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Esse ano não teve festa

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Estamos finalizando o primeiro semestre do ano, e com toda a certeza ninguém imaginava que ele seria da forma como ocorreu. Foram meses que nos fizeram mudar hábitos, sair de nossa zona de conforto e até mesmo repensar quais são as nossas zonas de conforto. Meses depois do início da pandemia, há gente que ainda opta por estar em casa, e há outros que não o fazem por opção própria ou porque têm que trabalhar. Mesmo em diferentes grupos, há um aspecto em comum: até então não podemos nos aglomerar para celebrar datas comemorativas.

Importantes datas em que as pessoas costumavam se reunir passaram de forma diferente. A páscoa, quando as famílias se reuniam para curtir um dia juntos e fazer troca de chocolates; o dia das mães, data que normalmente é passada em família; e as festas juninas (as minhas preferidas), que nos promovem bons momentos e comidas típicas tão gostosas, este ano não ocorreram. Além disso, temos aniversários, formaturas de universidades, casamentos, celebrações de bodas… muitas datas comemorativas foram afetadas por tudo que aconteceu.

A gente sempre cria expectativa para estes dias, não é? Se for uma data celebrada todo ano, como a páscoa, geralmente há uma tradição, como sempre reunir aquelas pessoas especiais para fazer um almoço, presentear alguém, entre tantas outras possibilidades. Se o dia só acontecerá uma vez, como uma formatura ou casamento, existe também a expectativa que seja um dia único e especial, que ele seja inesquecível.

Importante dar-se um tempo para que estas expectativas caiam, e isso nem sempre acontece de forma rápida. Festas que estavam sendo planejadas há meses do nada são canceladas. A vontade de rever alguém que não se vê há anos, de realizar aquela viagem tão esperada escorre pelo ralo. E é válido sentir-se mal por isso.

Vejo casos de pessoas que resolveram “se entregar” ao fato de que esses dias não seriam como imaginaram e optaram apenas por sofrer por isso. Mas acompanhei muitas celebrações feitas de maneira diferente, de pessoas que se reinventaram em meio a dificuldades de se encontrar presencialmente, que realizaram, por exemplo, festas virtuais ou organizaram uma carreata na rua de quem estava festejando. Às vezes temos que dizer o óbvio: isso não é para sempre, vai passar. Como tento trazer nos meus textos, apesar das dificuldades, há sempre possibilidade de invenção.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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