Até o último dia de maio de 2024, foram registrados 1 mil acidentes envolvendo bicicleta só em Minas Gerais.
Os dados são do Observatório de Segurança Pública do estado. Quatorze resultaram em morte dos usuários. Somente em Belo Horizonte foram registrados 50 acidentes, com as avenidas Cristiano Machado, Otacílio Negrão de Lima e Tereza Cristina liderando a triste estatística. No Dia Mundial da Bicicleta, celebrado nesta segunda-feira (3), a reportagem do Estado de Minas entrevistou praticantes do esporte sobre as dificuldades que eles enfrentam nas ruas e rodovias do estado.
Renato Ferreira, treinador esportivo e ex- atleta da modalidade por oito anos, abandonou a pratica devido a insegurança no trânsito.
Segundo Renato, os acidentes envolvendo seus colegas de ciclismo eram parte da rotina, ora divertida, ora angustiante, que o fez se “sentir sem lugar nas vias públicas”.
“Presenciei muitos acidentes acontecendo, é algo comum. Tanto por uma simples queda quanto por carros jogando ciclistas no chão e causando ferimentos. Muitos atletas são assaltados em trilhas de mountain bike, por exemplo. As bicicletas hoje são muito caras, é um risco. Eu não ficava confortável num ambiente com carros em alta velocidade, e os motoristas não estão acostumados com ciclistas. É uma questão de educação mesmo”, desabafa.
Elaine Silveira, triatleta e psicóloga, revela temores idênticos aos de Renato, além do receio de pedalar sozinha, por ser mulher.
“Já me senti por muitas vezes desmotivada, porque a gente fica escolhendo lugar para pedalar e cada vez que você fica sabendo de um assalto, de um assédio ou de um acidente, a gente fica temerosa de sair, especialmente sendo mulher”.
Elaine se sente mais confortável em pedalar por volta das 5h da manhã, quando há menor fluxo de carros.
Na quinta-feira (30), em Delfinópolis, Sul de Minas, a campeã paulista de ciclismo de estrada de 2021, Laís Mendes Soares (43), morreu vítima de uma colisão frontal com um automóvel em estrada vicinal, sendo a terceira morte neste mês em estradas mineiras.
No último domingo (2), um adolescente de 14 anos morreu atropelado por ônibus em Sabará, na Grande BH.
Apesar dos números alarmantes, os acidentes demonstram queda em 2024, 3,6% em relação a 2023.
Especialistas explicam que, de fato, não existe queda, mas sim uma migração dos praticantes da modalidade para outros meios. “Há um desestímulo e falta de percepção de segurança dessas pessoas”, explica o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra.
Dados do Observatório de Segurança Pública de Minas indicam que a principal causa dos acidentes é a ‘falta de atenção’. “Esse indicador é sobre todos os integrantes do sistema de trânsito. A população está mais vulnerável em relação à saúde mental e psicológica nesse período pós-pandemia, o que causa déficits de atenção ao dirigir. A ansiedade faz com que haja bloqueio visual e auditivo, por exemplo. O Código de Trânsito Brasileiro deixa a desejar quanto às questões relacionadas à saúde mental. Há uma clara mudança no perfil psicossocial de todos os integrantes do trânsito, a população está mais depressiva, distraída, ansiosa e egoísta”, finaliza.
A faixa etária de ciclistas que mais se envolvem em acidentes de trânsito é de 18 a 29 anos.