O esporte preferido de “determinados” estadunidenses é o tiro ao presidente. É lamentável, incrível. Com efeito, a nação mais poderosa diz muito sobre esse “asteroide” onde ocasionalmente vivemos. Faz sentido. A Terra vai se transformando num péssimo lugar para se morar. Os americanos se gabam de ser a “maior democracia do sistema solar”. Mas, por outro lado, é a sociedade mais perversa do universo.
Depois da independência das 13 colônias (em 1776), 46 atores ocuparam a presidência da República. Desses, quatro foram assassinados. E pior. A maioria dos delitos aconteceu em breve espaço de tempo. Essa é a sequência tétrica. Abraham Lincoln (1865), James A Garfield (1881), William McKinley (1901) e John Kennedy (1963). Mais três ex-presidentes escaparam da morte por um triz. Em 1933, um franco atirador disparou cinco vezes contra Franklin Delano Roosevelt, mas não acertou o alvo. Em setembro de 1975, Gerald Ford se safou de duas tentativas. Ronald Reagan foi baleado seis vezes, em 1981. Ironicamente, o antigo astro de filmes de bang bang estava há apenas 60 dias no cargo. Um projétil atravessou a axila do “caubói” e se alojou no pulmão. O republicano passou 12 dias num hospital, em estado grave.
E tem mais sangue nesse cenário. Em 1968, cinco anos depois do seu irmão John, o senador Robert Kennedy foi fatalmente alvejado durante campanha presidencial, em 6 de junho, na cidade de Los Angeles, Califórnia. Aquele foi um ano especialmente trágico para os norte-americanos. Três meses antes, em 4 de abril, o pastor e ativista Martin Luther King Jr. foi executado, em Memphis, no Tennessee.
Mas, por que a política do Estados Unidos é tão agressiva? Uma circunstância talvez explique as razões concretas desse persistente caos social: a tóxica mistura de polarização com a livre disseminação de armas de fogo. A pátria de Tio Sam registra a maior quantidade de revólveres e similares nas mãos de civis, em todo o planeta. As consequências dessa tolerância na segurança pública são claras. Segundo um levantamento de 2023, a taxa de homicídio por lá é de 15 pessoas para cada 100 mil habitantes. Uma paisagem devastadora. Veja em que ponto essa situação desagua. O EUA tem a maior população carcerária do mundo com 2,2 milhões de prisioneiros, seguido da China com 1,7 milhão. O Brasil fecha o sinistro pódio com 715, 6 mil encarcerados.
Mas, depois da descrição dessa tragédia americana, convém abandonar o complexo de vira-lata. E com razão. A Terra de Santa Cruz apresenta baixo índice de violência histórica contra políticos. A atual polarização ideológica, porém, preocupa.
P.S.1: A desistência de Joe Biden foi o triunfo do óbvio ululante. Resta ao Partido Democrata juntar os cacos. Michelle Obama teria maior potencial para derrotar Donald Trump. A decisão de participar do pleito, porém, é exclusivamente dela. A vice-presidente Kamala Harris não tem tanta competividade, mas consegue encarar a demolidora retórica de Trump. Os próximos capítulos prometem intensas emoções. Sem tiros, please!!!
P.S.2: No próximo domingo (28), o eleitorado da Venezuela terá clara oportunidade de se livrar de Nicolás Maduro, o caricato mandatário típico de republiquetas de bananas. O candidato da oposição apresenta uma dianteira bastante consistente nos últimos levantamentos de opinião. Uma pesquisa do Centro de Estudos Políticos e Governamentais da Universidade Católica Andrés Bello aponta os seguintes percentuais: Edmundo Gonçález 59,1%, Nicolas Maduro: 24,6%. Como se vê, Nicolás tem tudo para cair de maduro, mas é preciso muito cuidado com a rapinagem eleitoral. É bom ficar de olho também na integridade física de Maria Corina Machado, a líder oposicionista- que foi impedida de participar da disputa, devido decisão (estapafúrdia) da Controladoria-Geral do país. Enquanto isso, a diplomacia brasileira encontra-se mais silenciosa que túmulo de indigente.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.