Campeão da Libertadores e do Campeonato Mineiro, ambos em 2013, pelo Atlético-MG, Cuca está muito próximo de retornar ao clube. Vários veículos esportivos do país cravaram a informação nos últimos dias, e esta promete ser a segunda, e mais conturbada, passagem do treinador gaúcho pelo Galo.
Apesar do bom trabalho no Santos, seu último clube, que chegou até à final da Libertadores, Cuca conta com enorme rejeição da torcida por diversos motivos. Alguns contestam seus últimos trabalhos, outros demonstram mágoa com a forma com que ele saiu do Atlético em 2013 e um grupo considerável aponta um motivo ainda mais sério: a acusação de estupro contra o treinador em 1987.
À época, o ex-técnico de São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro atuava como jogador do Grêmio. Em uma excursão do clube gaúcho pela Suíça, Cuca e outros três atletas teriam recebido uma adolescentes de 13 ano no quarto e cometido o ato.
Segundo o jornalista Juca Kfouri, com informações baseadas em notícias da época, três dos jogadores agrediram sexualmente a vítima, enquanto outro observava tudo. Não se sabe qual foi o papel desempenhado por Cuca naquele momento, mas o fato é que ele foi acusado e considerado culpado pelo crime.
O caso gerou barulho, envolveu diplomacias, Cuca voltou ao Brasil no mesmo ano e o crime prescreveu em 2004, sem que o técnico cumprisse a sentença. Dezessete anos depois, em meio à feliz ascensão de discussões sobre este e outros temas importantes, a situação tem sido relembrada constantemente.
O que mais incomoda nesta e outras situações é a contradição dos clubes, sem me restringir apenas ao Atlético-MG. A cada data importante, ou um caso emblemático, algumas das camisas mais importantes do futebol brasileiro realizam campanhas contra temas como o feminicídio, a agressão contra a mulher e o abuso sexual, mas suas ações não compactuam com o que é pregado.
Outro exemplo: Robinho, considerado culpado em uma acusação de estupro na Itália, chegou a ser anunciado pelo Santos. A má repercussão e a pressão dos patrocinadores, no entanto, fez o Peixe voltar atrás e interromper a relação.
Nestes casos, me vejo obrigado a ser radical: você não pode promover ações contra o estupro e contratar um acusado pelo mesmo crime. Não existe porém. Ou você defende uma causa ou a utiliza apenas para marketing.
A diretoria do Atlético-MG parece disposta a comprar esta briga com a torcida e deve anunciar Cuca o mais rápido possível. E por conta de todo esse cenário, o treinador irá desembarcar em BH com um prazo de validade curtíssimo. Não dava para ser diferente.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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