A arte de escrever é um ofício que envolve autoconhecimento e que se apresenta como suporte na gestão das emoções. Pode ser definida como descrição das impressões da vida, do mundo, de um sonho… mas depende muito da individualidade e da realidade de cada pessoa.
Escrever é um primor capaz de construir histórias, gerar reflexões e formar indivíduos críticos e criativos. No enredo de hoje, uma jovem que, ainda criança, deixou-se encantar pelas palavras, estrofes e pelos detalhes da escrita. E hoje, como diria o escritor francês Baudelaire: “enivrez-vous”, embriagou-se dessa arte com tanta destreza, que no presente busca transladar às pessoas, a mesma magia que um dia a fisgou.
O livro “A Pequena Nuvem de Magalhães” – que estreou nesta sexta-feira (5) – apesar da linguagem jovem e atual, pode ser facilmente adequado a diferentes gostos. Com uma trama instigante, a obra de autoria da cocaiense Maria Clara Lacerda expõe, de forma apetecível, os mistérios que circundam o herói da aventura: “Nico Panine”.
“O Nico tem transtorno de ansiedade, então um dos mecanismos de defesa dele é não se deixar levar pelas emoções negativas, na tentativa de evitar as crises. No livro, por exemplo, ele quase nunca fica triste quando deveria ficar. Ele transforma tristeza em irritação e geralmente xinga uns palavrões ou quebra alguma coisa ao invés de sentar e chorar. Existe um famoso arremesso de guitarra na trama, por exemplo. É tragicômico”, revelou a autora.
Um dos princípios individualizadores de “A Pequena Nuvem de Magalhães” é o seu não aprisionamento aos estereótipos. Ordinariamente, trabalhos com personagens homossexuais se apegam ao “ridículo”, ao cômico e, às vezes, até a enredos vazios, em que o figurão é submetido a discussões fúteis. No entanto, em sua obra, Maria Clara Lacerda buscou trabalhar a homoafetividade como pano de fundo, conforme ela mesma alegou.
“Há um romance com o qual todos podem, facilmente, se identificar. A história não mudaria em nada, se fosse vivenciada por um casal hétero”.
Com uma malha devidamente amarrada e fartas alusões à esfera artística, passando por música, teatro e outros traquejos pessoais da escritora, o livro desponta de um anseio antigo de Maria.
“Ambientar uma história dentro do cenário artístico, sobretudo musical, é algo que sempre fez muito sentido para mim, por ser algo que gosto. Amo! E acho que, também, tem muito a ver com a minha relação com a cultura emo. Um estilo que eu consumia muito. Mas confesso que não foi algo pensado, eu não fiquei pesquisando. Simplesmente deixei os personagens brotarem na minha mente. Eles vieram, me deram um ‘oi’ e assim criamos nosso vínculo”, contou.
Maria Clara Lacerda: Escritora
Indubitavelmente, Maria é uma escritora talentosa, algo que, segundo ela, os pais sempre reconheceram. Contudo, levou um tempo até que a escritora resolvesse arriscar e se lançar. “É algo que eu sempre quis, eu sempre gostei, mas eu nunca consegui acreditar que fosse possível. O mercado editorial é algo muito pouco incentivado no país. Nas escolas eu só estudava os clássicos e quando surgia algum escritor jovem, não era nacional, então até o começo de 2020 eu não me via escrevendo para o mundo. Mas, aos poucos, eu fui conhecendo melhor o setor editorial no Brasil e pensei, por que não?”, pontuou.
Fruto do amor de Levindo Costa e Rita Lacerda, Maria Clara Lacerda é uma autora que se descobriu apaixonada pela escrita ainda na fase puerícia de sua vida. Em suas menções, recorda uma garota que, quando nova, odiava ser castigada, pois a sua mãe sempre lhe corrigia confiscando o seu acessório favorito: o caderno.
“Meus pais são perfeitos! A minha chega a ser engraçada, pois ela enxerga qualidade em tudo que escrevo. Às vezes escrevo uma bobeirinha, mas ela já acha a coisa mais linda do mundo. O meu pai não gosta muito de ler, mas ele sempre me incentiva e diz se sentir orgulhoso”, emocionou.
A Pequena Nuvem de Magalhães
Quando Nico Panine decidiu investigar, por conta própria, os segredos por trás do assassinato do pai, ele não esperava que justamente Ulisses Bragantino se mostrasse disposto a ajudá-lo. Os dois já não se falavam há anos, desde a briga que tirara Nico da banda em que tocavam juntos e os transformara em inimigos públicos declarados.
Apesar de ainda desconfortáveis com a presença um do outro, os dois pegam a estrada atrás da única pista que têm: uma menina interiorana, sem nome e de olhos coloridos que alega saber mais do que qualquer um sobre as antigas inimizades do defunto e os gatilhos para o crime.
Ao alcançar o destino, Nico é confrontado com revelações sobre si mesmo e sobre a própria família que jamais esperaria descobrir e, embora ameaças de morte, segredos antigos e encontros violentos não sejam nada simples de encarar, a presença de Ulisses e as lembranças que ele traz parecem ser igualmente difíceis de enfrentar.
O livro
As primeiras 12 paginas do livro A Pequena Nuvem de Magalhães, da Maria Clara Lacerda, podem ser conferidos no site oficial da obra.