Manifestações antirracistas eclodiram durante o fim de semana na cidade americana de Akron, em Ohio, EUA, após a polícia divulgar o vídeo de uma operação policial que resultou na morte de Jayland Walker, um jovem negro de 25 anos morto com cerca de 60 disparos na semana passada.
O vídeo, divulgado no domingo (3), foi descrito pelo chefe da polícia de Akron, Stephen Mylett, como “chocante” e “difícil de assistir”. As imagens, gravadas por câmeras nos uniformes dos policiais, mostram vários agentes se aproximando do carro de Jayland Walker, gritando e com armas em punho. O jovem sai do carro pela porta do passageiro e corre em direção a um estacionamento, em uma perseguição a pé que dura cerca de dez segundos, até começarem os disparos.
A polícia afirmou que, antes das imagens divulgadas, agentes tentaram parar o carro de Walker após uma infração de trânsito. Ele teria se negado a parar e, passado um minuto de perseguição, um tiro teria sido ouvido, o que mudou a natureza do caso, de acordo com Myllet “de uma parada de trânsito de rotina para uma questão de segurança pública”.
Jayland Walker não tinha passagem pela polícia, mas um revólver carregado foi encontrado no banco do carro – e, mais tarde, uma cápsula de tiro compatível com a arma foi retirada da área onde os policiais acreditam ter ouvido um tiro vindo do veículo.
Um dos advogados da família Walker, Bobby DiCello, declarou ao The Washington Post no fim de semana que oito policiais dispararam mais de 90 tiros contra o jovem, com mais de 60 atingindo-o. “Foi absolutamente excessivo”, disse o advogado durante uma entrevista coletiva após a divulgação do vídeo.
DiCello observou também que as imagens após o tiroteio não foram mostradas na apresentação. Ele disse que os tiros continuaram depois que Walker estava no chão.
“A maneira como a lei exigia, de fato, a maneira como todos nós somos obrigados, a olhar para isso é através dos olhos de um policial razoável enquanto está acontecendo”, disse DiCello. “Eu lhe pergunto, enquanto ele está fugindo, o que é razoável? Para matá-lo? Não, isso não é razoável.”
Oito policiais envolvidos no tiroteio foram colocados em licença remunerada até o resultado das investigações do Departamento de Investigação Criminal de Ohio e do Escritório de Padrões e Responsabilidade Profissionais da Polícia de Akron. Dos oito policiais que dispararam, sete eram brancos e um negro. Nenhum deles havia recebido ação disciplinar ou queixas fundamentadas, e este foi o primeiro tiro fatal disparado por cada um.
Antes da divulgação das imagens, moradores de Akron se juntaram à família de Jayland para cobrar uma investigação do caso – a terceira morte envolvendo um tiroteio com a polícia na cidade desde dezembro.
No domingo, o prefeito democrata Daniel Horrigan pediu aos moradores de Akron – que se juntaram a família Walker para cobrar responsabilizações pela morte de Jayland — que fossem pacientes e aguardassem a conclusão das investigações. Horrigan também cancelou um festival comemorativo ao 4 de julho. “Sinto fortemente que este não é o momento para uma celebração”.
Após um dia de manifestações majoritariamente pacíficas, um manifestante começou a derrubar barreiras do lado de fora da sede da polícia na noite de domingo, informou o WKYC. Oficiais vestidos com equipamento antimotim responderam disparando gás lacrimogêneo contra os manifestantes, informou a estação.
Por volta do mesmo horário, repórteres no local disseram que uma lixeira estava queimando na rua. A polícia com equipamento antimotim disparou gás lacrimogêneo contra a multidão, informaram os jornalistas. Fotos e vídeos nas redes sociais mostraram cerca de 20 manifestantes – a maioria se dispersou por volta da meia-noite.
Mais de 1.040 pessoas foram mortas a tiros pela polícia no ano passado nos EUA, de acordo com dados do The Washington Post. Metade dessas pessoas eram brancas, mas negros representam menos de 13% da população americana, o que resulta em uma taxa mais de duas vezes superior ao número de mortos pela polícia em comparação a pessoas brancas.