações de modernização do parque industrial”.

Por fim, Marcos Alvarenga deixa um alerta. Embora o baixo preço do aço chinês traga alguns benefícios, é possível surgirem prejuízos, especialmente a longo prazo. Um deles a desindustrialização do país, o que seria uma ótima notícia para quem possui hegemonia no mercado, como a própria China.

“Quando você recebe o produto no preço menor, outros segmentos nacionais se beneficiam disso. Quem utiliza essa matéria prima, principalmente a indústria da construção, é beneficiado. Mas esse é um procedimento temporário. A China pode praticar o subsídio para esse produto chegar aqui, e depois que eliminar a indústria nacional, volta com o preço nas condições antigas… o objetivo muitas vezes é exatamente esse, eliminar a indústria e depois impor o preço conveniente ao país que tenha a supremacia nessa área”, finaliza.

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